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Aspectos criativos e evolutivos da inveja do clitóris

Perspectiva-se, neste artigo, a inveja do clitóris, e a subcompensação narcísica que a caracteriza, como estando na base da tendência histórica do maior poder criativo do homem, em oposição à mulher, na criação de obras significativas, considerando-se, também, a subcompensação narcísica do homem como estando na base e origem da psique humana.

Comece-se por ter em conta o meu artigo A inveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas     ( Resende, 2010 ), onde se perspectiva que a inveja do clitóris é mais típica no homem, e se caracteriza por uma subcompensação narcísica, por uma tentativa de diminuição narcísica, derivada do sentimento de superioridade narcísica advindo da comparação pénis-clitóris. A tentativa de diminuição narcísica, mais típica no homem, terá uma crucial importância evolutiva no sentido do estabelecimento e manutenção de relações amorosas e sexuais, em particular, entre homens e mulheres. Estas, como perspectivado no artigo acima referido, caracterizar-se-ão, sobretudo, pela inveja do pénis, com tentativas de sobrecompensação falo-narcísicas correspondentes, baseadas em raiva narcísica, que surgirá do sentimento de perda falo-narcísica do pénis, que é reforçado pela menstruação, que introduz aspectos depressivos de perda já concretizada, não estando, portanto, apenas ao nível da ameaça.

Já quanto à tendência histórica do maior poder criativo do homem, em oposição à mulher, e em particular com o surgimento de génios, considere-se um exemplo de uma biografia cinéfila do artista Miguel Ângelo. Ora, nessa biografia, e relativamente à escultura, Miguel Ângelo é tido como considerando que a obra já está feita à partida, sendo tarefa do artista, escultor, tirar o que está a mais. Isto, imaginando-se um grande bloco de mármore, no qual a obra de escultura já lá está feita, tendo o artista que tirar o que está a mais. Este exemplo é paradigmático das características subcompensatórias do maior poder criativo do homem. Poder-se-à generalizar esta base subcompensatória para as várias áreas do conhecimento.

Relativamente à subcompensação narcísica do homem como base e origem da psique humana, considere-se a expressão bíblica " No princípio era o Verbo ". Como se sabe, e desde Freud, psicanaliticamente considera-se que Deus não é mais do que um pai exacerbado. Ou seja, a ideia religiosa de Deus é uma criação humana baseada na exacerbação das características paternas. Agora, perspective-se a noção psicanalítica de que são as ideias de parentalidade e parentais da mãe e do pai, relativamente ao filho, que estão na base da concepção do filho. Em particular, desejo genuinamente parental de ter um filho. Em relação a este desejo genuíno entra a tomada de iniciativa, efectiva, realço, na aproximação amorosa e sexual entre mulher e homem. Ora, tradicionalmente e tendencialmente esta tomada de iniciativa efectiva é feita pelo homem e não pela mulher. Enquadre-se esta iniciativa masculina no meu artigo Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações comportamentais e psicológicas ( Resende, 2008 ), onde se conclui que as características masturbatórias femininas do dia-a-dia têm como consequência a diminuição da tomada de iniciativa efectiva na aproximação amorosa e sexual, particularmente esta última. Tem-se, então, que para surgir o filho terá que haver primeiro esta aproximação sexual entre homem e mulher e tenderá a ser o homem a ter a iniciativa. Assim, a expressão bíblica " No princípio era o Verbo " dirá respeito, sobretudo, à tomada de iniciativa verbal por parte do homem em relação à mulher, para uma aproximação sexual, em que posteriormente surgirá o filho.

Quanto às características tendenciais e evolutivas desta tomada de iniciativa, atente-se aos meus artigos Psemes: para além dos genes e dos memes ( Resende, 2010 ), Psemes: Evolução por Selecção Psicológica ( Resende, 2010 ) e Evolução por Selecção Psicológica Lamarckiana ( Resende, 2010 ). Resumidamente, os psemes são unidades psicológicas de transmissão intergeracional, que se constituem enquanto complexos inconscientes, e que evoluirão de geração para geração de forma Lamarckiana, ou seja, as suas características poderão ser alteradas durante a vida de um indivíduo, acontecendo que essas alterações adquiridas também poderão ser transmitidas às gerações seguintes. Tenha-se a noção, então, de que a tendência evolutiva daquela tomada de iniciativa verbal referida é como que sintetizada no pai e na mãe, do filho em consideração. Perspective-se, ainda, neste contexto, a influência verbal do pai para a criança, ainda no útero da mãe, em que biblicamente se resumiu " No princípio era o Verbo ". Entra, aqui, em consideração, a noção das características introjectivas do início e primeiras fases do desenvolvimento psíquico humano, em que o bebé no útero introjecta, tendo em conta a transmissão psemética, as tendências evolutivas de maior poder criador e criativo do homem, pelas tendências históricas desse poder, que baseará as características subcompensatórias do homem, na comparação com a falta de poder histórica da mulher. Resumidamente, reconheça-se nestas características introjectivas as propriedades subcompensatórias, que basearão posteriormente, e narcisicamente, as tendências psíquicas para a inveja do clitóris.

Como acabado de desenvolver, tem-se uma caracterização introjectiva do início e primeiras fases do desenvolvimento psíquico humano. Ora, isso corrobora as modificações que introduzi às posições esquizo-paranóide e depressiva de Melanie Klein, em A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein ( Resende, 2010 ). Aí, ao invés de considerar, como Klein, características projectivas na posição esquizo-paranóide e características introjectivas na posição depressiva, introduzo a noção da caracterização introjectiva da posição esquizo-paranóide e da caracterização projectiva da posição depressiva.

Assim, tem-se, desde a vida intra-uterina até à posição esquizo-paranóide uma caracterização predominantemente introjectiva, só surgindo, depois, as propriedades projectivas da posição depressiva.

Finalizando, atente-se à conhecida expressão: " Deus quer, o homem sonha, a obra nasce! ". Com base neste artigo, faz-se a tradução: o homem toma a iniciativa verbal, cria subcompensatoriamente, e a obra nasce!

Bibliografia

Resende, S. ( 2008 ). Masturbação feminina no dia-a-dia: suas implicações comportamentais e psicológicas in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 12/11/2008

Resende, S. ( 2010 ). Psemes: para além dos genes e dos memes in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 27/05/2010

Resende, S. ( 2010 ). Psemes: Evolução por Selecção Psicológica in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 01/09/2010

Resende, S. ( 2010 ). Evolução por Selecção Psicológica Lamarckiana in www.redpsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 29/09/2010

Resende, S. ( 2010 ). Ainveja do pénis e a inveja do clitóris e suas implicações políticas in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 15/10/2010

Resende, S. ( 2010 ). A posição castrativa como complemento das posições modificadas de Melanie Klein in www.redepsi.com.br, em secção Artigos/Teorias e Sistemas no Campo Psi em 08/11/2010

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