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Burnout em Estudantes de Psicologia de uma Faculdade particular no interior da Bahia

INTRODUÇÃO

Há evidências sugestivas, observadas através da prática e corroboradas por estudos já realizados, que uma parcela significativa da população de estudantes da área da saúde seja um grupo de risco em relação a transtornos emocionais decorrentes de exigências, tanto internas quanto externas, no início das atividades práticas, apresentando assim uma maior vulnerabilidade psicológica (Carlotto, Nakamura & Câmara, 2006).

Pode-se observar entre os mesmos, características de personalidade, como dependência, pessimismo, passividade, insegurança e sentimentos de inferioridade. Em relação a estratégias de enfrentamento, comumente encontram-se as utilizações da formação reativa; reações hipocondríacas e auto-agressão, invariavelmente mais freqüentes no início do estágio (Martins, 1996). As características de passividade e auto-agressão podem conduzir a uma qualidade de vida mais empobrecida, levando conseqüentemente a um baixo desempenho. Simultaneamente, verifica-se a presença de intensos sentimentos de dependência em relação aos professores-supervisores.

Os especialistas acreditam que o principal hormônio envolvido no fenômeno do sono é a melatonina, produzido no cérebro pela glândula pineal. Durante o sono profundo, as proteínas são sintetizadas em grande escala. O objetivo é manter ou expandir as redes de neurônios ligados à memória e ao aprendizado.

A sonolência diurna e o sono insuficiente à noite podem ser um dos piores problemas de saúde. A insônia pode ser prejudicial ao trabalho, ao aprendizado e outras atividades. (Souza 1995).

A insônia pode afetar seriamente a qualidade de vida das pessoas. Com o tempo, o individuo sente-se física e mentalmente esgotado. O nível de estresse aumenta e prejuízos são contabilizados em suas relações profissionais, acadêmicas, familiares e sociais. Neste momento, há uma espécie de esgotamento emocional, físico e psíquico relacionados à atividade e ao desempenho profissional, de acordo com Leite (2006).

Diante do exposto, realizaremos o presente trabalho investigativo, norteados pela questão: Há indícios da Síndrome de Burnout junto a estudantes do curso de Psicologia da determinada faculdade no interior da Bahia?

Burnout em Estudantes de Psicologia de uma Faculdade particular no interior da Bahia

1-Madeira,Carlos

2-Bispo,Catiane

 3-Dantas,Dayana

4-Bulhosa,Tatiana


RESUMO

Este artigo tem por objetivo refletir sobre a qualidade de vida de estudantes do curso de psicologia de uma faculdade particular no interior da Bahia. Considerou-se o impacto da síndrome de Burnout na saúde física e mental dos estudantes. As reflexões destinam-se aos alunos e professores/supervisores, no sentido de promover uma reflexão e um olhar mais atento sobre o assunto, combatendo ou controlando o estresse excessivo, no intuito de proporcionar a esses estudantes uma maior qualidade de vida acadêmica neste período de prática/aprendizagem na área de formação escolhida.

Palavras-Chave: Qualidade de vida, Estudantes de Psicologia, Síndrome de Burnout.


INTRODUÇÃO

Há evidências sugestivas, observadas através da prática e corroboradas por estudos já realizados, que uma parcela significativa da população de estudantes da área da saúde seja um grupo de risco em relação a transtornos emocionais decorrentes de exigências, tanto internas quanto externas, no início das atividades práticas, apresentando assim uma maior vulnerabilidade psicológica (Carlotto, Nakamura & Câmara, 2006).

Pode-se observar entre os mesmos, características de personalidade, como dependência, pessimismo, passividade, insegurança e sentimentos de inferioridade. Em relação a estratégias de enfrentamento, comumente encontram-se as utilizações da formação reativa; reações hipocondríacas e auto-agressão, invariavelmente mais freqüentes no início do estágio (Martins, 1996). As características de passividade e auto-agressão podem conduzir a uma qualidade de vida mais empobrecida, levando conseqüentemente a um baixo desempenho. Simultaneamente, verifica-se a presença de intensos sentimentos de dependência em relação aos professores-supervisores.

Os especialistas acreditam que o principal hormônio envolvido no fenômeno do sono é a melatonina, produzido no cérebro pela glândula pineal. Durante o sono profundo, as proteínas são sintetizadas em grande escala. O objetivo é manter ou expandir as redes de neurônios ligados à memória e ao aprendizado.

A sonolência diurna e o sono insuficiente à noite podem ser um dos piores problemas de saúde. A insônia pode ser prejudicial ao trabalho, ao aprendizado e outras atividades. (Souza 1995).

A insônia pode afetar seriamente a qualidade de vida das pessoas. Com o tempo, o individuo sente-se física e mentalmente esgotado. O nível de estresse aumenta e prejuízos são contabilizados em suas relações profissionais, acadêmicas, familiares e sociais. Neste momento, há uma espécie de esgotamento emocional, físico e psíquico relacionados à atividade e ao desempenho profissional, de acordo com Leite (2006).

Diante do exposto, realizaremos o presente trabalho investigativo, norteados pela questão: Há indícios da Síndrome de Burnout junto a estudantes do curso de Psicologia da determinada faculdade no interior da Bahia?

METODOLOGIA

Através de pesquisa exploratória e bibliográfica, os autores do presente artigo em conversas informais com os estudantes do curso de Psicologia da faculdade particular no interior da Bahia, obtiveram indícios de Síndrome de Burnout que serviram de eixo norteador do presente trabalho.  

REFERENCIAL TEÓRICO

QUALIDADE DE VIDA/ STRESS

            O stress físico, psicológico ou social compreende um conjunto de reações e estímulos que causam distúrbios no equilíbrio, homeostase, do organismo, com conseqüências prejudiciais.   O stress pode ser conceituado como o estudo de tensão de um organismo submetido a qualquer tipo de agressão caracterizado como agente estressor, segundo Mello Filho (1992).

Diante de tudo aquilo que ameace a vida, o organismo apresenta um conjunto de reações chamado de síndrome geral de adaptação que possui três fases sucessivas: alarme, resistência e esgotamento (Burnout). Após a fase de esgotamento surgem as doenças, também chamadas doenças de adaptação, conforme descreve Mello Filho (1992).

Como cada ser é diferente do outro, as respostas diante de desafios existenciais também são diferentes. Assim, há individualização nas respostas ao stress que varia de acordo com a personalidade de cada um, e o uso de estratégias defensivas diante de situações desorganizadoras. Estes mecanismos de enfrentamento são chamados de coping ou sistema de adaptação de enfrentamento, caracterizado como cada um avalia e lida com situações tidas como ameaçadoras. (Folkman, S., & Lazarus, R. S. 1980).

Segundo Mello Filho (1992), o ritmo de vida com altos níveis de stress tem sido considerado como fonte poderosa de doenças, principalmente as cardiovasculares. Pode-se monitorar a reação ao estresse em três níveis diferenciados: por sintomas físicos (dor muscular, problemas gastrintestinais, fadiga, cefaléia, tremores e agitação); sintomas psicológicos (ansiedade, dificuldade de concentração, problemas de memória, dificuldades de controle da fome, tristeza) e mudanças de comportamento (uso intenso de bebida alcoólica, comida e drogas; distúrbios no sono, tensão, inabilidade para relaxar, isolamento social, acessos de raiva, descuido pessoal) (Schaufeli, Martinez, Pinto, Salanova & Bakker, 2002). Kraft (2006, pp.66) faz a oportuna observação: "cada um tem de encontrar seu próprio mecanismo de compensação do stress".

O SISTEMA LÍMBICO E O SISTEMA IMUNOLÓGICO

O sistema límbico é o responsável pelo centro regulador do funcionamento víscero-emocional.

A amígdala juntamente com o sistema hipotalâmico é responsável pela avaliação de perigo e aciona o mecanismo de luta ou fuga ou fenômeno Fight  X Flight.

Segundo Mello Filho (1992), indivíduos submetidos a stress exacerbado (Burnout) comprometem o sistema imunológico que é o sistema responsável pela defesa do organismo.

O organismo, submetido a níveis altos de neurotransmissores como dopamina e norepinefrina, juntamente com o fator liberador do hormônio corticotrofina (CRH) e outros hormônios que organizam a resposta ao stress, sente dificuldade de adaptação frente a constantes contatos com agentes estressores ou estrógenos agindo nos músculos, coração e pulmões levando o corpo à luta ou fuga, relata Kraft (2006).

Estudos realizados por Linn (Linn, 1984; apud Mello Filho, 1992) em indivíduos deprimidos, concluiu que o sistema imunológico estava comprometido em seu potencial, com redução significativa das células NK (Natural Killers) que destroem organismos invasivos. Estes indivíduos apresentavam graus importantes de depressão avaliados por uma escala ,Hopkins Symptom Checklist.

Segundo Kraft (2006), nenhum órgão humano escapa das marcas dos agentes do stress. Por isso, um sistema hormonal em permanente atividade deflagra inúmeros males.

Em suma, o sistema imunológico responde diante de fenômenos psicossociais que funcionem como agentes estressores conduzindo ao esgotamento físico e psicológico (Burnout) no indivíduo e está relacionado diretamente a doenças auto-imunes, infecciosas e até mesmo com as enfermidades diagnosticadas como alérgicas.

SÍNDROME DE BURNOUT EM ESTUDANTES

Numa perspectiva psicossocial, o estresse é definido como uma relação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais está submetido, que é avaliada como uma ameaça ou algo que exige mais que suas próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo seu bem-estar (França & Rodrigues, 1997).

Todo o trabalho possui agentes potencialmente estressores, podendo os mesmos ser enquadrados em seis grandes categorias: os fatores intrínsecos ao trabalho, que seriam as condições de salubridade; jornada de trabalho; ritmo; riscos potenciais a saúde; sobrecarga de trabalho; introdução de novas tecnologias. Por último, a natureza e conteúdo do trabalho; os fatores procedentes do papel do indivíduo na organização, ou seja, a presença de ambigüidades e expectativas externas sobre comportamentos individuais bem como o grau de responsabilidade sobre outras pessoas; os fatores procedentes do relacionamento interpessoal com superiores, colegas e subordinados; os fatores relacionados com a carreira e a satisfação pessoal obtida a partir da realização de expectativas de crescimento do indivíduo; a estrutura e o clima da organização como fatores estressores  com presença de ameaças potenciais a integridade do indivíduo, sua autonomia, participação e identidade pessoal e profissional; fontes de estresse referentes a interface casa X trabalho, que seriam os aspectos relacionais do estresse ocupacional e eventos sociais fora do trabalho (Peiró,1997).

A intensificação da sintomatologia própria do estresse leva ao "burnout" (Kyriacou & Sutcliffe, 1978), que é uma resposta inadequada frente a estressores interpessoais crônicos. Os traços principais são: esgotamento físico e/ou psicológico, uma atitude fria e despersonalizada em relação às pessoas e um sentimento de inadequação com relação às tarefas a serem realizadas. O surgimento de burnout é bastante comum em profissionais da área da saúde devido à relação constante e direta que estabelece com os pacientes e equipes de trabalho (Maslach,1976 ).

O termo Burnout se refere à `queima total` (inglês, burn out) sugerindo que o individuo encontra-se em uma condição que ultrapassa os limites que caracterizam o estresse e então sente-se consumido física e emocionalmente, comprometendo gravemente sua qualidade de vida.

Segundo Kraft (2006, pp. 60), a enfermidade recebeu o nome de Burnout graças ao psicanalista nova-iorquino Herbert J. Freudenberger que a nomeou no início dos anos 70. O seu descobridor constatou em si mesmo que sua atividade profissional, que tanto prazer lhe dera no passado, deixava-o agora cansado e frustrado.

De acordo com Leite (2006), as manifestações físicas são muito comuns e podem desencadear graves doenças se não tratadas a tempo. Não é raro alguns somatizarem a angústia, desencadeando quadros de enxaqueca, gastrite, problemas cardíacos e, inclusive câncer.  

Segundo Rudnicki e Carlotto (Cushway, 1992, apud Rudnicki e Carlotto, 2007), a Síndrome de Burnout pode encontrar-se na fase acadêmica, na fase preparatória, e prosseguir durante toda a vida profissional. Para os autores a Síndrome de Burnout, em estudantes se constitui de três dimensões: Exaustão Emocional, caracterizada pelo sentimento de estar exausto em virtude das exigências do estudo; a Descrença, entendida como o desenvolvimento de uma atitude cínica e distanciada com relação ao estudo; e Ineficácia Profissional, caracterizada pela percepção de estarem sendo incompetentes como estudantes, (Apud Martinez, Pinto & Silva, 2000).

Detectar precocemente o estresse em estudantes pode constituir um indicador de possíveis dificuldades, tanto em nível de êxito escolar como profissional, possibilitando intervenções preventivas que podem ser relevantes para educadores, estudantes e futuros empregadores e clientes (Balogun, Helgemoe, Pellegrino & Hoeberlein, 1995, Matos e Souza & Carneiro Menezes, 2005).

O estudante, na posição de aprendiz, também necessita de tempo para poder controlar suas reações e, indiretamente, seus sentimentos relacionados a situações de estágio como um evento em si, bem como entender e aceitar suas dificuldades.  O local onde realiza a prática, como contrapartida deve atentar para esse período de adaptação vendo o aluno como aprendiz e não como pré-profissional que vai atender demandas reprimidas de atendimentos (Dutra, 2002).

Diante do exposto, entende-se que o professor/supervisor deve auxiliar o estudante no processo de aprendizagem, através da adoção de uma postura que transmita confiança, incentivando a auto-confiança do mesmo, potencializando seu senso de responsabilidade e ajudando-o a dar conta dos desafios inerentes à vida acadêmica, promovendo assim a possibilidade de ajustamento psicológico.

Sugere-se para tal, como método de trabalho, a implantação de Grupos Reflexivos, possíveis de serem realizados a partir de uma prática sistematizada em trabalho de grupo. É uma atividade que tem como objetivo maior, refletir e indagar sobre o que está acontecendo com o grupo, naquele momento ou circunstância, podendo então, realizar a reflexão sobre os movimentos e tensões que ocorrem no grupo. (Meneghetti & Gomes, 2002; Chiaradia, Bonato, Bernardino, 2005).

AS FASES DO ESGOTAMENTO

A síndrome de Burnout não ocorre da noite para o dia: como muitas outras enfermidades, ela se desenvolve lentamente, atravessando um longo período. Como o indivíduo não observa os sinais de alarme que seu corpo lhe envia, em um determinado momento, ele irá sentir-se como que sugado. Sem energia o corpo pára e agora só resta ao indivíduo rever toda sua trajetória de vida.

Segundo Kraft (2006), o pesquisador Herbert Freudenberger, pioneiro no estudo da doença, e sua colega Gail North dividiram o esgotamento em 12 estágios: Necessidade de se afirmar; Dedicação Intensificada; Descaso com as próprias necessidades; Recalque de conflitos; Reinterpretação dos valores; Cinismo e agressão tornam-se evidentes; Recolhimento; Mudanças evidentes de comportamento; Despersonalização; Vazio Interior; Depressão; Síndrome do esgotamento profissional. Não necessariamente, a pessoa passará por todas como uma seqüência, muitas pessoas acometidas da síndrome saltam uma fase ou outra. A duração de cada etapa também varia de pessoa para pessoa.

Leite (2006, pp.69) sugere uma série de comportamentos preventivos em relação à Síndrome de Burnout:

  1. Identifique os agentes estressores;
  1. Preencha seu tempo livre com atividades que relaxem como prática de Yoga e/ou meditação;
  1. Passe mais tempo com a família e amigos;
  1. Dedique algum tempo a trabalhos voluntários. Ajudando outrem, o individuo desloca o foco dos próprios problemas;

Kraft (2006, pp. 67) faz o seguinte alerta: "quem deseja vencer a síndrome de burnout deve aprender que outras coisas, além do sucesso profissional, dão satisfação".

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando há excesso de intensidade ou de duração do stress que pode ser caracterizado como síndrome de burnout, pode surgir alguma doença, mostrando ao indivíduo uma adaptação inadequada ou insuficiente diante de agentes estressores.

Conviver com estresse é um desafio inevitável. Sabe-se que as pessoas precisam de um nível mínimo de estresse para melhoria de aprendizagem e da própria qualidade de vida, melhorando a motivação, criatividade e as atividades rotineiras. Todavia, deve-se observar um certo limiar, pois, além deste ponto a vida do indivíduo pode tornar-se auto-destrutiva com sérios danos à saúde mental e física. Através deste trabalho pretendemos incentivar a ampliação desta investigação junto aos estudantes do Curso de Psicologia da determinada faculdade particular no interior da Bahia, num momento em que esta faculdade e diversos setores da sociedade buscam uma melhora da qualidade de vida do ser humano, visando seu bem-estar bio-psico-social e espiritual.

REFERÊNCIAS

Revista da SBPH, volume 10, no 1. In: Formação de estudantes da área de saúde: reflexões sobre a prática de estágio, por Tania Rudnicki e Mary Sandra Carlotto. Rio de Janeiro, junho 2007.

Souza de, José Carlos Rosa. Qualidade de Vida e Insônia em Estudantes de Psicologia da UCDB, 1995.

MELLO FILHO, Júlio de. Psicossomática Hoje. Editora Artes Médicas: Porto Alegre-RS, 1992.

Revista Ciência &Vida Psique, ano 1, no 11, PP. 68-69. In: Completa Exaustão: Síndrome de Burnout leva indivíduos a consumirem física e emocionalmente, por Luiz Gonzaga Leite. Ano 2006.

Revista Mente e Cérebro, ano XIV, no 161, PP. 60-67. In: Esgotamento Total, por Ulrich Kraft. Junho de 2006.

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