RedePsi - Psicologia

Notícias

O que leva o adolescente a utilizar maconha?

Recente artigo desenvolvido pelos profissionais Tânia Moraes Ramos Andrade e Sérgio de Paula Ramos investigou, com base em revisão sistemática de diversos artigos empíricos e de revisão com amostras de adolescentes, os fatores associados ao início do uso de maconha, apontando também para os aspectos relevantes a tais fatores.
Os autores apresentam primeiramente dados sobre o consumo de drogas psicotrópicas, apontando que 22,6% dos estudantes brasileiros da rede estadual de ensino fizeram uso de drogas e 5,9% se utilizaram da cannabis. Dado importante observado pontua que estudantes que fazem uso de substancias psicoativas apresentam maior defasagem escolar quando comparados a alunos que não fazem o uso.

Apresenta-se que a idade média de iniciação do uso do álcool e de tabaco pelos adolescentes é menor que a idade do inicio do uso da maconha e outras drogas, e verifica-se também o aumento linear na idade da experimentação de acordo com cada substância.

Com a revisão dos artigos estudados e de seus respectivos resultados, os autores verificaram que os principais fatores associados ao uso da maconha na adolescência são a idade precoce de experimentação de álcool e tabaco, prejuízo na relação parental, baixo controle do self, amigos usuários, atitudes que favorecem o consumo e comportamento agressivo.

Apesar da evidência do uso de maconha na adolescência, os autores apontam que é reduzido o número de estudos que investigam os fatores relacionados ao uso da mesma.

Em relação as variáveis individuais, os autores apresentam que os resultados do estudos reforçam a ideia de que jovens informais, despreocupados e com baixa integração de ego, que possuem condutas antissociais, que apresentam atitudes favoráveis ao uso de drogas lícitas e previsão futura do uso de drogas ilícitas estão fortemente associados ao uso da cannabis; No que tange as variáveis familiares, os autores verificaram que o baixo envolvimento parental e o aumento da disciplina coersiva na escola primário são associados ao risco de exposição de maconha na adolescência e no jovem adulto.

O status marital materno também foi alvo de investigação, sendo que a mudança marital da mãe ocorrida entre 5 e 14 anos esteve associada significativamente ao aumento do risco do uso de maconha; Ressalta-se que não é o status marital somente que influencia crianças e adolescentes, mas sim a experiência da extensão do impacto de tal mudança. Aponta-se também que o uso materno da substancia ilícita e o nível de consumo de álcool está diretamente associado ao uso tardio de cannabis, segundo revisão dos estudos.

Os autores apontam que os fatores preditores do uso da maconha aparecem durante a pré-adolescência, adolescência tardia e no adulto jovem, identificando assim que o uso precoce de maconha na puberdade e pré-adolescência é fator preditor para o uso regular de tal substancia na adolescência tardia.

Os autores apontam ainda que o uso de drogas lícitas aumenta significativamente a associação com as ilícitas e, em escala de progressão das substancias psicoativas há um crescente de iniciação, onde primeiramente vem o tabaco, o álcool, a maconha e outras substancias ilícitas, sendo que o uso precoce de substâncias é fator preditor para iniciação da droga subsequente e tal uso está associado a anterior utilização do tabaco e álcool nas faixas de 12 a 14 anos.
No que tange ao gênero, o gênero masculino é preditor da incidência do uso e abuso de cannabis (apesar do aumento de incidência de consumo entre meninas com menos de 21 anos de idade e consumidoras), fato este associado pela maior oportunidade e disponibilidade da droga, tendo mais acesso a mesma; Percebeu-se também que o grupo tem forte influencia na adolescência, visto a pressão do grupo e atitudes favoráveis ao uso de substancias psicoativas, favorecendo portanto o inicio de uso da maconha.

Apesar de apenas um dos estudos revisados apresentar a relação da variável religiosa, os resultados do mesmo são significativos, evidenciando que a prática religiosa tem inversa associação com o uso precoce de tabaco e cannabis; Aponta-se também que jovens sem afiliação religiosa tem duas ou três vezes mais chances de consumir a maconha quando comparados aos jovens possuidores de práticas religiosas, apesar de tal comportamento não influenciar na decisão de consumir a droga.

Concluindo, os autores apontam que deve-se encontrar o equilíbrio do comportamento com um fator protetor (deficiente supervisão parental, o fator protetor adequado é o monitoramento parental, por exemplo; Ou ainda, abuso de substância tendo como fator protetor a competência acadêmica).

Os autores finalizam que os fatores associados ao uso da maconha são: ser do gênero masculino, consumir tabaco e álcool em idade precoce, ter relação problemática com um dos pais, consumo de substâncias pelos pais, consumo de cannabis pelos pares e rede social desfavorável. Os autores apontam também que o uso precoce aumenta a chance de desenvolvimento de transtorno de uso de substâncias psicoativas, sendo que a progressão de uso e a escalada para outras substancias irão interferir efetivamente no desenvolvimento do adolescente, trazendo graves consequências individuais, sociais, afetivas e ambientais, tornando-se portanto necessário o cuidado com o consumo de álcool e tabaco, no sentido que tais substancias são preditoras do uso da maconha; A conscientização por parte da sociedade na prevenção do uso de tais substancias pode interferir no uso de cannabis e drogas subsequentes, estimulando portanto a criação de políticas públicas em relação ao uso de drogas licitas para a diminuição das ilícitas; Os autores apontam também que o monitoramento parental precoce na fase da puberdade aumentaria a chance do adolescente não se utilizar precocemente da maconha.

ANDRADE, Tânia Moraes Ramos; RAMOS, Sérgio de Paula. Fatores de proteção e de risco associados ao início do uso de cannabis: revisão sistemática. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. (Ed. port.),  Ribeirão Preto,  v. 7,  n. 2, ago.  2011 .   Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-69762011000200008&lng=pt&nrm=iso. acessos em  20  jun.  2012.

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter