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Transtorno Dissociativo de Identidade Definição e Sintomas

O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), anteriormente conhecido como Transtorno de Personalidade Múltipla, é um transtorno psicológico complexo e intrigante que tem sido objeto de estudo por décadas. Este transtorno é caracterizado pela presença de duas ou mais identidades distintas que controlam o comportamento de uma pessoa em diferentes momentos. Cada identidade pode ter seu próprio nome, histórico, comportamento, gênero e até mesmo maneira de falar. O TDI é uma condição dissociativa severa e uma das mais controversas na psiquiatria devido à sua natureza misteriosa e multifacetada.

A dissociação, o processo central no TDI, refere-se a uma desconexão entre pensamentos, memórias, sentimentos, ações ou senso de identidade. A dissociação pode variar de episódios leves, como “perder-se” em um livro ou filme, a formas mais graves, como a incapacidade de recordar informações pessoais importantes, o que é central no TDI. Pacientes com TDI geralmente relatam sentir-se como se fossem observadores do próprio corpo ou mente, como se vivessem em um sonho, um fenômeno frequentemente descrito como despersonalização. Além disso, eles podem experimentar amnésia dissociativa, que se refere à incapacidade de recordar grandes períodos de tempo, especialmente em momentos em que outra identidade estava no controle.

A dissociação é muitas vezes uma resposta a traumas severos, particularmente durante a infância. Muitos pacientes com TDI relatam ter sofrido abusos físicos, sexuais ou emocionais intensos durante a infância. O abuso infantil prolongado é frequentemente visto como um fator-chave na formação do transtorno, pois a dissociação pode ser um mecanismo de defesa que ajuda a criança a se distanciar de experiências intoleráveis. Nesse sentido, o TDI é uma maneira de lidar com o trauma. A mente cria personalidades alternativas para suportar a dor, o medo e a angústia causados pelas circunstâncias traumáticas.

Os sintomas do TDI podem variar significativamente entre os indivíduos, o que muitas vezes dificulta o diagnóstico. No entanto, os sintomas mais comuns incluem a presença de múltiplas identidades, perda de memória ou lacunas temporais e uma sensação de distanciamento da realidade. Cada identidade ou “alter” pode assumir o controle do comportamento da pessoa, e, muitas vezes, o indivíduo não tem consciência dessas mudanças. Quando uma identidade “sai de cena”, o indivíduo pode não se lembrar do que ocorreu enquanto a outra identidade estava no controle, o que pode causar sérias dificuldades no dia a dia, como problemas no trabalho, nos relacionamentos ou na vida social.

Outro aspecto importante do TDI é o fato de que as identidades alternativas podem ter características extremamente distintas umas das outras. Por exemplo, uma identidade pode ser de uma criança, enquanto outra pode ser de um adulto, ou uma identidade pode ser de um gênero diferente do gênero biológico da pessoa. Cada identidade tem seu próprio padrão de comportamento, suas próprias memórias e formas de interagir com o mundo. Isso pode gerar confusão para quem convive com alguém com TDI, pois a pessoa parece “mudar” completamente de uma hora para outra, o que pode ser perturbador.

A amnésia dissociativa é outro sintoma importante no TDI. Essa perda de memória não está relacionada a lesões cerebrais, envelhecimento ou condições neurológicas, mas sim a uma separação psicológica das memórias. Frequentemente, o indivíduo não consegue se lembrar de eventos traumáticos ou de períodos de tempo em que outra identidade estava no controle. Essa perda de memória pode variar de minutos a horas ou até dias, criando grandes lacunas na história de vida da pessoa. Essas lacunas temporais podem interferir nas atividades cotidianas, como ir ao trabalho, cuidar da casa ou manter relacionamentos pessoais.

Além dos sintomas mais conhecidos, muitas pessoas com TDI também apresentam outros problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, distúrbios do sono, ataques de pânico, fobias e tendências suicidas. Esses problemas podem agravar a situação do paciente e dificultar ainda mais o diagnóstico e o tratamento. Em alguns casos, o TDI pode ser confundido com outros transtornos, como transtorno bipolar ou esquizofrenia, o que pode atrasar o diagnóstico adequado.

O tratamento do Transtorno Dissociativo de Identidade é um processo longo e complexo, que geralmente envolve psicoterapia intensiva. A terapia pode ajudar o paciente a integrar as várias identidades em uma só, ou, em casos onde isso não é possível, a terapia pode ajudar o paciente a aprender a conviver com suas identidades de forma mais harmoniosa. O objetivo é que o indivíduo possa ter uma vida funcional, sem as interrupções constantes causadas pelas mudanças de identidade.

A hipnose terapêutica também é uma técnica utilizada em alguns casos para acessar memórias reprimidas e trabalhar traumas profundos. No entanto, o uso da hipnose no tratamento de TDI é controverso, já que pode, em alguns casos, criar memórias falsas ou piorar a dissociação. A abordagem terapêutica deve ser cuidadosamente planejada e executada por profissionais com experiência no tratamento de transtornos dissociativos.

Além da terapia, o apoio de amigos e familiares é crucial para os pacientes com TDI. Conviver com alguém com esse transtorno pode ser desafiador, e é importante que os entes queridos sejam educados sobre a condição e estejam preparados para lidar com as mudanças repentinas de comportamento. Grupos de apoio, tanto para pacientes quanto para familiares, podem ser uma fonte valiosa de suporte emocional e informações.

Infelizmente, o TDI ainda carrega um estigma considerável. Mitos sobre o transtorno, frequentemente perpetuados por representações sensacionalistas em filmes e na mídia, muitas vezes retratam os pacientes como perigosos ou imprevisíveis, o que não corresponde à realidade da maioria dos casos. Pacientes com TDI são, em sua maioria, pessoas que sofreram traumas significativos e estão buscando maneiras de lidar com os efeitos psicológicos desses traumas.

A compreensão sobre o TDI tem evoluído ao longo dos anos, mas ainda há muito a ser descoberto sobre a condição. Embora o diagnóstico tenha se tornado mais comum nos últimos anos, muitos profissionais de saúde mental ainda têm dificuldades para identificar o transtorno devido à sua complexidade e às muitas formas que ele pode assumir. Além disso, o TDI é frequentemente mal compreendido ou confundido com outros transtornos dissociativos, como a despersonalização ou a amnésia dissociativa.

O diagnóstico de TDI é feito por meio de uma avaliação clínica detalhada. É comum que o paciente passe por várias consultas antes de receber o diagnóstico correto, pois os sintomas podem se sobrepor a outras condições psiquiátricas. A história do paciente, incluindo experiências traumáticas, desempenha um papel central na avaliação. A dissociação deve ser avaliada com base nos relatos de lacunas de memória, mudanças de identidade e outros sintomas relacionados.

Por fim, é importante destacar que o Transtorno Dissociativo de Identidade é uma condição grave, mas tratável. O reconhecimento precoce dos sintomas e o acesso a um tratamento adequado são fundamentais para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Com a terapia certa e o apoio adequado, muitos indivíduos com TDI conseguem levar uma vida funcional e produtiva. O progresso na área de pesquisa sobre o TDI está constantemente avançando, e com isso, as perspectivas para os pacientes continuam a melhorar.

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