O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um tema que suscita muitas questões, reflexões e, infelizmente, uma abundância de desinformação. Por ser um espectro complexo, com variações significativas de uma pessoa para outra, ele muitas vezes é mal compreendido. Essas lacunas de conhecimento frequentemente levam à disseminação de mitos, que podem prejudicar tanto as pessoas autistas quanto suas famílias, criando estigmas e barreiras sociais. Este artigo tem como objetivo desmistificar algumas dessas concepções errôneas, oferecendo informações fundamentadas para promover a inclusão e o respeito.
Um dos principais equívocos sobre o autismo é a ideia de que é uma doença. Na verdade, o TEA é uma condição neurodesenvolvimental, e não uma enfermidade que precise de cura. Pessoas autistas não estão “doentes”; elas possuem um modo de funcionamento cerebral diferente, que influencia como percebem o mundo, processam informações e interagem com outras pessoas. Compreender essa diferença é fundamental para substituir o capacitismo pela empatia.
Outro mito recorrente é que todas as pessoas autistas são geniais ou têm habilidades savant, como memória excepcional ou talento musical extraordinário. Embora algumas pessoas autistas apresentem habilidades acima da média em áreas específicas, a realidade é que o espectro é vasto e inclui uma diversidade de perfis. Algumas pessoas podem ter deficiências intelectuais associadas, enquanto outras possuem inteligência média ou superior. Reduzir o TEA a estereótipos pode obscurecer as necessidades individuais e o potencial único de cada pessoa.
Outro equívoco común envolve a comunicação. Muitas vezes, presume-se que pessoas autistas não conseguem estabelecer laços emocionais ou sociais, o que é completamente falso. Embora algumas pessoas no espectro possam encontrar desafios na interpretação de pistas sociais ou preferirem modos de interação diferentes, isso não significa que sejam incapazes de formar relações significativas ou expressar empatia. Na verdade, muitas pessoas autistas possuem laços fortes com amigos e familiares e demonstram grande lealdade e carinho em suas relações.
Um ponto importante é a ideia de que as vacinas causam autismo, um mito que continua a circular, apesar de ser amplamente refutado por estudos científicos robustos. A origem dessa falsa crença remonta a um estudo fraudulento publicado em 1998, que foi posteriormente desmascarado e retratado. Contudo, os danos causados por essa desinformação ainda são sentidos, com impactos negativos tanto na saúde pública quanto na percepção do TEA. A ciência é clara: não há qualquer relação entre vacinas e autismo.
A escolarização de crianças autistas também é alvo de muitos mal-entendidos. Algumas pessoas acreditam que escolas regulares não são capazes de atender às necessidades de alunos no espectro. No entanto, a educação inclusiva é um direito garantido e essencial para o desenvolvimento dessas crianças. Com adaptações pedagógicas adequadas e uma equipe escolar capacitada, a inclusão pode beneficiar não apenas os alunos autistas, mas toda a comunidade escolar, promovendo diversidade e compreensão mútua.
Outro mito que merece atenção é a ideia de que o autismo é causado por más crianças ou por crianças sem limites. Esse pensamento equivocado ignora a base neurobiológica do TEA e perpetua o estigma. O autismo é uma condição inata, cujas causas incluem fatores genéticos e ambientais complexos, e não o resultado de “falta de disciplina” ou “educação inadequada”.
A falta de compreensão sobre o TEA também leva a preconceitos relacionados ao trabalho. Muitas empresas ainda acreditam que pessoas autistas não podem desempenhar funções no mercado de trabalho, o que não poderia estar mais longe da verdade. Com adaptações razoáveis e um ambiente inclusivo, muitas pessoas no espectro conseguem se destacar em suas áreas de atuação, trazendo criatividade, foco e dedicação ao que fazem.
Por fim, é essencial abordar o impacto que a desinformação tem sobre as próprias pessoas autistas. O preconceito e a falta de informação podem levar ao isolamento social, ao bullying e a um acesso limitado a serviços essenciais. Desmistificar o autismo não é apenas uma questão de educação, mas também de justiça social. Quando substituímos mitos por fatos e abraçamos a diversidade, criamos um mundo mais justo e acolhedor para todos.