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Repressão qualificada

Enquanto clientes são barrados em portas giratórias de bancos por causa de celulares, por que tal aparelho, que chega a ser considerado mais perigoso do que uma arma de fogo por facilitar a comunicação entre líderes de facções criminosas, é tão comum nos presídios do país?
Enquanto clientes são barrados em portas giratórias de bancos por causa de celulares, por que tal aparelho, que chega a ser considerado mais perigoso do que uma arma de fogo por facilitar a comunicação entre líderes de facções criminosas, é tão comum nos presídios do país?
O assunto foi levantado pelo grupo de trabalho “Violência, criminalidade e cidadania”, nesta terça-feira (18/7), em Florianópolis, na 58ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Composto por mais de 60 especialistas de diferentes universidades, o grupo foi criado para discutir temas prioritários em segurança pública.

Para os participantes, a falta de tecnologias que restrinjam a comunicação entre detentos, um arcabouço jurídico complexo e excessivo e institutos públicos que não dialogam entre si são alguns dos fatores que podem explicar a onda de violência registrada nos últimos meses, principalmente no Estado de São Paulo.

“O problema começa com a falta de argumentos para explicar a entrada de celulares nos presídios. É claro que há interesses múltiplos e conflitos enormes, mas precisamos cobrar do governo medidas emergenciais que aumentem a articulação entre poder judiciário e sociedade civil”, disse a socióloga Ingrid Sarti, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretora da SBPC.

O grupo de trabalho apresentou uma agenda com desafios estratégicos que deverá ser encaminhada ao governo federal. O documento sugere o aumento na participação das mulheres nas atividades operacionais da polícia, a revisão da estrutura hierárquica e dos códigos de conduta dos agentes de segurança pública, o aumento de salários dos policiais e a criação de mecanismos alternativos de cumprimento penal.

Para os autores, a repressão qualificada ao crime organizado, que tem como característica a forte infiltração de seus representantes na administração pública e na classe política, é um dos itens mais urgentes a serem cobrados do governo.

“Uma das propostas é a implementação de programas de educação continuada em que profissionais de segurança pública possam ter cursos de inteligência criminal. Isso deve ser feito em parceria com as universidades”, disse o desembargador Umberto Guaspari Sudbrack, que foi juiz criminal durante 20 anos.

“O Rio Grande do Sul é um excelente exemplo nesse sentido. Em todo o estado, profissionais das mais diferentes áreas, em especial das ciências sociais, ministram cursos que têm qualificado tanto a polícia como os agentes penitenciários”, disse.

O desembargador chamou a atenção para o fato de o Brasil ainda não ter um relatório anual da criminalidade, que deveria ser formulado pelo Ministério da Justiça. “Essa também é uma proposta crucial. Muitos países europeus que adotaram esse mapa anual conseguiram controlar os índices criminais por meio da integração entre os dados estaduais e federais”, disse Sudbrack.

Para José Vicente Tavares dos Santos, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o documento apresentado em Florianópolis tem o objetivo de propor a criação de novas formas de gestão nas instituições de segurança pública, o que envolve a valorização da produção científica interdisciplinar voltada para a análise das soluções e o planejamento das ações.

“Consideramos fundamental que a razão crítica dos mais variados campos do conhecimento, como física, química, biologia, sociologia, antropologia e estatística, seja utilizada para a redução dos crimes contra a vida”, ressaltou Santos, também presidente da Associação Latino-Americana de Sociologia.

Fonte: [url=http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=5799]www.agencia.fapesp.br[/url]

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