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Não registrar crimes contribui para a criminalidade

Falta de confiança nas autoridades, atendimento deficiente e ausência de incentivo ao registro estão entre os fatores responsáveis por não haver um conhecimento real da quantidade de crimes ocorridos no Brasil.
Falta de confiança nas autoridades, atendimento deficiente e ausência de incentivo ao registro estão entre os fatores responsáveis por não haver um conhecimento real da quantidade de crimes ocorridos no Brasil.
As altas taxas de crimes não registrados (fenômeno conhecido como sub-registro) e a deficiência na alocação de recursos para segurança pública são os grandes responsáveis pelo aumento da criminalidade no País. “Em casos de roubo, por exemplo, cerca de dois terços não são registrados, dificultando o trabalho da Polícia”, conta o economista Marcelo Justus dos Santos, que analisou a influência dos aspectos econômicos no comportamento criminoso.

Para Santos, a criminalidade pode ser vista como um mercado de trabalho igual a outros, mas ilegal. “No Brasil, o custo de ir para esse mundo é muito baixo. Ao comparar o retorno financeiro obtido na atividade legal e na ilegal, a última acaba compensando. Além disso, em comparação ao número total de crimes cometidos, a quantidade de pessoas que são capturadas, julgadas e condenadas é pequena”.

O economista utilizou dados de um estudo de 2002, feito em conjunto pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP e Instituto Latino Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinqüente (ILANUD). A pesquisa, sobre vitimização, foi aplicada nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Recife, e atua como um censo, perguntando às pessoas se elas já foram vítimas de um crime ou não. “Os dados revelam a criminalidade real, pois indicam quem passou pelo problema, se houve registro ou não e o porquê” explica.

De acordo com o economista, o sub-registro implica maiores chances de sucesso para o crime, pois é menor a probabilidade de um criminoso ser identificado, capturado, condenado e levado a cumprir pena. “Entre outros fatores, isso é um reflexo do descrédito da população em relação às autoridades. A dificuldade de registro e a ineficiência da polícia desestimulam as pessoas. Porém, quem não registra está, na verdade, incentivando a criminalidade”.

Segundo o pesquisador, o mercado de trabalho aquecido, em que as pessoas desempregadas não têm muita dificuldade em encontrar uma ocupação, diminui a criminalidade. “Quanto menos tempo ficar sem emprego, menor será a tendência de a pessoa ver o crime como alternativa”, explica Santos. “O comércio de drogas também influencia, pois além de gerar conflitos entre facções, depende de violência e corrupção para se manter”. Para o economista, a desigualdade de renda é outro fator importante, por confrontar duas parcelas diferentes da população.

Outra variável é a instabilidade familiar. Famílias com apenas um dos pais têm sua estabilidade comprometida. Com os filhos sozinhos em casa, estes têm maior predisposição de ir para a criminalidade. “Além disso, em muitas destas famílias as crianças têm que trabalhar. O trabalho infantil afeta a renda futura destes jovens, que podem se sentir mais motivados a entrar para o crime” conta o economista.

A conscientização da população para registrar crimes de qualquer perda, violentos ou não, é fundamental para melhorar a situação da criminalidade no Brasil. O incentivo e a facilidade de registro, com melhores condições e atendimento nas delegacias, sem perguntas constrangedoras e com informações após o registro, também são possíveis soluções apontadas pelo economista. “Com isso, a pessoa vai se sentir mais segura mesmo se o caso não for resolvido”.

Segundo Santos, é importante salientar que o registro é diferente da denúncia. “O registro é feito na delegacia pela própria vítima. Casos de denúncia não registrados não são contabilizados nas estatísticas” explica.

A pesquisa de mestrado foi apresentada em junho no Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, sob a orientação da professora Ana Lucia Kassouf. Foram utilizados dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e houve apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Técnológico (CNPq).

Fonte: [url=http://www.usp.br/agen/repgs/2006/pags/125.htm]http://www.usp.br[/url]

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