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Japonesas sofrem com ‘síndrome do marido aposentado’

No Japão se estima que 60% das mulheres mais velhas têm um problema em comum – seus maridos. Depois de passarem anos “casados com o emprego”, os homens aposentados têm um extraordinário efeito sobre suas mulheres.

No Japão se estima que 60% das mulheres mais velhas têm um problema em comum – seus maridos. Depois de passarem anos “casados com o emprego”, os homens aposentados têm um extraordinário efeito sobre suas mulheres.

Takako Terakawa divide seu apertado apartamento de dois quartos em Osaka com um gato do tamanho de uma criança pequena, 400 ursos de pelúcia e seu marido.

Os ursos estão guardados com cuidado, ordenados de acordo com a cor e o tamanho, em um armário em seu quarto.

Ela os retira todos os dias para inspecioná-los e acariciá-los. Quando faz isso, todo o seu corpo relaxa.

Isso parece ser sua razão de viver. Os ursos de pelúcia são um substituto para seu marido.

Terakawa sofre da Síndrome do Marido Aposentado (SMA), uma doença gerada a partir de uma série de condições sociais.

As mulheres criadas durante os anos 1950 e 1960 – a geração ‘baby-boom’ – são algumas vezes vistas como uma mercadoria por seus maridos, alguém para fazer o trabalho de casa e cuidar das crianças.

Seus maridos podem ser assalariados ou funcionários de escritório, que deixam suas casas nas primeiras horas da manhã para retornar apenas na hora de dormir.

Esses casais podem gradualmente se afastar, criando vidas separadas para si.

Então, quando o marido chega aos 60 – a idade nacional para a aposentadoria no Japão – a mulher gradualmente se dá conta de que ela será forçada a fazer companhia permanente a um homem que se tornou um estranho.

É nesse estágio que as mulheres no Japão têm começado a ficar doentes, mostrando sinais tanto de depressão como de problemas físicos.

“Quando eu pensava sobre meu marido ficar em casa, eu desenvolvia erupções pelo corpo e meu estômago doía”, admite Terakawa. “Em algumas ocasiões, eu vomitava após comer.”

“Algumas vezes, apenas estar no mesmo ambiente que ele me deixava fisicamente doente.”

A síndrome foi descrita pelo médico Nobuo Kurokawa, que nos últimos dez anos vem tratando um fluxo crescente de mulheres japonesas de uma certa idade com os mesmos sintomas, incluindo depressão, problemas de pele, úlceras, asma e pressão alta.

Kurokawa, que tem uma clínica em Osaka, acredita que 60% das mulheres mais velhas são afetadas pela SMA e diz que se a doença for ignorada, os sintomas tendem a piorar.

“Se o marido não for compreensivo, a doença se torna incurável”, diz ele.

No Ocidente, logicamente, quando os relacionamentos chegam a tal ponto o divórcio é o caminho escolhido.

Mas, no Japão, particularmente entre essa geração, isso é muito menos aceitável culturalmente.

Não somente isso, mas uma mulher divorciada não tem direitos sobre a pensão do marido e ficaria normalmente incapaz de sobreviver financeiramente se decidir se separar.

Uma mudança na lei de divórcio japonesa, dando direito às mulheres de uma parcela da pensão do marido, deve entrar em vigor em 2007, mas para mulheres como Terakawa e outras que sofrem de SMA, esse não deve ser o caminho escolhido.

Isso porque a síndrome tem uma estranha deformação em sua base. Muitas mulheres que sofrem com a doença querem na verdade manter seus maridos.

Mais estranhamente ainda, os maridos ignoram completamente que são parte do problema.

O afastamento de Yukie Aoyama do marido se manifestou na forma de uma obsessão pela estrela pop juvenil Kiyoshi Hikawa.

Suas paredes estão cobertas com pôsteres com a imagem de Hikawa, e o diário dela está organizado em torno de suas apresentações.

Ela vê seu marido, um trabalhador assalariado que trabalha em outra cidade, apenas uma vez ao mês, e mesmo assim somente por algumas horas.

A reportagem da BBC encontrou seu marido durante uma de suas visitas.

Ao invés de um monstro, como poderia parecer de longe, ele é um homem pequeno e tímido, que ficou completamente surpreso diante da sugestão de que sua mulher pudesse sofrer de SMA.

Ela nunca havia tido coragem de contar isso a ele.

A reportagem perguntou a ele o que faria se sua mulher decidisse deixá-lo.

“Isso nunca me ocorreu, mas eu acho que eu ficaria em apuros”, disse. “Estou ficando velho. Se minha mulher me pedisse para morar sozinho, eu desmontaria… Não sou forte o suficiente.”

“Nossa geração não é boa em expressar seus sentimentos.”

O que é realmente surpreendente é que poderíamos pensar que a SMA fosse algo comentado silenciosamente entre grupos de aposentados.

Mas é, na verdade, objeto de discussão nas ruas das cidades japonesas entre jovens que estão determinados a aprender com os erros da geração anterior.

Em dez anos, um quarto dos japoneses terá mais de 65 anos. Aliado ao fato de que a expectativa de vida no Japão é a maior do mundo – 81 anos –, isso se tornou uma questão séria de discussão.

A síndrome já foi objeto de debates na TV e está sendo discutida amplamente nos jornais.

Fonte: [url=http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/11/061114_japonesassindromerw.shtml]www.bbc.co.uk[/url]

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