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O crescimento do antiintelectualismo na América Latina

Toda sociedade humana possui divisões de trabalho. Especializações de função. Na “sociedade” Ocidental (na verdade o “Ocidente” é um nome genérico, é na verdade uma colcha de retalhos no que diz respeito a práticas cultuais) não poderia ser diferente.

Uma das funções que existe ou existiu em muitas culturas é a classe dos “sábios”, doravante também chamados de “cientistas”, “intelectuais”, “pajés” ou coisa do tipo. Seria imprudência minha classificar todos esses grupos em uma só classe, aliás, toda categorização é naturalmente falha, pois tenta aproximar os objetos pelas semelhanças sendo que as diferenças também integram a realidade desses objetos e, portanto a classificação pelas semelhanças é somente uma postura arbitrária do classificador, fato esse que não invalida ou impossibilita uma categorização ou classificação de objetos.

Em várias sociedades esse entes são responsáveis por “pensar” as práticas culturais de onde se insere. O termo “pensar” não especifica claramente o que os sábios de uma sociedade fazem, mas antecipa bem a sua função social.

Levando-se em consideração a necessidade de resolução de problemas e alívio do sofrimento de pessoas ou grupos as culturas criaram os “sábios” ou “intelectuais” que são entes oficialmente responsáveis pela procura de explicações que resolvam esses problemas ou ainda de maneiras para aprimorar, desenvolver suas culturas.

Um fato recente nas práticas culturais latino-americanas – facilmente visível nos jornais escritos e transmitidos, além de estar presente nos discursos de políticos e de uma parte da elite empreendedora – é crescimento de críticas contra a elite intelectual de alguns países da América do Sul.

O presente artigo não se propõe a discutir a necessidade ou não da existência de classes ou castas, comuns a várias sociedades nem chegar á discussões de cunho filosófico a respeito da existência ou não de “intelectuais” nessas culturas.

A proposta do presente artigo é de discutir uma das possíveis classes de variáveis – afinal nenhum fenômeno cultural ocorre em função de uma única classe de variáveis, mas de um conjunto delas – que podem ter contribuído significativamente para esse fenômeno recente.

Talvez a onda antiintelectual não seja resultado do obscurantismo ou populismo como defendem alguns, mas esteja ligado intimamente á incompetência dos intelectuais latino-americanos, ou seja, da sua ineficácia em propor alternativas operacionalizáveis, de baixo custo e generalizáveis.

Talvez a falação complexa e arrogante de alguns professores e professoras da Academia que teimam em traçar planos mirabolantes e sem nenhum compromisso com os resultados, com a eficácia, com a sua operacionalização, com a necessidade de se levar o maior benefício para o maior número de pessoas, ou seja, sem se comprometer coma a praticidade dos mesmos tenha feito finalmente políticos e grande parte da massa rejeitar e até menosprezar a opinião e a presença dos intelectuais em alguns círculos de influência.

Infelizmente a América latina ainda tem que lidar com posturas dogmáticas do conhecimento em muitas áreas. Uma delas inegavelmente é a Ciência Política. Disciplina que em alguns cursos de Ciências Sociais só tem mesmo o nome para garantir algum nível de respeito e ser considerada científica.

A história está repleta de “revoltas das massas” contra livros e intelectuais. Apesar da arrogância de alguns essa categoria não é imune ás pressões sociais. Em algumas culturas definir-se como “intelectual” é visto como uma postura elitista e arrogante. Afinal, todo ser humano tem de usar o intelecto.

A onda antiintelectual que existe no nosso continente e especialmente no nosso país só reflete a necessidade que a Academia tem, ou pelo menos deveria ter, de se voltar mais para o pragmatismo.
A filosofia política de Skinner seria um bom parâmetro para muitos intelectuais latino-americanos.
Alguns poderiam até se perguntar como as idéias de um norte-americano poderiam ajudar uma região que possui características políticas e culturais tão distintas das nossas e sabe-se que ações políticas devem ter como parâmetro a régio onde são aplicadas.
Falas como essa somente revelam um desconhecimento da proposta skinneriana para a política e conseqüentemente – pode-se inferir – para as políticas públicas.

Skinner era a favor da experimentação de práticas culturais. Aliás, da experimentação contínua das práticas culturais. O que o difere de muitos proponentes políticos. Logo suas idéias podem facilmente ser aplicadas a muitas regiões que concebem a experimentação como modo legítimo de construção de conhecimento. O Brasil apesar da pouca “cultura” que tem em relação á experimentação poderia facilmente adotar os pressupostos políticos skinnerianos.

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