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Dinâmicas de Grupo: Contexto para o Aprendizado e Socialização no Convívio Escolar

Resumo
         
O seguinte trabalho visa fazer algumas considerações de atividades que podem ser realizados nas Instituições Educacionais por psicólogos escolares, com o objetivo de através de dinâmicas de grupo dinamizar o aprendizado do educando e a sua socialização dentro do convívio escolar. A pesquisa foi desenvolvida em uma instituição conveniada com órgão municipal, as crianças são de maioria classe baixa e de famílias desfeitas.  Todo o trabalho constou de dinâmicas de grupos, jogos em locais abertos e fechados, o trabalho apresentou um aspecto positivo e relevante para estudos posteriores que retratem a relação da criança e o seu processo de desenvolvimento nas instituições de ensino, como mecanismo socializador  e facilitador do processo de formação da identidade infantil e aprendizado futuro.
 
Palavras-chaves: Dinâmica de grupo, psicologia escolar, socialização e identidade infantil.
Introdução 

Atualmente os profissionais que trabalham na área da Educação, com crianças em idade escolar, colocam a necessidade de se trabalhar os valores, como respeito ao próximo, respeito consigo mesmo, limites, disciplina e a socialização da criança inserida em um grupo.

Ao desenvolver o trabalho na Instituição em que se exerce estágio curricular supervisionado, a conclusão das observações dos professores e da direção,  quanto às dificuldades apresentadas pelos alunos da escola em que relatavam os problemas acima citados, foi a necessidade de se trabalhar alunos em  particular. 

De acordo com as  observações e a pedido dos professores e da direção, foi possível começar a desenvolver um trabalho com um grupo de crianças com faixa – etária entre 10 anos a 13 anos de idade.

O objetivo do trabalho foi de tornar consciente os valores e as necessidades de mudança no comportamento   dos alunos pesquisados para melhorar o relacionamento com os colegas, funcionários e professores.

O trabalho consistiu na utilização  de dinâmicas de grupo com os alunos construindo uma conduta escolar, adequada desenvolvendo a necessidade de respeito ao próximo como indispensável para um bom convívio em grupo, principalmente no ambiente escolar.

O escopo apresentou dinâmicas de grupo a criança, onde ela possa aprender a contextualizar o aprendizado e a socialização no convívio escolar e levar consigo aquilo que foi adquirido e aprendido para outras etapas de sua vida.
  

O Conhecimento Social e Moral da Criança

Conhecer o desenvolvimento social e moral da criança constou de nosso primeiro caminho para iniciar a pesquisa. Fomos procurando transpor fase a fase escolar da criança para apreender melhor sobre seu universo.
           
Na fase pré-escolar, a criança amplia seu aprendizado sobre as relações sociais.
           
Inicialmente, o contato com o conhecimento das relações sociais é a família e os parentes mais próximos, depois passam a conhecer a comunidade e seu universo social começa aos poucos a se expandir.
          
Neste sentido, a entrada e o percurso pelo âmbito escolar vão construir, para a criança, um acúmulo de experiências ricas e interessantes, pois a escola é um microcosmo da sociedade: no meio escolar, a criança se relaciona com muitas pessoas, com diferentes graus de conhecimento, com as quais sendo, além disso, um âmbito que, em si mesmo, constitui um sistema social, com normas e funcionamento alheios a criança, mas nos quais estas são mergulhadas de ir compreendendo (PADILLA & GONZALES, 1993, p.233).
           
As crianças quando ingressam na escola começam a ter uma nova relação com as instituições sociais, começam a perceber que além de sua família, a escola é um local em que elas vão manter contato com outras crianças e estar pronta para aquisição de novos aprendizados que até então não eram adquiridos no convívio familiar. As crianças passam então na escola, infância e adolescência a perceber que as instituições sociais se relacionam e uma tem influência sobre a outra.
           
Segundo Padilla e Gonzáles (1993), a criança com nove e dez anos, tem uma concepção diferente da criança de onze a doze anos, a criança menor tem noção, mas não consegue abstrair como a criança de maior idade. A criança de maior idade começa a fazer uma inter-relação entre os sistemas sociais e compreende que nas relações sociais o ciclo se repete.
           
A importância dos anos escolares para a criança está diretamente ligada a construção de conhecimentos relacionados ao seu ambiente social, que mais tarde irão compor o seu processo maturacional na fase adulta.
           
As crianças com idade de seis e sete anos, não possuem um raciocínio moral próprio, nesta idade ela vai começar a formar os próprios conceitos morais e auto-aceitos. Somente com a adolescência é que ocorre o juízo moral mais concreto e autônomo. (PADILLA & GONZALES, 1995).
           
Para que a criança desenvolva de maneira mais saudável as suas habilidades de desenvolvimento morais são necessário que sejam estimuladas desde a sua primeira infância e gradativamente estimular o infante, dar-lhe oportunidades, mostrar a ela de maneira clara e firme seus princípios morais, clarificar  o que é certo e o que é errado, respeitar o seu ponto de vista, na questão de valores do que é correto e justo, respeitar as condições emocionais em que se encontra, transmitir a estes pequenos a confiança de que são capazes de ter pensamentos honestos, éticos e com responsabilidade sobre seus atos e o respeito ao próximo.
           
É importante também que os propósitos apresentados à criança sejam colocados de maneira em que haja um controle firme sobre a mesma, principalmente quando se tratar das transgressões em que esta venha a cometer, contra ela mesma e contra os demais membros do grupo.   
   

Desenvolvimento da Personalidade Infantil

           
Com o avanço da maturidade, a personalidade infantil começa cada vez mais possuir características próprias passando por um processo que ao chegar a fase adulta estarão constituídas.
           
De acordo com as bases psicanalíticas as crianças desde o seu nascimento passam por fases que vão ao longo do tempo fazer parte da construção de sua personalidade.
           

Para Freud as fases das crianças podem ser divididas em:

– Fase oral: em que todo objeto de desejo está voltado para as sensações de prazer presentes na boca, podemos citar como exemplo o bebê que suga o seio de sua mãe a cada amamentação.

– Fase anal: é a fase em que a criança possui um prazer em reter ou soltar as fezes, começa a ser o primeiro ato de produção de seu próprio corpo e que a criança se dá conta.

– A fase fálica: a atenção da criança esta voltada para as genitálias, o conhecimento dos órgãos sexuais, a diferenciação do menino e da menina, onde predomina o prazer e a sensação de impotência. Já no período de latência ocorre na criança uma desaceleração da sexualidade, onde podemos exemplificar como um processo de tranqüilidade, ocorre nesta fase uma diminuição da conflitividade edipiana.

– Fase genital: é o final do desenvolvimento biológico e psicológico, ocorre no início da puberdade, meninos e meninas já estão nesta fase conscientes de suas diferenças sexuais e começam a buscar formas para a satisfação de sua libido sexual (Fadiman & Frager, 1939, p. 13-15).

Segundo Erickson (1980/1995) existe uma reorientação de energia psíquica da criança. Nesta fase a criança vai canalizar a sua energia psíquica para o enfrentamento das questões sociais e à aprendizagem, aprender a desenvolver papéis na comunidade, família, escola, ou seja, se relacionar com os demais membros do grupo.

Todo processo de desenvolvimento da criança é traçado por conflitos, onde vai aprender a dominar situações que garantam a sua relação com o meio, isto só é possível graças à interação com o ambiente. Cada fase que a criança transpõe é um aprendizado para a fase subseqüente, que vai possibilitar a evolução mental da criança.

De acordo com Wallon (1951), as etapas sucessivas da evolução diferenciam-se em virtude das disponibilidades psíquicas que são construídas nas diversas interações com o meio (Almeida, 1999, p.100).

Para que a criança estabeleça  a sua personalidade é necessário que certas emoções sejam controladas e trabalhadas para que o processo de aprendizagem seja contínuo, a ansiedade elevada da criança inibe todo o seu processo de aprendizado e cognição, faz com que não obtenha um bom funcionamento da inteligência e dos processos emocionais. 
 

As Relações Sociais nos Anos Escolares

A construção da personalidade infantil encontra-se muito próxima das relações sociais nos anos escolares destes, pois através do convívio escolar nova experiências vão surgindo e sendo agregados ao conhecimento infantil. 
           
Muito cedo as crianças aprendem a ter seu primeiro contato com outras pessoas, como foi falado anteriormente. Durante os anos escolares as relações sociais das crianças vão se solidificar havendo, por conseguinte, maiores contatos com seus colegas e com as pessoas que fazem parte de seu convívio escolar, sejam  funcionários, professores, coordenadores, diretores entre outros.
           
Segundo Jussara Tortella (1999, p.141), citado por Sisto (1999), desde  o nascimento, o homem se encontra em contato com o mundo social e nele interage de várias maneiras, à medida que vão aumentando os seus contatos com os outros, seu processo evolutivo em sociedade também se desenvolve. As dificuldades que as pessoas encontram atualmente em ter relações de convívio social com os outros, se deve a não relação de reciprocidade e convívio social que parecem estar presentes na relação familiar e em outros aspectos da vida do indivíduo.
           
Podemos definir o conhecimento social do ser humano, pela aquisição de conhecimentos que adquirimos ao longo de nossa existência, através do convívio com os outros, da estrutura social que estamos inseridos, os papéis sociais que exercemos em nossas relações sociais, o conjunto de normas e valores, entre outros.  As oportunidades que a criança tem de interação com os outros em seu processo de formação da identidade social, sejam em qualquer nível de desenvolvimento, são bastante relevantes para a sua interação com os outros e também no aprimoramento das suas relações sociais, sejam elas, família, escola ou qualquer outro constituinte de nossa sociedade.
           
Muitos dos determinantes que influenciam as crianças nas suas decisões enquanto representantes nas suas relações sociais estão presentes na autoridade dos pais e o modo com que estes educam as crianças, para o seu convívio com outros colegas, no contexto escolar.
           
De acordo com Cubero e Moreno (apud Coll, Palácios & Marchesi, 1995, p.252), as práticas educativas que os pais desenvolvem com seus filhos, podem ser divididas em três grupos: o primeiro grupo são fatores relacionados com as crianças, como idade, sexo e características de sua personalidade. O segundo grupo estão relacionados com os fatores relativos aos pais, como a experiência obtida com os filhos anteriores, grau de escolaridade, características da personalidade, grau de expectativas que colocam em seus filhos e o sexo. O terceiro e último grupo colocam fatores relacionados com a situação em que é realizada a interação, como espaço físico onde as crianças habitam e o contexto histórico familiar.
           
Nos estudos realizados por Gottman e DeClaire (1986/1997), sobre a inteligência emocional dos pais, com relação aos seus filhos, alguns pontos de seu trabalho são bastante condescendentes na educação das relações sociais das crianças.  

Se os pais sabem perceber as emoções das crianças, reconhecem neste aspecto uma oportunidade para o aprendizado, impõem limites e exploram as estratégias para soluções de problemas, estas crianças passam a ter maior proveito de suas relações com os outros, são menos propensas à violência, têm maior desempenho acadêmico e de comportamentos, enfim são preparadas emocionalmente, conseguem levar uma vida mais saudável até  em sua fase adulta.
           
A escola no contexto das relações sociais desempenha um papel singular no processo de desenvolvimento da criança, principalmente da fase pré-escolar para a fase escolar propriamente dita, onde as novas aquisições e conhecimentos vão ser abordados tanto intelectuais, como de caráter e valores sociais.
          
Ao contrário da família, na qual sua posição é fixa, na escola a criança dispõe de uma maior mobilidade. Sendo possível a diversidade de papéis e de posições. Dessa forma, o professor e os colegas são interlocutores permanentes tanto do desenvolvimento intelectual como do caráter da criança, o que poderá ser preenchido individual e socialmente. (Almeida, 1999, p. 99).
 

Os Jogos e Brincadeiras no Contexto de Socialização do Convívio Escolar

           
Todos os sentidos da criança relacionados com seus processos intelectuais, o caráter moral, a afetividade e a emoção podem ser trabalhados através da socialização das dinâmicas e brincadeiras durante todo o período de aprendizado no convívio escolar. 

Segundo o dicionário de psicologia Dorsch (1987, p. 511), jogo é uma atividade do homem, que exerce por si mesma sem pressão nem objetivo. O dicionário cita como exemplo as palavras de Jan Huizinga (“homo ludens”, 1993/1987),que considera o jogo categoria primária da vida.

No decorrer da história, o jogo foi apresentando várias conotações, a arte de brincar não é mais vista como uma banalidade e sim como uma atividade que possui vários objetivos e significados.

A teoria do jogo de Piaget procurou demonstrar a transformação do conhecimento lúdico desde a primeira infância até a fase adulta do ser humano, através dos processos de assimilação (processo de modificação dos elementos do meio, de modo a incorporá-los à estrutura do organismo), acomodação (transformação que o conhecimento sofre para poder lidar com o ambiente) e o equilíbrio (criada pela função assimilação e com assimilações futuras criam novos esquemas)  de ambos processos (Chaves, 2001, p.2).

Na fase escolar o jogo tem um objetivo diferente e uma proposta distinta, respeita o desenvolvimento psicomotor que a criança se encontra.  

Segundo Queiroz e Martins (2002, p. 7), brincar tem uma proposta criativa e recreativa de caráter físico ou mental, desenvolvida espontaneamente, cuja evolução é definida e o final nem sempre previsto. Quando surgem as regras estas são flexíveis e simples e o maior objetivo é a atividade em si.

Os jogos apresentam uma conduta mais organizada, onde podemos perceber que há uma duração, regras bem definidas, e que tem como resultado a vitória ou a derrota.
          
No ato de brincar, os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes deram origem, sabendo que estão brincando. A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos (RCN, 1998, p. 27).

Para Vigostsky e Wallon, a brincadeira favorece a relação do indivíduo e o meio. A criança vai aprender com o meio, existem as socializações, as fantasias, estabelecem limites, pois quando ingressarem no ensino fundamental, os jogos com regras bem definidas exigem uma maior habilidade de seus jogadores  (Oliveira, 2001, p. 8).

A brincadeira favorece a auto-estima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil (PCN, 1998, p.15).O Papel do Psicólogo na Escola           

O Psicólogo entra em toda esta trama do desenvolvimento da criança como um facilitador de todo o processo evolutivo educacional escolar, para um bom desempenho do que for proposto para o cumprimento das atividades educacionais otimizadoras de todo processo de aprendizagem.O psicólogo escolar é um profissional que a ele cabe compreender e intervir em problemas que são geradores de conflitos dentro do contexto escolar. A ele compete assistir e orientar os profissionais que estão envolvidos neste ambiente, bem como pais, responsáveis, alunos e a comunidade.O profissional propõe  dentro da instituição educacional unir forças com os demais profissionais para juntos desenvolverem um trabalho que objetiva não só o crescimento dos alunos, mas todo um quadro de funcionários, proporcionando condições facilitadoras para o processo de aprendizagem.Este profissional procura descrever os fatos e fenômenos escolares, compreendendo que a escola é uma fonte de relações, onde tais princípios psicológicos vão dar subsídios, para que o psicólogo trabalhe proporcionando aos professores uma melhor utilização dos recursos que são mais eficazes de aproveitamento na motivação e aprendizagem dos alunos.Para Guzzo (1996, p. 78), os psicólogos escolares devem ser capazes de realizar mais do que simplesmente avaliar crianças. É esperado que possam envolver-se com pesquisas, planejamento educacional e elaboração de políticas sociais.            


A Psicologia Escolar    
      

A Psicologia Escolar é uma especialidade da Psicologia que se interessa pelo modo como a escolaridade afeta as crianças em geral e o aluno em interação com a escola. A utilização dos princípios e técnicas da Psicologia Educacional se faz necessária em uma instituição de  caráter formativo, que compreende a ação da Psicologia Escolar como preventiva, afinal, o processo de formação do indivíduo  (Abrapee, 2003).

Partindo deste princípio a Psicologia Escolar começa a compreender a formação da aprendizagem não apenas como um processo de formação, mas uma relação de harmonia com o seguimento educativo e com os profissionais que compõem este processo, trabalhando de uma forma construtiva e em sintonia, propondo uma relação dinâmica e integradora no contexto educacional na formação da cidadania.

Pfromm Netto (1996, p.21-38), adiciona que a Psicologia Escolar no Brasil divide –se em três categorias: a primeira caracterizada pelos primórdios, ligada às escolas normais (1830-1840); a segunda refere-se à fase universitária do ensino de Psicologia, e a última inicia-se com a introdução da Psicologia Escolar no currículo de graduação em Psicologia (1962), até os dias atuais.De acordo com Bardon (1989, apud Gomes, 1999, p. 23), o surgimento da Psicologia Escolar deu-se pela necessidade escolar e educacional, ligada essencialmente, a problemas de comportamento e de aprendizagem, apresentados por alunos de diferentes partes do mundo.

A Psicologia Escolar, ciência aplicada aos comportamentos escolares, preocupa-se em ajudar a melhorar as relações dinâmicas do ambiente escolar e ocupa-se da descrição e do estudo dos fatos e fenômenos escolares partindo do princípio de que a escola é uma fonte de relações. (Novaes, 1984, p.2).
           
O papel da Psicologia Escolar nos dias atuais, constitui uma ligação e um compromisso forte e sedimentado com todo o segmento educacional, onde a essência de todo o trabalho não se encontra mais apenas no aprendizado intelectual da criança, mas em todo o sistema que integra a instituição escolar. 
                  

Método 
           
Após ser realizada toda uma leitura de cunho introdutório e esclarecedor sobre os aspectos mais relevantes do desenvolvimento infantil, e como o psicólogo se faz presente e agente neste percurso de conhecimento e aprendizado mútuo. Foi iniciada a prática do trabalho.

Através do método de trabalho, começamos a ter ferramentas e dados para o desenvolvimento e do que realmente pretendíamos atingir neste trabalho.

Sujeitos
          
Os sujeitos participantes foram escolhidos após uma pesquisa realizada junto ao corpo administrativo e pedagógico de uma Instituição escolar conveniada.
           
Participaram das atividades quarenta e oito crianças do turno matutino do ciclo III, com faixa-etária entre 10 e 13 anos de ambos os sexos, provenientes de famílias com dificuldades emocionais e nível sócio-econômico inferior.
 

Material
          
As atividades desenvolvidas utilizaram os seguintes materiais didáticos: lápis preto, lápis de cor, cola, corda, livros, revistas, bola, giz de cera, etc. Dentro de um espaço físico delimitado por uma quadra de esportes e por uma sala contendo cadeiras e carteiras (25), quadro negro (1), aparelho de som (1), para realização de atividades lúdicas (brincadeiras dirigidas).
   

Procedimento
                
Inicialmente para o desenvolvimento do trabalho observamos o campo de estágio em todos os seus aspectos, físicos, equipe de funcionários, professores, secretaria, coordenadores e os alunos da escola.
           
Foi montada uma diagnose da Instituição Educacional para conhecer melhor o histórico da escola, sua filosofia educacional, o grupo de crianças que atende e o vínculo desta com a comunidade.
           
Depois de montado esta diagnose foi feita a observação do recreio para verificar como as crianças se interagiam entre si, fora da sala de aula.
           
Também participamos de algumas observações dentro de sala, com diferentes professores, para averiguação dos alunos num ambiente fechado e o comportamento das crianças para com seus colegas e professores, se apresentava alguma mudança significativa.
           
Foi montado um questionário com perguntas claras e detalhadas e distribuídas para  todos os funcionários da Instituição desde a direção até os funcionários responsáveis pela limpeza da escola.
           
No questionário estavam contidas perguntas para saber se os funcionários e profissionais que ali trabalhavam sabiam o objetivo da Psicologia Escolar. As principais perguntas foram:

– O que é Psicologia Escolar?
– O que o psicólogo escolar faz?
– Se um psicólogo ajudaria no processo de desenvolvimento infantil, etc.

Foram distribuídos cerca de vinte e dois (22) questionários na escola.

Apenas onze (11)  responderam as questões e colocaram que seria importante a ajuda de um psicólogo na escola.

Após a tabulação dos dados dos questionários foi feitos uma reunião com os professores para checarmos mais precisamente o trabalho que deveria ser desenvolvido.

Os professores relataram a dificuldade de se trabalhar com as turmas F1 e F2 do Ciclo III, principalmente no comportamento dentro de sala de aula e na hora do recreio.

A dificuldade foi conversada com a diretoria e com a coordenação e começamos a trabalhar com as duas turmas (F1 e F2).

Fizemos uma pesquisa teórica para saber como seria feito o trabalho com estas turmas e decidimos num primeiro momento trabalhar jogos e brincadeiras de uma maneira orientada, enfocando os objetivos propostos.

A reunião com as turmas acontecia nas segundas-feiras turma de alunos (F1) e nas terças-feiras turma de alunos (F2), o tempo de cada dinâmica era de quarenta minutos (40 min.) de duração com cada classe.

Nas segundas-feiras dividíamos a turma em dois grupos com aproximadamente doze alunos (12) cada grupo, após o recreio, as terças-feiras repetíamos o mesmo procedimento com os alunos da turma F2.

Todo este trabalho foi feito durante todo o semestre, mudando apenas as atividades e dinâmicas em que os alunos eram expostos.

As atividades começaram com jogos realizados na quadra da escola: como corre-cotia, cabo-de-guerra, escravo de Jó, cabra-cega, etc.

Depois passamos para atividades como: pintura, desenho da família, escrita do nome entre outros.

Após todas estas dinâmicas começamos a montar grupos e conversar sobre o comportamento em sala de aula e o relacionamento com os colegas e professores, começamos então a perceber progressos nos alunos bastante significativos.

Os progressos foram aparecendo lentamente, mas o importante para o trabalho em si é que os alunos já conseguiam ficar em uma sala fechada e falar sobre suas dificuldades, este comportamento não foi possível ser observado em todas as crianças, que eram a minoria do grupo. Esta minoria necessitava de um trabalho mais aprofundado como uma psicoterapia individual.
                

Resultados 
           
Os critérios estabelecidos para análise dos dados obtidos foram: construção de uma conduta escolar adequada, respeito para com o próximo, busca da própria identidade enquanto indivíduo num grupo social, limites e disciplina.
           
Quanto à construção de uma conduta escolar adequada, pode-se perceber que as crianças sabiam como se comportar adequadamente, mas sentiam dificuldade em realizar esta tarefa, muitas crianças traziam consigo a educação familiar rudimentar.
           
Estudos de Padilla & Gonzáles (1993), mostram que a criança na escola vai fazer novos contatos e vão expandir suas relações sociais, logo o que é aprendido em casa com os seus familiares começa a ter uma nova conotação, por conseguinte, a conduta escolar começa se aprimorar.
           
Na questão de respeito ao próximo, as crianças sentiam muita dificuldade em estar sendo educado e compreensivo com o colega , normalmente se dirigiam aos colegas com ofensas, agressões verbais e físicas.
           
Ressaltando ainda Padilla & Gonzáles (1993), o conhecimento que a criança tem vem inteiramente do ambiente social, que vão se desenvolvendo até a fase adulta. Com relação ao parágrafo supracitado, se crianças possuem dificuldades que lhe respeitem em seu ambiente social, na escola este comportamento torna-se mais difícil de ser aprendido. Depois de trabalhado este conceito pôde perceber que as crianças já se relacionavam entre si de uma maneira mais afetiva, algumas até fizeram  amizades com colegas que antes nem se falavam.
           
A dificuldade do trabalho estava basicamente centrada no modo de como a criança  percebia a si própria, trabalhar a própria identidade e a subjetividade destas crianças demandou perseverança
           
As crianças sentiam dificuldade de falar de si , não conseguiam perceber se haviam mudado ou não o seu comportamento, nas primeiras reuniões ouvíamos relatos das seguintes formas:
       
“Não melhorei em nada, acho que melhorei parei de xingar os colegas na sala".
Estagiária: "Você melhorou seu comportamento em sala" ?
Criança: "Melhorou, o J. melhorou um pouco parou de xingar".

A medida em  que as crianças foram participando das reuniões, algumas delas já conseguiam fazer uma canalização do que era falado e conseguiam desvincular-se do outro:

"Eu acho que eu mudei".
“Melhorei os xingamentos e as tarefas comecei a fazer".

Pudemos perceber que de acordo com o trabalho que se faz, a construção da identidade e subjetividade infantil, faz-se também na escola, através da convivência com o outro e da percepção do outro, quando as crianças começam a falar de si percebem, que existem semelhanças e particularidades com a outra criança. 

Em relação a limites e disciplinas pode-se perceber o quanto à dinâmica familiar é importante, como pais conduzem seus filhos no processo de desenvolvimento. A falta de percepção da criança pelos seus genitores influenciam no comportamento desta.

A importância dos pais no processo de desenvolvimento da criança, confirma os trabalhos desenvolvidos por Gottman e DeClaire (1986/1997), pais que trabalham a emoção de seus filhos e sabem impor limites e disciplinas, estas crianças conseguem desenvolver melhor as suas relações sociais com os outros, possuem mais facilidade a aprender e lidam com situações conflitantes com maior astúcia.

As análises dos estudos realizadas vieram a confirmar associando a teoria apresentada, que a criança aprende através da sua interação com o meio e possui capacidade de evolução através das relações sociais e apoio familiar.
       
             
Conclusão  
           
No estudo confirma-se que a interação social é fator essencial para um bom convívio e rendimento dentro do contexto escolar e que a interação das crianças, o respeito recíproco, o companheirismo e aspectos de limites e disciplinas, podem ser trabalhadas  dentro das instituições de ensino, através de dinâmicas grupais que são interativas, sociabilizadoras e mecanismo para a ação do aprendizado cognitivo.
           
De acordo com o estudo feito sobre a socialização e aprendizado no convívio escolar, foi significativa a resposta encontrada para que estudos posteriores possam ser desenvolvidos, a cerca de questionamentos da socialização infantil.
           
Os resultados apresentados podem confirmar o quanto todo o processo de aprendizado e desenvolvimento da criança estão relacionados com um bom desenvolvimento maturacional, emocional, afetivo e familiar.
           
Através deste trabalho também foi possível averiguar  e apresentar que muitas dinâmicas que quando feitas de forma ponderada com objetivos claros e sabendo onde quer se chegar com os resultados, apresenta fatores positivos e mudanças na constituição e construção da criança presente na instituição escolar.
           
Os progressos foram aparecendo lentamente, mas o importante, que o trabalho nos mostrou que os alunos já conseguiam ficar em uma sala fechada e falar sobre as suas dificuldades, este comportamento não foi possível ser observado em todas as crianças, sendo que estas eram a minoria no grupo. Esta minoria necessitava de um trabalho mais individualizado e mais profundo como uma terapia individual.
           
Outro fator importante, que deveria ser realizado um estudo, como continuidade deste trabalho: a participação dos pais no processo de aprendizado e desenvolvimento de seus filhos em fase escolar, bem como laços familiares que unem estas crianças ao seu convívio familiar.
           
Condição que ficou presente no estudo, pais que sabem conduzir a sua vida familiar e dão apoio a seus filhos, as crianças possuem uma capacidade maior de se perceber no grupo e lidar com questões conflituosas.
           
Como primeiro estudo realizado, o trabalho teve um aspecto bastante positivo. Faz-se necessário que outros estudos dentro da Psicologia Escolar, sejam feitos, para que o processo de otimização da aprendizagem seja cada vez melhor.
              
 
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