No entanto, a sua condição inconsciente também é acometida por uma torrente de sentimentos que podem ser complexos e difusos. Inevitavelmente ela é remetida para o lugar que ocupou quando filha, para os cuidados que ela recebeu na sua criação e formação. E é justamente a partir daí que se formarão seus critérios para criar e formar seu próprio filho(a).
Comparações, seleções do que foi bom ou ruim, o que funciona e o que traumatiza, o que se aplica e o que deve ser evitado a qualquer preço, pensamentos e exercícios como estes, são inevitáveis consciente ou inconscientemente.
A sociedade, desde sempre, caracteriza a mãe que cuida, protege e zela por seu filho, como mãe ideal, enquanto que a que ignora, pune e trata com desmazelo, como mãe negligente.
E é justamente neste ponto que pode morar o grande equívoco da formação do sujeito. O equilíbrio dos dois extremos de mãe é o que traz maior probabilidade de uma criança emocionalmente saudável e futuramente um adulto bem resolvido. Esta afirmação não é sinônima de “menor entrega”, “amar de menos” ou terceirizar a educação dos filhos para as escolas. Ao contrário disto, é trazer pra si a responsabilidade de uma forma consciente e altruísta.
A palavra altruísta surge agora não por acaso, mas fundamentalmente para evidenciar que um filho não deve ser o objeto da projeção das frustrações, rancores ou recalques dos pais. É muito difícil separar o que na verdade são necessidades da mãe, das necessidades do filho, das compensações que seriam interessantes à mãe, do que são ao filho, etc.
O efeito over protection mostra uma relação mãe e filho em desequilíbrio, pois coloca não as necessidades da criança em primeiro lugar, mas sim as da mãe. E é certo que: o que falta ou faltou para a mãe não necessariamente é essencial ao filho. O padrão de referência básico da mãe, pode e deve ser sempre acessado, por exemplo: “… cantigas de ninar me davam prazer, logo, as praticarei com meu filho…”. Isto é saudável, e se ele se mostrar irritado, não insistirá, ponto. Mais se: “… na infância, minha mãe foi ausente e sofri privações…”, se isto resultar em: “… meu filho terá tudo o que desejar, e eu estarei sempre ao seu lado…”. Isto pode não ser saudável, se para ter “tudo” o que deseja são necessários sacrifícios incondicionais por parte dos pais, se “estar sempre ao seu lado” resulta em privá-lo de suas próprias conquistas sozinho.
O exemplo acima, não desvirtua, e classifica a mãe zelosa como má ou a negligente como boa, muito pelo contrário, isenta ambas de qualquer rótulo e evidencia o quanto a maternidade é complexa (aqui entende-se também paternidade), o quanto os bastidores da criação de um filho são muito mais ocultos do que se imagina. E que buscar o equilíbrio é aparentemente o mais sensato a se fazer, bem como buscar enxergar o próprio filho como um ser futuramente independente, e entender que a dependência de sobrevivência é apenas momentânea, porque isto permitirá fortalece-lo, através do amor, para viver no mundo, e não sob as “asas” maternas.
Este texto é recheado de termos como: probabilidade, pode ser, aparentemente, entre outros, e isto facilmente se explica, porque ser mãe ou criar um filho é a tarefa, inexpugnavelmente, mais difícil e incerta que há e da forma mais ambígua possível, por ser a mais prazerosa. Alguns parágrafos também são ousados e talvez até cruéis, mesmo sem terem a pretensão de ser. O grande e verdadeiro objetivo é compartilhar a idéia que: se dispor a colocar um filho no mundo, seja geneticamente ou adota-lo pra si, o que dá no mesmo, é acima de tudo um ato de amor e coragem.