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Transtorno do Déficit de Atençao com ou sem Hiperatividade. De Quem?

TDA ou TDAH, seja como for, a nosso ver constitui-se cada vez mais numa espécie de "certeza diagnóstica"muitas vezes infundada. Acaba sendo o resultado de uma espécie de "transtorno" de atenção,muitas vezes acompanhado de uma hiperatividade dos cuidadores e profissionais, que acabam muitas vezes não sabendo o que fazer com aquilo que é sintoma e não causa de situações conflitantes inter e intra-psíquicas.

Muito mais do que uma hipótese diagnóstica a ser confirmada juntamente com uma série de outras avaliações, o TDA ou o TDAH, nos parece quem vem sendo cada vez mais uma especie de “certeza diagnóstica”, oriunda dos consultórios neurológicos,psiquiátricos, pediatricos, além de psicológicos, fonoaudiológicos, etc. Isso para não falar nas escolas que encontram-se em polvorosa.

 

Frente a esse temerário exagero de “certezas”, é que construímos nossa reflexão a esse respeito através desse artigo. Vivemos na era dos “fast-foods”, sejam eles de alimentação como também os referentes as emoções e tomadas de atitudes. Nessa linha de reflexão, podemos também dizer que a era favorece as também denominadas “bulimias afetivas”, onde o que se verifica, é que tão logo o afeto se coloque em questão, a grande tendência é a de rápidamente procurarmos “passar a bola” prá alguém que “julgamos” saber resolver as questões que tanto nos afligem. Juntamente com essa espécie de premência em se derivar a questão, aparecem os “falsos profetas” com as suas fórmulas pretensamente infalíveis para resolver uma plêiade de questões quase que tendendo ao infinito.

A questão que se coloca prá mim, é aquela que diz respeito ao porque agimos atualmente com tanta pressa, tanta exasperação, na procura de “especialistas”, os quais dariam conta de algo que cabe origináriamente a nós? Nada contra os especialistas até porque sou um deles, mas tudo contra isso sim, a procura atabalhoada numa verdadeira peregrinação através de consultórios, abolindo de nós mesmos a “nossa” condição de especialistas sobre o que nos diz respeito.

Ampliando mais o escopo da minha questão: “não estariam os pais sofrendo em grande parte das vezes, de uma espécie de transtorno de déficit de atenção ?”, principalmente em relação a sí próprios e, por via de consequência, também em relação aos filhos? Nos parece que sim, inclusive o “transtorno” na maioria das vezes vem acompanhado de uma hiperatividade. Estamos todos correndo muito, e consequentemente temos que passar a bola de primeira, como se diz na linguagem do futebol. Ocorre que quando passamos a “bola”, estamos delegando ao “outro” que conduza as nossas vidas com todos os desdobramentos possíveis que uma atitude como essa pode ocasionar.

Atualmente, outros termos da moda são o Bullying e o Cyberbullying os quais apresentam-se como um fenômeno novo, mas que me parece remontar a própria história do homem vivendo em sociedade. Mas, estamos muito apressados, dentro de nossa própria hiperatividade, que nos tornamos desatentos padecendo que estamos do “transtorno”, e não paramos prá pensar se nós também enquanto pais não vivenciamos o mesmo fenômeno quando da nossa época. Da mesma forma que hoje também se fala muito de síndrome do pânico, Freud há muito já falava em neurose de angústia.

Está muito evidente para quem não sofre do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade, e que pode portanto estabelecer uma visão crítica sobre o assunto, que muitas vezes trata-se sim de uma espécie de “maquiagem”, a qual responde diretamente aos interêsses das multinacionais fabricantes dos medicamentos psicoativos.

Sem sombra de dúvida posso afirmar que vivemos numa sociedade, onde todos ou a grande maioria sofrem de “déficit de atenção e hiperatividade”, sendo a meu ver as nossas crianças, os “vetores resultantes” desse estar no mundo, ou dito de forma mais adequada: desse “mal estar no mundo”.

Enquanto fala-se do Bullying praticado e sofrido nas escolas, entendemos que todos nós mais ou menos, também somos vítimas de um “Bullying Social” , onde se não tivermos os melhores empregos, carros, casas, faculdades, namoradas, amantes, férias. etc, somos de certa forma marginalizados, claro que sempre de uma forma mais velada, mas nem por isso inexistente. Então, o que estará acontecendo com a nosa crítica? Onde anda a nossa capacidade de discernimento sobre as nossas questões? Os pais recebem uma observação da escola de seus filhos, e sofrendo também a escola de um transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, logo sugere uma visita a um psicopedagogo. Sem dúvida que muitas vezes isso se faz necessário, mas o que me pergunto é porque essa sugestão é feita e aceita tão rapidamente. Parece que não possuímos em nosso repertório subjetivo, a capacidade de indagação e análise de uma determinada situação. Parece que tambem nós não nos perguntamos o que estará ocorrendo dentro de casa que possa eventualmente estar influenciando nesse estado de coisas?

Como estamos nos utilizando de uma série de metáforas na confecção desse tabalho, vamos dizer que, a nosso ver, parece que também estamos meio que sofrendo de episódios de “ejaculação precoce” no que tange as nossas emoções! O que nos causa espécie, é a velocidade com que se delega a resolução de nossas questões nas mãos daquelas outras pessoas, que embora possuam uma habiliação profissional, não estão no nosso interior, sabendo pelo menos a priori, onde nos “aperta o sapato”.

Numa visão sociológica não muito profunda e nem necessária, todos sabemos que quando qualquer movimento popular, delega a resolução de seus problemas a um profissional que não faça parte ou conheça bem de perto as suas particularidades, esta causa parece estar condenada a uma espécie de fracasso “a priori”.

Dessa forma, a proposta desse trabalho é a de propiciar uma reflexão não sobre o TDAH em sí, até porque tenho pra mim que ainda não se sabe bem do que se trata na verdade, mas sim a sua vivência no sentido metafórico. A reflexão aponta para a pergunta: “será que eu não consigo, embora com dificuldade, resolver isso ou aquilo? ”. “ O que me faz pensar que, dependendo do que se trate, alguem vai poder desvendar o mistério que se me apresenta como insuperável?” Apenas pró memória, se encontramos especialistas em abertura de “cofres”, lembremo-nos que o conteúdo nos pertence desde sempre.

Entendemos assim, que fenômenos como Bullyng, TDAH e tantos outros, podem ser “lidos”, interpretados, como expressão de uma sociedade que, por não explodir, implode, numa espécie de busca infindável de “algo”, que não nos perguntamos se realmente queremos, ou a quem essa correria toda interessa, numa espécie de ânsia histeriforme pela captação do desejo do Outro, numa aproximação lacaniana. Podemos pensar que uma sociedade hiperativa, é muito pouco reflexiva sobre o seu próprio percurso. Vejo, portanto, esses fenômenos de classificação médico-psicológica, como um grande sintoma social, e cujas causas são a perda da identidade, o desamparo, o alheamento de sí mesmo, a pressão pelo “ter” em detrimento do “ser”, etc… Onde todos correm, é pouco provável que existam trocas sobre os caminhos que percorremos e sobre o quanto realmente eles nos interessam. Acabamos “tendo” muito e ficando cada vez “menos” instrumentalizados para a vida, o que resulta numa possível dedução de que “se perdemos”, “nos perdemos” junto.

Se podemos falar em “boa notícia” e entendo que podemos, devemos notar que se temos a “doença”, temos também o “antídoto” para ela. Claro deve ficar, que o antídoto encontra-se na subjetividade, na relação intra-psíquica, e salvo melhor juízo, não nos anti depressivos, ansiolíticos, hipnóticos, estabilizadorss de humor, etc, embora tenham a sua indicação em questões mais agudas. Vale a pena perceber que através da leitura das bulas desses medicamentos, poderemos notar que não existem: “x” miligramas de “resolução de conflitos”!!! No dizer bastante preciso da psicanalista Elisabete Roudinesco, formamos hoje uma sociedade medicada, a qual “fabrica” pessoas aparentemente bem equilibradas, mas que na verade estão abúlicas ou apáticas.

O TDAH das crianças corresponde a um desequilíbrio neuro-químico? Até pode ser, mas deixar de lado a subjetividade humana, é desautorizar, desalojar o sujeito de si mesmo, tornando-o um ser cada vez menos objetalizado e menos capacitado de opinar sobre o seu próprio percurso.

Bibliografia Auxiliar:

 

Roudinesco, Elisabete : Por que a Psicanálise?

 

Meyer, Luis: Família, Dinâmica e Terapia.

 

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