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Revista PSYU Nº8 – Coluna NEO (2) – Junho/2001

Voyeurismo virtual, nova atenção do psicólogo
Voyeurismo virtual, nova atenção do psicólogo
Voyeurismo: excitação sexual ao observar cópula praticada por outros, ou simplesmente ao ver órgãos genitais de outrem, independente de qualquer atividade própria.

Voyeurismo é a excitação ao ver alguém copulando. Esse comportamento aparece, com grande força, na internet, pois este é um veículo propício para isto. Deve-se às suas características: o anonimato, a facilidade de encontrar pessoas semelhantes, o material disponível na web.

O setor que mais movimenta a internet é sexo, com os inúmeros sites de cunho erótico ou sexual. Além disso, na rede há diversos sites onde se usam webcams para transmitir striptease (de pessoas sozinhas ou de grupos), sexo explícito (a dois ou grupal), tanto para heteros como para homossexuais. Mas o conceito de voyeurismo pode ser ampliado. Pode ser estendido para o sujeito que tenha prazer em VER o que outro está fazendo.

Nesse sentido, todos têm um pouco de voyeur. Quem nunca entrou num chat para apenas ler as mensagens? Inúmeros são os artefatos que a imprensa vende para saciar a curiosidade do humano em ver a vida dos outros. Não foi à toa o megasucesso de “No Limite”, onde se podia acompanhar a vida de cada um dos participantes, pois tudo era televisionado. É o voyeurismo não sexualmente orientado, que deseja ver a vida real e comum do outro. Alguns experimentos foram feitos para testar o e-commerce e a vida somente virtual. Foram o E-moço, a E-moça (pelo Unibanco) e o Cyber repórter (pela Playboy). Eles passaram, respectivamente, 99 e 30 dias vivendo apenas com um computador ligado à internet, impedidos de sair de casa ou de usar o telefone.

Fato curioso: os três estavam sendo transmitidos, para a Rede, 24 horas por dia. Qualquer um que acessasse o site da promoção, poderia vê-los nos diferentes cômodos da casa, menos no quarto e no banheiro. Centenas de pessoas acessavam o site todos os dias, para acompanhar a vida deles. Várias enviavam e-mails, procurando manter contato. Muitos queriam saber o que eles faziam, ou o que acontecia em outros cômodos da casa. Interessavam-se pelas dificuldades em obter alimento, comidas, roupa, acompanhavam os artistas que iam visitá-los.

Essa curiosidade parece ser uma característica de nossa época. A curiosidade em ver outras vidas, tão reais quanto as nossas. Não aparece, sem propósito, no filme “O Show de Truman”, onde isso é levado ao extremo. A internet é propícia para o Show de Truman. Podemos ver a vida de outro, sem que ele sequer suspeite quem sou eu. Ela permite o anonimato necessário. Esse outro, aliás, nem sabe que eu estou olhando. Sabe, de alguma forma, que está sendo vigiado: mas nem de longe suspeita quantas pessoas estão a sua espreita, vendo todos os seus passos.

Vemos o show de E-moços e do Cyber repórter. Todos, como Truman, vigiados e televisionados em tempo integral, a serviço da curiosidade dos outros e da mídia. Antes da internet, nenhuma mídia permitiu que esse voyeurismo da vida real fosse tão acessível a todos: aos exibicionistas e aos voyeuristas. Hoje o acesso é amplo, qualquer um pode ter um site pornográfico, para veicular fotos, ou striptease virtual.

Novos fenômenos humanos aparecem e antigos fenômenos, como o voyeurismo, encontram novas formas de expressão. O Psicólogo deste novo milênio tem de estar atendo ao mundo virtual e à informática, uma vez que, aos poucos, eles invadem nossos consultórios e nossas empresas.
IVELISE FORTIM DE CAMPOS, MEMBRO DO NPPI (NÚCLEO DE PESQUISA EM PSICOLOGIA E INFORMÁTICA), DA CLÍNICA PSICOLÓGICA DA PUC-SP.

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