Voltemos à época dos anos 30, quando mulheres cresciam educadas para casar, procriar e obedecer pais e maridos. Já os homens aprenderam sobre domínio, força e autoridade. Chorar nem pensar! Minha avó, por exemplo, só fazia sexo no escuro e obedecia aos desejos de meu avô. Ela nunca soube o que é prazer sexual pelo simples fato de não saber que podia sentir também. Nem imaginava poder se masturbar, sentir tesão ou prazer com seu homem.
Com o correr dos anos homens e mulheres passaram a ter acesso à uma liberdade nunca antes imaginada. Jornais e revistas e a mídia em geral começaram a jogar informações sobre nossos potenciais, chocando regimes paternalistas e repugnando a doce esposa abnegada. E no choque de gerações todos foram obrigados a se adaptar às novas descobertas ou seja, falar mais abertamente sobre sexo, desejos, fantasias e a reconhecer que seus corpos poderiam ser tocados de formas diversas.
Em decorrência disso casamentos infelizes começaram a despontar por todos os lados do planeta. A insatisfação tomou conta daqueles que um dia juraram amor eterno (como se isso fosse possível prever) e dentro da prisão da palavra vivem hoje sonhos e desejos que não conseguiram realizar com seus parceiros, seja por falta de informação, vergonha ou por acharem que é tarde demais.
E é ai que está a verdadeira solidão.
Falemos aqui também destes seres humanos que, pelo pavor desta tal solidão, se unem à outros somente para taparem a ferida aberta. Mudam sua forma de vestir, sorrir, transformando-se em criaturas magníficas. Mudam até a personalidade para obter seu objetivo principal.
Pobres seres infelizes pois não sabem que na realidade estão perdendo a referência de quem realmente são e quando quiserem se resgatar nem todos os pedaços serão encontrados.
Humanidade falida? Perdida? Desiludida? Solitária.
Até que alguém, em algum momento de transe cibernético, decidiu se revoltar contra o óbvio e usar seus conhecimentos para si e para o mundo, criando uma forma diferente de comunicação. Para isso usou a Internet, desconhecida ainda por muitos, transformando-a em um canal aberto à procura de si mesmo, de amigos e porque não, de sua alma gêmea.
O solitário rebelde inventou o Chat! Solitário sem cara, só alma. Solitário ali é João, Maria ou Dragão. Isso não importa pois ali ele solta sua libido, suas vontades mais escondidas. Ali ele busca seus pedaços e reconstrói o perdido. A solitária prisioneira solta suas amarras e dança, rola, goza, se expõe sem temores e grita seus desejos.
Amigos se fazem soltos e verdadeiros. Sem interesses escusos, pessoas desconhecidas começam a fazer parte do cotidiano inesperadamente, se presenteiam com carinho e atenção. Trocam experiências e confissões!
Neste lugar sem pátria, beleza ou condição financeira, o que vale é a essência. Pessoas se procuram desesperadamente, buscando a certeza de que estão vivas e alimentando suas carências.
Ali sim, mulheres da sua cova ressuscitam, vivendo o mundo tão imaginado e sonhado mas nunca alcançado, sem serem vistas como prostitutas por uma sociedade medíocre. Ali os mais profundos desejos são respeitados e o autoconhecimento começa a brotar. Elas começam a sentir a sensação que podem verbalizar também aquilo que escrevem e se familiarizam consigo mesmas. Estão muito próximas do limite virtual/real e passam a buscar em seus parceiros da vida real, um relacionamento mais aberto, com liberdade plena de expressão.
Os homens por sua vez se deparam com estas mulheres livres que dizem o que querem e como querem. O sexo no Chat é o assunto mais difundido e estes mesmos homens, na sua grande maioria casados também, que vêm em busca de aventuras e emoções fortes, passam a se sentir Casanovas dos nossos tempos. E porque não, depois de inflado seu ego, não procurar aquela mulher, aquela que pegou no sono por desistir de esperá-lo? Aquela que você acha que não liga mais para sexo, que não é mais aquela garota que conheceu? Liberte-a homem, solte-a de suas correntes latentes e a traga para junto de você. Toque sua mulher, ame-a! Beije, sugue, chupe sem restrições como você fez lá no Chat e então presenciará um renascer, o resgate das sensações perdidas.
Ana Elizabeth Noll Prudente
Empresária, autodidata e pesquisadora
do universo humano na internet
artigo escrito em 20/01/99