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PSICOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA: Uma Introdução ao Estudo das Manifestações Psicossomáticas

Autores:

Ângela Cristina Januário Alves.
José Luis Machado.
Leonilse Lourdes Fachini Mussio
Mirnaloi Silveira Cunha.
Teresa Cristina E. de Souza.

(Acadêmicos da Faculdade de Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina)

PSICOLOGIA E PSICOSSOMÁTICA
Uma Introdução ao Estudo das Manifestações Psicossomáticas

A noção psicossomática do adoecer aparece desde a antiguidade, de um modo geral nas grandes culturas da Idade Antiga, porém é na Grécia dos grandes filósofos que o homem é visto de maneira mais próxima desta visão globalizada, onde a dimensão funcional é o corpo, e a psique tem a função de manter controlada e regulada estes aspectos funcionais. A visão médico/filosófica grega se divide em duas vertentes, o todo holístico representado pelo monismo de Hipócrates e a dissociação mente-corpo representado pelo dualismo de Galeno. (Volich, 2000).

De acordo com Volich (2000), este saber se “perde” pelos meandros da Idade Média, onde existe o desprezo pelo corpo e a ascensão da visão espiritual. Aos poucos a ciência médica, ainda embrionária, promove a volta desta visão holística, valorizando as interações mente-corpo para uma melhor compreensão dos aspectos do adoecer. Esta volta se dá através das primeiras escolas de medicina que são fundadas na Europa, a partir do movimento cultural promovido pelo Renascimento.

No ano de 1818 o psiquiatra alemão J. C. Heinroth cria o termo “psicossomático” que vem ressaltar a importância dos aspectos físicos e subjetivos no processo da doença (Volich, 2000, Filho; 1992). Com a inserção da metodologia positivista de produção de conhecimento e com internalização do pensamento cartesiano na cultura acadêmica, as ciências humanas se desligam desta relação integrada e sucumbem a uma tendência a valorizar o corpo físico como fonte de pesquisas. Ao mesmo tempo outros estudos desenvolvidos paralelamente, tais como o das perturbações mentais como doença no inicio do século XIX por Pinel, trazem o tema da relação mente-corpo novamente à tona. A sugestão e a hipnose são usadas como meio de investigação dos fenômenos psíquicos, das doenças nervosas e do fenômeno principal da histeria.

Segundo Marx e Hillix (1997) a psicanálise freudiana surge no cenário contribuindo com seus estudos sobre o equilíbrio interno do aparelho mental através dos escritos sobre a histeria. Os primeiros trabalhos de Sigmund Freud (1856-1939) deram inicio ao rompimento do dualismo corpo-mente de Galeno e Descartes, resgatando a noção hipocrática, que valoriza a pessoa do doente e não apenas a doença. Também postulou que, a historicidade do indivíduo tem íntima ligação com seu estado de saúde/doença e que as manifestações histéricas não refletiam apenas uma acepção física, mas eram frutos de uma organização imaginária da própria mente de seus pacientes. Na construção do saber psicanalítico, as experiências humanas são cercadas e transpassadas por inúmeros momentos conflituosos, provindos de diferentes fontes que através de seus efeitos auxiliam na construção da personalidade humana.

Além de Freud outros teóricos que compõe a história da psicologia colaboraram para uma visão mais integrada entre mente-corpo. Dentre eles é possível salientar Kurt Goldstein, ele postulou que o comportamento humano só pode ser compreendido como uma unidade orgânica que busca o equilíbrio e a auto-regulação na relação com o meio onde está inserido. Concordando com Goldstein, Carl Rogers (1902-1987) enfatiza a necessidade do ser humano para a auto-realização e que esta depende da capacidade eficaz para a simbolização mental de suas experiências concretas. (Marx e Hillix, 1997).

Segundo Volich (2000) oficialmente o que chamamos de ciência psicossomática tem como seu marco inicial com a obra do médico Georg Groddeck, que via na psicanálise métodos de compreender e tratar os distúrbios psicossomáticos. No século XX, Pierre Marty (apud Debray, 1995) conceitua que o ser humano deve ser visto e entendido por sua totalidade, visto como um todo onde o equilíbrio geral vai servir de ponto de partida para a compreensão dos movimentos que cada sujeito faz, o que por sua vez o levam a situações psicossomáticas nitidamente identificáveis, que os empurram para posições de homeostase ou de desequilíbrio. Para ele o ponto de partida se dá na infância, os movimentos progredientes que surgem vão integrar com certa evidência todas as fases da evolução libidinal.

Neste momento podem ser destacados os membros da Escola de Psicossomática de Chicago, onde foram aprofundados os esquemas teóricos de certas doenças somáticas em relação à formação de certas estruturas de personalidades e de conflitos emocionais específicos. Felix Deutsch (apud Volich, 2000) critica o uso indiscriminado da teoria psicanalítica de conversão por parte dos médicos. Também nesse sentido Franz Alexander (apud Volich, 2000) discute o processo do adoecer, usando como ponto principal o entendimento que o efeito dos processos não devem ser vistos como locais e isolados, mais sim integrados em termos de três dimensões: biológica, social e psicológica.

Discorrendo sobre a inter conexão destas três dimensões, França e Rodrigues (2002) comentam que a dimensão biológica compreende as características físicas genéticas ou adquiridas durante a vida. Inclui tudo que está relacionado, ao corpo, num sentido orgânico, seus sistemas, seu metabolismo, suas resistências e vulnerabilidades, órgãos e funções fisiológicas.

Segundo Eliot (1992), na dimensão social temos a relação que estas pessoas estabelecem com o meio em que vivem e a sua cultura. Crenças e valores morais, aspectos de relacionamento familiar, trabalho e círculos de amizade, dinâmicas em seus grupos, e basicamente tudo que as cercam e de alguma forma as ligam a outras pessoas.

A dimensão psicológica trás todos os aspectos cognitivos e comportamentais. Processos de raciocínio, emoções, aspectos afetivos, conscientes ou inconscientes. Que em sua soma formam toda subjetividade e personalidade de cada pessoa.

Sobre a dimensão psicológica, Ballone (2001) comenta que as motivações causadas pelas emoções são vistas pela psicologia como sendo fontes impulsionais que controlam as condutas humanas. Nesse sentido são consideradas de um ponto de vista geral como provindas de substratos biológicos, causando influências sobre a saúde e sobre a doença através de suas propriedades psicofisiologicas. Emoções estas que podem ter vários sentidos para o corpo, e são classificadas a priore como sendo agradáveis ou desagradáveis, entre elas podemos citar a alegria, medo, ansiedade, raiva, etc…

De acordo com Ballone (2001) as emoções experimentadas, mas não devidamente simbolizadas poderão levar a uma situação de lesão fisiológica ou transtornos de ordem psicossomática e ainda de ordem psicofisiológicas, como por exemplo: Transtornos cardiovasculares, cefaléias, asmas, síndrome pré-menstrual, doenças dermatológicas, transtornos sexuais, transtornos digestivos e de alimentação, debilidade dos sistemas imunológicos e tantos outros distúrbios.

Hoje, segundo Ballone (2001), o processo do adoecer vai ser determinado por características genéticas e construídas na interação com o meio, são essas características que estão diretamente ligadas á formação subjetiva, que irá proporcionar os diferentes graus de enfrentamento de cada situação estressante que se apresenta a cada individuo. O conceito do adoecer psicossomático não é novo e nem original, há muito tempo se percebeu que o homem não pode ser determinado apenas por seu corpo, ou pelo ambiente em que vive ou ainda apenas por sua subjetividade. Os seres humanos são seres integrados e vivem situações reais e imaginárias que se ligam e mutuamente influenciam suas atitudes em seu meio, nos seus sistemas sociais. Para a Psicologia como ciência, conhecer as manifestações psicossomáticas, portanto, as relações corpo/mente e meio externo é de suma importância, pois a partir de então novas ações em termos de atenção primária e secundária á saúde podem ser desenvolvidas ou aprimoradas.

🙂 REFERÊNCIAS

ANGERMANI – CAMON, Valdemar Augusto (org). Psicologia da Saúde. Editora Pioneira, São Paulo, 2002.

BALLONE, G. J. – Da Emoção a Lesão – in. PsiqWeb Psiquiatria Geral, Internet. 2001 – disponível em:

DEBRAY, Rosine. O Equilíbrio Psicossomático e um Estudo Sobre Diabéticos. Editora Casa do Psicólogo, 1 edição: São Paulo, 1995.

ELIOT, Robert S. et al. Estresse e o Coração, Mecanismos, avaliação e Cuidados. Editora Revinter Ltda, Rio de Janeiro, 1992.

FRANÇA, A C. L., RODRIGUES, A. L. Stress e Trabalho – Uma Abordagem Psicossomática. Editora Atlas, São Paulo, 2002.

FILHO, Júlio de Mello. Psicossomática Hoje. Editora Artes Médicas, São Paulo, 1992.

MARCELLI, D. Manual de Psicopatologia da Infância de Ajuriaguerra. Tradução Patrícia Chittoni Ramos. Editora ArtMed, 5o ed: Porto Alegre, 1998.

MARX, H.M. HILLIX, A. W. Sistemas e Teorias em Psicologia. Editora Cultrix, São Paulo, 1997.

SOUZA, J. G. Medicina Psicossomática. Editora ISBN, Rio de Janeiro. 2000.

VOLICH, Rubens Marcelo. Psicossomática: de Hipocrates à Psicanálise. Editora Casa do Psicólogo, São Paulo, 2000.

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