Refletir sobre a juventude tem sido um dos focos de estudos da minha formação intelectual, principalmente na contemporaneidade, quando se averigua nos enunciados sociais inúmeras reflexões sobre dela, ora representando-a como apática e violenta, ora como detentora de uma perfeição idealizada.
Se no passado, entre o feudalismo e a industrialização, como sugere o historiador Ariès (1981), inexistia enquanto representação essa fase transitória entre a infância e a idade adulta, percebe-se que atualmente as manifestações juvenis transformaram-se numa das preocupações primordiais da sociedade moderna. Logo, os conceitos sobre a “adolescência” e a “juventude” são invenções construídas sócio-historicamente a partir do século XVIII. Entendo a juventude como categoria social, ou seja, como representação simbólica resultante de um período histórico/social numa determinada cultura.
Além disso, levo em conta que esse período é demarcado por outra caracterização, a de que existem “tipos” de jovens e que eles se dividem em microgrupos a partir de interesses e afinidades em comum, ou como indica Maffesoli (1998), em “tribos”. Por exemplo, o jovem da periferia possui valores e modos de vida diferentes do jovem da classe média, pois adquiriu características sócio-culturais de sua realidade urbana. Minhas reflexões sobre a juventude buscam driblar o modo de interpretação lógico-individualista sobre o ser humano, ou seja, acredito que o indivíduo não “enfrenta e resolve” fases de seu desenvolvimento apenas pelas suas capacidades inatas, mas também através de sua interação com o social. Por meio dessa relação é que os jovens buscam modelos identificatórios. É também o momento em que eles recebem da sociedade as condições construtivas ou destrutivas para o desenvolvimento da personalidade. Considera-se que o jovem apático é aquele que é indiferente, indolente ou desplugado dos acontecimentos que rodeiam o seu cotidiano.
Comporta-se seguindo as regras ditadas pelo neoliberalismo de maneira acrítica, tomando como base o Laissez-Faire, lema primevo do discurso capitalista. Quando o jovem é nomeado como violento, é porque sua rebeldia exacerbada é representada como despropositada, que ocasiona um sentimento de mal-estar na sociedade através de suas manifestações sociais, culturais ou por meio do ato, como os jovens em situação de conflito com a lei. Por outro lado, existem outros que são aparentemente “dóceis” que seguem os ditames do mundo adulto e apresentam um quadro de normalidade, frente aos padrões esperados desse período de transição. São aqueles que aceitam os valores adultos; os que estudam, trabalham, rezam, praticam esportes e idolatram ídolos consagrados pela opinião pública.
Portanto, após esta breve apresentação, nos próximos artigos refletirei sobre os jovens e seus modos de subjetivação. A tentativa será pensar como a juventude se manifesta na dinâmica social contemporânea e quais os impasses observados na nossa sociedade.
Bibliografia
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
MAFFESOLI, M. O tempo das tribos: o declínio do individualismo nas sociedades de massa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.