Percebíamos claramente as resistências nas falas das pessoas, que nos diziam em tom de voz amargurado, como era difícil pensar em qualquer mudança. Outro fato percebido na fala das pessoas era o fato de que não compreendiam como suas relações estavam desgastadas já há bastante tempo. Estas pessoas puderam refletir a respeito e conseguiram nos contar a quanto tempo estavam vivenciando este contexto de violência, a partir de nossas colocações.
A partir daí conseguíamos fazer com que estas pessoas organizassem melhor suas idéias a respeito de suas próprias relações com a família e o quanto estas relações originavam a violência. Em alguns casos, foi possível verificar o quanto a história de vida pregressa da pessoa contribuiu para o surgimento da violência como forma de comunicação na família e então, nestas descobertas feitas no diálogo breve, visto que estávamos em plantão psicológico, era possível mobilizar recursos internos, identificar reações e sentimentos que surgiam ao longo da história e também explorar qual seria a expectativa que estas pessoas tinham diante destas novas descobertas e diante da situação que nos relatavam. Houve muitos casos em que as pessoas não se escutavam e não sabiam escutar uns aos outros. Através da nossa conversa, puderam perceber que sua situação não passava de um mal entendido por falta de comunicação. Ao nos relatarem os casos, com nossas intervenções, muitas vezes aconteciam reflexões que levavam as pessoas a enxergar a situação sob um novo contexto não analisado anteriormente. Pudemos notar então que a presença e a escuta das estagiárias foi de grande utilidade para que muitos chegassem à novas conclusões, se reposicionando, ou pelo menos, entendendo as razões de estarem com aqueles sentimentos confusos e contraditórios que nos apresentavam em um primeiro momento.
Maria Silvia Kolzer Navarro – Psicóloga