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Desmistificando o Coaching

O Coaching é uma técnica contemporânea que visa à realização de um acompanhamento individualizado, personalizado de pessoas para o desenvolvimento ou atualização, de suas potencialidades. O termo Coach é muito comum no mundo dos esportes, grosso modo significando treinador. Trata-se de um vocábulo da língua inglesa cuja tradução ao pé da letra seria “carruagem”. O vocábulo em língua portuguesa “cocheiro”, aquele que conduz a carruagem, decorre desse termo. Esse aspecto etimológico e sua aplicação tradicional indicam que a função do Coach é a de conduzir ou treinar.
[b]1. Conceituação[/b]

O Coaching é uma técnica contemporânea que visa à realização de um acompanhamento individualizado, personalizado de pessoas para o desenvolvimento ou atualização, de suas potencialidades. O termo Coach é muito comum no mundo dos esportes, grosso modo significando treinador. Trata-se de um vocábulo da língua inglesa cuja tradução ao pé da letra seria “carruagem”. O vocábulo em língua portuguesa “cocheiro”, aquele que conduz a carruagem, decorre desse termo. Esse aspecto etimológico e sua aplicação tradicional indicam que a função do Coach é a de conduzir ou treinar.

É importante que se compreenda de forma clara qual é o sentido dessa condução, desse treinamento, no que diz respeito ao coaching no desenvolvimento de potencialidades, para isso vou recorrer a uma metáfora. Quando alguém toma um táxi o motorista conduz o carro, mas quem indica o destino é o passageiro. Essa é a típica relação que metaforiza o processo de coaching. O processo está condicionado, é claro, às competências do coach. Assim, em nossa metáfora da viagem de táxi, além da capacidade do taxista de entender as necessidades do passageiro, devem ser levadas em consideração os equipamentos do carro, as condições do trânsito para que o passageiro chegue ao seu destino de forma rápida e segura.

De modo geral, pode-se afirmar que coaching refere-se à técnica, ao processo de acompanhamento, enquanto o coach é o termo atribuído ao profissional que realiza esse acompanhamento sendo o coachee aquele que se submete ao acompanhamento.

[b] 2. Tipos de Processos[/b]

Como se viu o coaching se propõem à realização de um acompanhamento personalizado. Esse acompanhamento pode acontecer em diferentes áreas. Na área esportiva é normalmente denominado de Personal Training, na área comportamental pode ser denominado de Personal Coaching, e na área organizacional Coaching Organizacional e também Coaching Executivo. Esses últimos processos diferenciam-se entre si da seguinte forma: O Coaching Organizacional é aquele oferecido internamente na organização, quando um profissional Sênior acompanha um profissional Junior no desenvolvimento de sua função. O Coaching Executivo, por sua vez, é geralmente aplicado por um coach igualmente Sênior que, de fora da organização, acompanha um profissional de mesmo nível no desenvolvimento de sua carreira. O coaching nos ambientes empresarias está intimamente ligado ao desenvolvimento da liderança, o Organizacional relaciona-se com a função e o Executivo à carreira de maneira geral. Essa abordagem tem apresentado grande expansão nos últimos tempos, marcadamente nos últimos três anos, quando o mercado autoconhecimento corporativo é invado por uma enxurrada de propostas que oferecem esse serviço.

[b]3 – Profissionais[/b]

Quem é o Coach? Ou talvez fosse melhor dizer: quem pode atuar como Coach? O psicólogo? O administrador? O engenheiro? Todos estes profissionais podem estar habilitados a atuarem como coach. Mas é importante que se entenda que o coaching não é uma profissão regulamentada, ou seja, não há cursos superiores de graduação em coaching, nem fiscalização governamental, embora já existam algumas associações de profissionais. A formação se dá em cursos livres (não regulamentos pelo MEC) que em alguns casos conferem até uma certificação internacional, mas que não sofrem fiscalização das autoridades educacionais como acontecem nas universidades, por exemplo. Isso de forma alguma os desabona, porém é importante que os usuários compreendam bem isso. Por isso, podem-se encontrar profissionais de diferentes formações oferecendo esse serviço.

[b]4- Critério de escolha[/b]

A escolha de um profissional de coaching não difere da escolha de profissionais de outras áreas. Para se escolher um bom coach deve-se observar criteriosamente o background do profissional, ou seja, onde e como sua formação acadêmica e profissional. Portanto, é importante que as pessoas interessadas em encontrar um bom coach avaliem a trajetória do profissional de quem estarão contratando. Há, todavia, que se ter cautela nessa avaliação para não cometer injustiças. Pensar que só os profissionais muito experientes ou de longa carreira podem oferecer bons serviços não é necessariamente verdadeiro É preciso lembrar que esses profissionais são normalmente muito bons, isso é um fato, mas a inovação é fruto da ousadia, então pode haver bons coachs no mercado que ainda não são tão experientes, ou mesmo conhecidos, mas são capazes de realizar um bom trabalho. Aí entra o posicionamento estratégico da oferta desses serviços. Os mais experientes irão oferecer normalmente “tradição”, e os mais jovens “inovação”. É claro que profissionais experientes poderão também inovar, mas isso é normalmente mais raro, pois afinal de contas “em time que está ganhando, não se mexer”.

[b] 5 – Metodologias e Abordagens Teóricas[/b]

Evidentemente os processos de coaching variam entre si. Mas, existem alguns elementos comuns dentro de uma estrutura de trabalho que é clássica em processos de desenvolvimento humano, ou de crescimento pessoal. Assim pode-se afirmar que, guardadas as devidas proporções os processos de Coaching têm três etapas: (a) Na primeira etapa se realiza um levantamento das necessidades ou da queixa do coachee. Normalmente devem ser respondidas as seguintes perguntas: Por que a pessoa procurou o profissional de coaching? Quais são seus desejos e suas expectativas? (b) A segunda etapa é dedicada à sondagem da realidade, onde se realiza um levantamento do perfil de competências do participante ou se faz um levantamento dos potenciais que podem ser atualizados. Devem ser respondidas as seguintes perguntas: O que o participante já realizou? O que parece ser capaz de fazer? Quais as bases de realidade para essa realização? Inclui-se aqui um mapeamento das forças e fraquezas do participante; A terceira e última etapa (c) é dedicada ao estabelecimento de um Plano de Ação ou de um Programa de Mudanças Pessoais. Devem ser respondidas as seguintes perguntas: Como o participante irá realizar o que deseja? Essa realização é factível? Quanto tempo isso pode demandar?
Pode-se afirmar que a principal variação encontrada nos processos de coaching oferecidos no mercado está na segunda etapa, ou seja, na forma como os potenciais, ou as competências do participante serão levantadas. Uma observação detalhada da metodologia empregada, dos recursos oferecidos pelo coach ao coachee irá permitir a compreensão que qual é a teoria, a visão de mundo que está por trás do serviço oferecido. É importante que se lembre que a neutralidade inexiste, pois toda ação é intencional refletindo as crenças e os valores de quem as pratica.

[b]6 – Coaching, Educação e Psicoterapia[/b]

Como se afirmou inicialmente o Coaching é um processo de desenvolvimento humano, como o são a educação e a psicoterapia. Então o que os diferencia? Do ponto de vista comportamental o Coaching é um processo de aconselhamento, portanto trata-se de uma intervenção breve com começo meio e fim claramente determinados. Nos processos de coaching mesclam-se ainda conteúdos educacionais, pois normalmente há tarefas a serem realizadas, e conteúdo a ser estudado, assim como estará presente a compreensão clínica ou as atitudes de ajuda própria das psicoterapias como a empatia, a compreensão empática, entre outras.
A psicoterapia, por sua vez, é um processo de longo prazo, onde o psicoterapeuta acompanha o cliente durante um período onde é possível que o psicoterapeuta acompanhe o processo de realização do cliente. Enquanto nos processos marcadamente educacionais ocorre normalmente uma avaliação dos conteúdos que devem ser apreendidos.
No Coaching o trabalho termina quando começa a ação do cliente, pois normalmente o Plano de Ação é realizado de forma autônoma pelo coachee sem o acompanhamento do coach.

[b]7 – Processos de Desenvolvimento Pessoal[/b]

É importante salientar que o Coaching é um processo de desenvolvimento humano, como já se salientou, e tais processos não são lineares. Há momentos de avanço e de retrocesso. Pode-se evocar aqui a metáfora da onda que ao quebrar na praia avança e recua. Em seu recuo, entretanto ela nunca retorna ao seu ponto de partida, embora aparentemente possa assim parecer. A real medida do desenvolvimento é o quanto a maré de fato subiu, e não o ponto em que a onda molhou a praia… Isso pode parecer um pouco frustrante ao coachee, principalmente nos dias atuais em que ainda vivemos sob uma égide progressista, desenvolvimentista. Quando faço essa afirmação já revelo ao leitor qual é minha perspectiva de valores que se refletirá, é claro, na forma como administro um processo de coaching.
Os processos de desenvolvimento humano, como o Coaching, são artigos de valor intangível. Diferente de um carro que é um artigo de valor tangível facilmente compreensível, pois um carro você leva para casa, anda nele e pode vendê-lo, etc. Os processos de autoconhecimento são intangíveis, pois os benefícios não podem ser quantificáveis de forma objetiva direta. Uma coisa é certa cada vez mais as empresas têm investido, sobretudo, com seus funcionários mais graduados, em processos de autodesenvolvimento, pois sabem que quanto mais uma pessoa se conhecesse, mais produtiva ela se torna, pois é capaz de administrar melhor as demandas, os conflitos, e as pressões do dia-a-dia organizacional. Os profissionais, entretanto, embora aceitem de bom grado o coaching, quando lhes é oferecido pela empresa, muitas vezes relutam em buscá-lo si mesmo. Em tempos de alto consumo como os que vivemos hoje, as pessoas esquecem de investir em processos autoconhecimento. Preferem gastar em coisas materiais a investir nelas mesmas. Esquecem, por exemplo, que se perderem o emprego é sua capacidade de se recriar, sua capacidade de resiliência aquela que mais a irá ajudar numa recolocação e não o carro que possuem. Qualquer pessoa é capaz de dimensionar quando deve procurar ajuda, como diria Covey (2005) basta parar para ouvir sua voz interior, o importante é querer fazê-lo. É fundamental que se diga que nunca é tarde para investir em si mesmo. Momentos de crise como os que vivemos hoje, conferem ótimas oportunidades para a reciclagem, pois evidenciam que as coisas precisam mudar, pois do jeito que estavam não funcionam mais.

[b] 8 – Coaching e Empowerment[/b]

Em termos ocidentais, talvez uma das formas mais eficazes de se trabalhar o Coaching seja pelo empowerment. Blanchard (2001) afirma que o conceito surgiu nos anos 1980 e ainda é muito mal compreendido nas organizações. Empoderar (talvez a melhor tradução para o termo) significa conceder ou atribuir poder ao outro. Neste sentido, qualquer tipo de coaching, seja ele, pessoal, esportivo, organizacional pode levar ao empoderamento de modo que o coachee consiga acessar seus potenciais, seu poder pessoal e atualizá-lo. É neste sentido que trabalha a liderança servidora de James Hunter (2004, 2006). Trata-se, pois de uma perspectiva que aponta antes de tudo para o self-empowerment, o autoempoderamento, visto que a distinção vida pessoal x vida profissional é uma ilusão. Toda vida é pessoal essa cisão é fruto de um pensamento mecanicista do século passado, hoje felizmente cada vez mais em desuso. Quanto mais as pessoas seguirem a máxima que estava escrita no templo de Apolo, em Delfos na Grécia – “Conhece-te a ti mesmo”, mais felizes e poderosas serão. Isso remete à liderança situacional, ou seja, não importa a posição, lugar em que as pessoas estejam ou a função que ocupem na escola, na empresa, na organização. É sempre possível liderar lugar desse ponto. Os maiores heróis que a história foi capaz de conhecer foram aqueles que de maneira inusitada exerceram um papel de liderança em um momento em que não tinham que fazê-lo, portanto, é sempre tempo de procurar se autoconhecer.

[b]Conclusão[/b]

Finalizo afirmando que existem muitos processos de autoconhecimento, o Coaching é apenas mais deles, com muitas possibilidades, é verdade. De forma sintética poder-se-ia afirmar que o coaching ajuda a estabelecer congruência entre o pensamento e a ação evitando a dispersão, ou seja, ajuda o participante a estabelecer foco e a buscar realização de forma factível, baseado em possibilidades reais. É fundamental que as pessoas ampliem seu grau de autoconhecimento, isso as fará mais competentes, mas tolerantes e compassivas capazes de respeitar a diversidade. Assim, escolha um processo lhe seja mais adequado, invista em você mesmo, isso certamente o fará mais feliz, pois você se tornará o verdadeiro líder de seu caminho de vida!

[b] Referências:[/b]

BERNI, L E V, Self-Empowerment – Jornada de Transformação: Um Método Transpessoal de Personal Coach via Internet. (tese de doutorado), IPUSP, 2008. 240p.

BLANCHARD, K. H. Três Chaves do Empowerment. Rio de Janeiro: Record, 2001.285p.

BOAINAIN JUNIOR., E. Tornar-se Transpessoal. São Paulo: Summus, 1998. 284p.

COVEY, S. R. O 8º Hábito. Da Eficácia à Grandeza. São Paulo: Elsevier, 2005. 410p.

HUNTER, J. Como se Tornar um Líder Servidor. Rio de Janeiro: Sextante, 2006. 136p.

______. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. 144p.

MAY, R. O Homem a Procura de Si Mesmo. 16ª ed., Petrópolis: Vozes, 1990. 230p.

MILLMAN, D. O Caminho do Guerreiro Pacífico. São Paulo: Pensamento, 2006. 224p.

______. A Jornada Sagrada do Guerreiro Pacífico. São Paulo: Pensamento, 1997. 223p.

PARRY, D. Warriors of the Heart. Earthstewards Network Publishing, Bainbridge Island, 1991. 200p.

ROGERS, C. R. Tornar-se Pessoa, 3. ed., São Paulo: Martins Fontes, 1990. 360p.

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