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A crise veio para providenciar um momento de reflexão

Com esta afirmação, Leonardo Boff abriu sua palestra no segundo dia do programa Gestão Estratégica para a Sustentabilidade, realizado pelo UniEthos entre os dias 18 e 20 de março, em São Paulo.

O filósofo e teólogo, autor de mais de 70 livros, seguiu explicando que é preciso pensar nossa realidade na perspectiva da transformação: “A realidade obriga a pensar numa direção, dados os desafios que ela coloca à nossa inteligência. A crise é uma chance para um salto quântico, pelo qual podemos fazer uma passagem de paradigma”.

Segundo Boff, estamos exatamente na eminência da erupção de uma mudança que envolverá toda a humanidade. “Por enquanto, as coisas antigas ainda não morreram e as novas ainda não tiveram força para nascer. É um momento raro, de reinvenção da convivência humana, quando se abrem horizontes de esperança, desde que iniciemos práticas novas”, comenta.

O professor salienta que será necessário um novo acordo entre as nações do mundo para proteger a vida humana no planeta. Ele alerta para o fato de que já estamos no aquecimento global e a Terra está buscando adaptar-se a ele, trabalhando para um equilíbrio. “Somos a parte inteligente da Terra e participamos dessa busca”, explica. “Nos próximos anos, teremos de 150 a 200 milhões de migrantes climáticos; é imprescindível traçarmos estratégias para diminuir o aquecimento e manter as pessoas onde elas estão.”

[b]Capitalismo salvo pelo socialismo [/b]

“Tocamos nos limites da Terra e os maiores pensadores atuais reavivam a noção de intervenção do Estado como solução para salvar o sistema. O mito de que o mercado se autorregula se desfez. Quer admitam, quer não, o capitalismo está sendo salvo pelo socialismo”, declarou o Boff.

Segundo sua visão, para criarmos um novo equilíbrio temos de reinventar a função econômica, organizando melhor a produção e a distribuição, para que todos possam viver bem; reinventar a função social, para construirmos uma organização melhor, com menos conflitos; e reinventar a função ética, pois uma sociedade que não cria suas utopias, seu conjunto de valores, se perde.

“As questões cruciais são: o que queremos para a humanidade e que valores estão na base. Precisamos ocupar mais as pessoas, e não produzir mais. Precisamos de uma sociedade com mercado, mas não de mercado”, salienta. “O capital não pode ocupar tudo. Ele tem de ter seu limite, sua ética. Hoje, ele é como um lobo sedento, e não adianta apenas limar os dentes desse lobo, pois sua voracidade não está nos dentes. É mandatório mudar a figura”, conclui Boff.

Ele segue citando o livro A Crise do Capital, do megainvestidor húngaro George Sörös, que diz: “Se você quer colaboração, verdade e compaixão, não vá para o mercado”.

“Crise vem de ‘crio’, do sânscrito, que significa limpar purificar. A crise pode tomar esse rumo de depuração”, acredita o filósofo. “Os próximos passos podem ser caminharmos com uma perna no sistema vigente, que tem seus dias contados, mas faz parte da transição, e com a outra perna num novo projeto planetário humano.”

“A Terra pode muito bem viver sem nossa presença. Em 30, 40 anos estará recuperada dos danos que causamos. O que está sob ameaça é a vida humana. Temos de mudar. Ou mudamos ou morremos”, diz o professor.

Apesar do duro alerta, Leonardo Boff considera-se otimista e lembra: “O ser humano é um ser espiritual. Nossa história vai além da Terra. A vida é maior que a morte. Podemos unir a força da ciência – praticada com ética e respeito –, à força da religião. Ambas transformam”.
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Visão quântica [/b]

Para ele, todo o cenário de crise pode ser visto de um ângulo inusitado, partindo dos conhecimentos de física quântica. Segundo o filósofo, essa ciência comprovou que tudo é energia: “Mesmo o que chamamos de matéria é, na realidade, energia altamente densificada”.

Dessa forma, tudo é passível de transformação. “O universo tem o impulso de criar formas mais e mais complexas, que se esforçam para ganhar estabilidade”, diz. “Assim, a realidade está carregada de virtualidades, de possibilidades que podem eclodir a qualquer instante. Nós podemos influir naquilo que desejamos que permaneça.”

Para o estudioso, a globalização está criando a base para unir a humanidade. “Já imaginaram as sinapses dos cérebros de todos os seres humanos juntas? Essa união poderia realizar grandes mudanças”, comenta, lembrando que a energia primordial está por toda parte e que devemos evocá-la. “Ela age dentro de nós”.

Segundo Boff, ao ampliarmos o olhar para a compreensão de um universo formado por energia podemos entrar em melhor sintonia com o todo e buscar, conscientemente, um equilíbrio. “ A própria Terra está em stress e acelerada”, destaca o pensador, fazendo referência às medições da Ressonância de Schümann, que apontam um aumento de 7 para 11 vibrações. “Com um pensamento consciente e a opção por estarmos calmos e evitarmos manifestar violência, ajudamos a Terra a se harmonizar.”

Ele destaca também a necessidade de unirmos a sustentabilidade – isto é, o uso eficiente dos recursos –, ao cuidado, ou seja, ao gesto amoroso com a realidade. “Temos de planejar, pensar antes que atitude devemos ter para que as coisas aconteçam bem.”

“O maior valor está no coração, e não na razão. Precisamos de um resgate do coração.”

Para Boff, esse resgate pode levar à ecossimplicidade: sermos mais, com menos. E ele conclui reafirmando que a humanidade tem capacidade para a solidariedade, e não apenas para a competição. “As condições estão sendo dadas para uma tsunami do bem. A revolução começa na mente de cada um. Podemos alcançar uma ética mundial, com convergência, na diversidade.”

Que assim seja!

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