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Escravos da Tecnologia – Estresse causado pela dependência tecnológica

Atualmente não há como um empresário implementar excelência em sua atuação profissional e/ou em seus negócios sem utilizar de ferramentas tecnológicas, tais como computador, lap top, palm top, blackberry, celular, dentre outras tecnologias.
ESCRAVOS DA TECNOLOGIA – ESTRESSE CAUSADO PELA DEPENDÊNCIA TECNOLÓGICA  

Entrevista concedida para a REVISTA GESTÃO E NEGÓCIOS – Janeiro/2008

 

* Alaide Degani de Cantone

   

1. O que leva os empresários hoje ficarem escravos da tecnologia? Isso causa um desgaste físico e emocional? De que maneira?

 

Atualmente não há como um empresário implementar excelência em sua atuação profissional e/ou em seus negócios sem utilizar de ferramentas tecnológicas, tais como computador, lap top, palm top, blackberry, celular, dentre outras tecnologias. A rapidez das informações e a alta competividade por emprego e/ou destaque profissional faz com que cada vez mais se utilize das novas formas de comunicação e mais, deverão estar sempre atualizadas. No entanto, há empresários bem como profissionais de diferentes formações, que se tornam escravos da tecnologia prejudicando sobremaneira sua qualidade de vida tanto no aspecto profissional quanto pessoal. Tais pessoas “enlouquecem” quando ocorre algum problema em seu computador ou outro aparelho, tornando-se até irascíveis e, outros, chegam a apresentar sentimentos de impotência diante da situação. Para estas pessoas, viver, na circunstância de “isolamento de tudo e de todos” causados pela ausência de comunicação tecnológica, torna-se quase impossível.

  

2. O que o estresse causado pela dependência tecnológica pode afetar na saúde e na vida do profissional?  Quais os maiores danos ou prejuízos a saúde de alguém que fica dependente da tecnologia? (Celulares, computadores, etc.)  Quais as doenças ou problemas mais comuns causados no trabalho por essas questões?

 

Com relação ao estresse, resultante de qualquer situação onde o limite de suportação de adversidades é ultrapassado, o indivíduo poderá desenvolver Transtornos Psicossomáticos. Estes, normalmente se referem à fadiga crônica, freqüentes dores de cabeça, dores nas costas, pescoço, dores musculares e de coluna, problemas com o sono, úlceras digestivas, hipertensão arterial, taquiarritmias, e outras desordens gastrintestinais, alergias, etc. No tocante à manifestações comportamentais podem ocorrer condutas aditivas e evitativas, tais como consumo aumentado de café, álcool, fármacos e drogas ilegais, distanciamento afetivo, aborrecimento constante, impaciência e irritabilidade, sentimento de onipotência, desorientação, incapacidade de concentração, sentimentos depressivos, freqüentes conflitos interpessoais no ambiente de trabalho, na vida social e dentro da própria família. Percebe-se assim, a possibilidade da ocorrência de graves danos emocionais, físicos e sociais.

  

3. Como evitar que alguém fique escravo da tecnologia?

 

Aspectos positivos da tecnologia é que podemos nos comunicar a qualquer hora, a qualquer momento. No entanto, por conta do fuso horário, alguns executivos acordam de madrugada para entrar em contato com seus chefes ou clientes. Isso, ao longo do tempo, gera o que James Quick, especialista em comportamento organizacional e autor de 17 livros e mais de 100 artigos sobre estresse, de “tecnoestresse”.

Penso que a melhor forma de cuidarmos da saúde do indivíduo é através da informação e orientação visando promover reflexões sobre a vida e o viver de cada um e, a partir daí, proporcionar condições de mudança no estilo de vida pessoal e profissional, que, para mim, estão intimamente interligadas e se interdependem. Essa é uma questão que abrange mudanças de comportamentos, hábitos e estilo de vida. Como profissional da saúde nosso dever é desenvolver a prevenção e, quando o dano já está feito, no caso a dependência tecnológica, é informar sobre os prejuízos psíquicos, físicos e sociais. A mudança irá decorrer da tomada de decisão do indivíduo. Compete somente a ele decidir por uma vida mais saudável e feliz e, caso não consiga sozinho, faz-se necessária uma ajuda psicoterapêutica de um bom profissional.

  

4. Como ajudar o empresário hoje a se desligar do celular, lap top, palm top e todas essas tecnologias que o fazem ficar ligado 24 horas por dia no trabalho?

 

Bem, penso que é através da informação sobre a trajetória para a saúde bem como para o adoecimento. O ser humano necessita de certa quantidade de pressão para cumprir suas tarefas diárias, ser estimulado a perseguir novos objetivos e até para saciar as necessidades básicas de fome e sede. Diremos que esse é o eutresse, ou seja, o estresse positivo. No entanto, há outro tipo de estresse, o negativo, que é quando uma tarefa exige uma quantidade exagerada de energia para ser desempenhada e exige recursos do indivíduo que estavam alocados para outras funções. Estas, por sua vez, ficarão comprometidas. Muitos acidentes de trânsito ocorrem por esse deslocamento de energia que torna a pessoa desatenta e diminui seus reflexos. o estresse continuado, ocasionado por um trauma não sobrepujado, mina o sistema imunológico. Propicia o descontrole de neuro-transmissores cerebrais (entre eles a serotonina e a noradrenalina), causando depressão. um organismo debilitado em suas defesas (especialmente carente das células Nk, chamadas de matadoras naturais de células tumorais) e deprimido, tem mais chances de permitir o aparecimento e o desenvolvimento de tumores, dentre outros tipos de adoecimentos.

  

5. Você acha que a tecnologia é um ponto negativo no que diz respeito a tornar o empresário “relaxado”, ou seja, sua capacidade de raciocinar, tomar decisões, executar suas tarefas diárias, etc, acabam sendo prejudicadas?

 

Não necessariamente. Penso que a ponderação e o bom senso devem nortear sempre a nossa forma de viver, tanto no que diz respeito à promoção da excelência na empresa quanto à forma de nos relacionarmos com clientes, família e amigos. A tecnologia é ferramenta que pode nos trazer excelentes contribuições, no entanto, há que se colocar um limite de utilização, isto é, reservar um determinado tempo para cuidarmos das nossas relações pessoais, familiares, afetivas bem como da nossa saúde. Atualmente, desenvolver uma prática esportiva é condição prioritária para promovermos a saúde física e mental.

  

6. Como usar a internet, computadores, celulares de maneira saudável?

 

A colocação de limites quanto às horas dedicadas à profissão é fator primordial para se resgatar uma vida saudável. Reservar horas de lazer, atividades esportivas, estar com a família, com amigos, desenvolver novas amizades contribuem sem dúvida para o aprimoramento pessoal e profissional de cada um. Quanto tempo dedicado a cada item é questão bastante particular e individual. O resultado do tempo destinado a essa nova forma de viver precisa trazer sentimentos positivos e gratificantes. Ser saudável, feliz e bem sucedido profissional e pessoalmente é uma questão de escolha e conquista diária; é uma tomada de atitude; é uma postura diante da vida e do viver.

  

7. Teria mais alguma questão que eu não perguntei que a senhora acha importante citar na matéria?

 

O ser humano é de vasta complexidade; seus aspectos físicos e mentais estão inseridos em um estado de interação simbiótica, já anteriormente descrita por Aristóteles: “psique (alma) e corpo reagem um com outro, uma mudança no estado da psique produz uma mudança no corpo e vice-versa”.

Sendo assim podemos dizer que todas as doenças têm seus aspectos psicológicos que devem ser levados em consideração em todo o processo de adoecer.

A patologia passa então a ser interpretada como algo que não está “funcionando bem” tanto em suas características físicas como mentais. Adoecer também poderá ser compreendido como uma expressão de um estado psíquico atípico; como se o sujeito expressasse através do soma (corpo), seus males psíquicos.

Qualquer tipo de dependência poderá ocasionar prejuízos no ser humano. O adoecer está intimamente ligado com a capacidade do sujeito lidar com suas emoções e sentimentos. A manifestação dos sintomas é um sinal de que algo não vem fluindo bem há algum tempo; esses sintomas representariam a quebra dos limites do sujeito. Assim, quando o nível de suportação de adversidades é extrapolado, as alterações emocionais tornam-se presentes, antes e durante o curso da patologia, podendo estas alterações emocionais ser dos mais diversos cunhos, seja um sentimento de insegurança, retraimento social, dificuldade para expressar seus sentimentos, sensibilidade afetiva muito aumentada, incapacidade de lidar com perdas e frustrações.

Atualmente, já está constatado o importante papel da alegria na prevenção de processos de adoecimento. As investigações sobre as contribuições do bom humor para a saúde são mais recentes e menos numerosas que os estudos sobre os efeitos danosos da tristeza, da angústia e da raiva. A atividade das células tipo Natural Killer (NK), importantes na imunidade contra tumores, mostrou os efeitos de programas que estimulam o riso e o bom humor no aumento da atividade desses componentes imunológicos, ao mesmo tempo em que os estados depressivos enfraqueciam esse aspecto da defesa orgânica (Takahashi, 2001). Dessa forma, cabe a cada um de nós optarmos por uma vida saudável ou adoecida. É uma questão de escolha. Ser saudável e feliz é um processo de conquista diário.

 

  

* Alaide Degani de Cantone

Psicóloga Clínica e Hospitalar

Coordenadora do CEPPS Centro de Estudos e Pesquisas em Psicologia e Saúde

Tel: 11 3476-8365

Site: www.cepps.com.br

E-mail: cepps@cepps.com.br

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