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PSYU Nº2 – Coluna DELPHO – Abril/2000

As dúvidas enviadas pelos leitores, são aqui respondidas pelos nossos editores correspondentes de algumas áreas da psicologia. Você, leitor, envie-nos perguntas e críticas teóricas.

Transtorno do Pânico

As dúvidas enviadas pelos leitores, são aqui respondidas pelos nossos editores correspondentes de algumas áreas da psicologia. Você, leitor, envie-nos perguntas e críticas teóricas.

Transtorno do Pânico

Para compreender o Ataque e a Síndrome do Pânico devemos olhar além de suas manifestações puramente somáticas. O pânico não é vivido apenas como taquicardia, sudorese e asfixia (entre outros sintomas), mas envolve a existência daquele que, por ele, é tomado. Da mesma forma, submeter esse fenômeno a causas hipotéticas no passado, além de tirar-lhe a integridade, mostrará uma total incompreensão por parte do terapeuta, daquele que apresenta a queixa. Devemos entender o que se teme, como é o temor e pelo que se teme. Os ataques são randômicos, sendo impossível determinar quando e onde ocorrerão. Porém, sabemos pelo que se teme: a morte indicada no ataque. Na Síndrome do Pânico, a pessoa vive num constante estado de alerta, no qual manifestações fora do comum são compreendidas como indicativas de um ataque próximo e podem levá-la a abandonar e/ou evitar a situação em que ocorrem, resultando num estreitamento de possibilidades.

O que estrutura o temor na Síndrome do Pânico é justamente a aproximação do ataque e sua possibilidade de tomar a pessoa ou simp[lesmente desaparecer. Essa aproximação só é possível pois a ameaça presente no ataque já é próxima a ela, isto é, já faz parte de seu mundo. Para que a temeridade do ataque seja compreendida, é necessário que o ser ja esteja “aberto” (disposto) para compreender o caráter ameaçador das coisas que vêm de encontro. Na S. P., como em todo temor, teme-se pela própria existência. Só pode temer por ela quem nela já estiver lançado.

O Ataque de Pânico é uma vivência ameaçadora intensa que indica a precariedade da existência e aponta o horizonte inevitável da existência humana: a finitude. O caráter de finitude pertence a todos os fenômenos humanos, mas não é necessariamente compreendido como ameaçador. A ameaça do pânico pode ser entendida, assim, como reveladora da abertura (disposição) que se tem na vida.
POR PAULO EVANGELISTA, FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL
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O sintoma mais comentado da chamada Síndrome de Pânico é a quase invariável sensação de morte iminente, ou um medo profundo e aterrorizador de que ela venha a acontecer em qualquer instante, paralisando o sujeito.

A psicanálise talvez nos elucide um pouco como isso pode acontecer. Primeiramente aceitamos que o indivíduo é um ser clivado, vivendo sob os efeitos do recalque. Por trás desse recalque está o Inconsciente. Lá estão conteúdos que nos causam intenso sofrimento, inclusive desejos que não queremos aceitar como nossos. Dentre esses desejos, é frequente que tenhamos alguns hostis, que queiramos de maneira muito sincera a morte de alguém. Em certas situações esses desejos são aceitos por nós, mas convenhamos que na maioria das vezes não nos causa nenhum gozo sabermos que queremos uma morte, principalmente quando se trata de um ente querido.

Como qualquer desejo inconsciente, este, por diversos motivos, pode vir a tona. Desejar algo é, no inconsciente, como se o tivéssemos realizado. No momento em que sentimos esse desejo hostil, ele surge como culpa, uma culpa às vezes avassaladora. É isso o que parece ocorrer no caso da crise de Pânico. O sujeito, por muitas razões, não elabora a culpa que sente por seu desejo de matar alguém; isso é sentido de forma inversa, um medo terrível de que sua morte possa acontecer, tal qual a lei de Talião: olho-por-olho, dente-por-dente. Nesse caso a culpa é tão intensa que impede qualquer ação do indivíduo. A psicanálise nos ensina que somente através da percepção consciente dessa culpa o indivíduo pode minimizar seu sofrimento.
POR IVAN ESTEVÃO, PSICANÁLISE
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O chamado “Transtorno do Pânico” possui, como base diagnóstica, um quadro categorizado principalmente pela ciência psiquiátrica. Preocupada com a descrição da sintomatologia clínica, esse ramo da ciência estabeleceu alguns “sintomas” que, se preenchidos tais requisitos, poderá um indivíduo ser então diagnosticado como sendo portador do “Transtorno do Pânico”.

Para o CID-10 (Código Internacional de Doenças), por exemplo, diagnostica-se essa doença: quando vários ataques graves de ansiedade autonômica devem ter ocorrido num período de cerca de 1 mês (a) em circunstâncias onde não há perigo objetivo; (b) sem estarem confinadas a situações conhecidas ou previsíveis e (c) com relativa liberdade de sintomas ansiosos entre os ataques.

No entanto, para um analista do comportamento, descrições da forma ou da estrutura dos comportamentos que caracterizam o transtorno, não são suficientes para a formulação de um quadro explicativo. A Análise do Comportamento se preocupa em oferecer instrumentos para a realização de uma análise funcional. Este método possui como base a análise da relação comportamento X ambiente, podendo assim verificar algumas variáveis de controle que podem estar influenciando na ocorrência de certos comportamentos. Este é o principal objetivo pelo qual a análise será sempre diferente para cada indivíduo, não cabendo, dessa forma, um diagnóstico do “tipo fechado”.

Mesmo assim, pode-se traçar alguns aspectos em comum entre pessoas “diagnosticadas” com esse transtorno. Ainda se estuda a causa dos primeiros ataques, no momento acredita-se serem imotivados, ou seja, sem uma causa específica desencadeante. Um Ataque de Pânico consiste em um sentimento intenso de apreensão ou fim iminente, tem um ciclo repentino e está associado a uma grnade variedade de sensações físicas pertubadoras tais como: palpitações, dores no peito, sensação de asfixia, tontura, formigação dos pés e das mãos, ondas de frio e de calor, sudorese, sensação de desmaio, tremores, entre outros. Presume-se que esses eventos são altamente “desagradáveis” para a pessoa, e no momento em que ocorrem os primeiros ataques, (o que pode acontecer em qualquer ambiente) há a possibilidade de pareamento das reações corporais aversivas com o estímulo ambiental.

Por exemplo, uma pessoa tem um Ataque de Pânico no cinema. Há uma grande probabilidade de sintomas parecidos voltarem a ocorrer quando ela novamente for ao cinema. O que acaba acontecendo é uma evitação de lugares semelhantes onde já ocorreram ataques. No entanto, esta alternativa adaptativa pode limitar e muito a qualidade de vida de uma pessoa, pois os lugares evitados tendem a aumentar. O que se propõe como tratamento é basicamente um processo de exposição a tais lugares, nos quais as respostas corporais tenderão a diminuir com o tempo, ou seja, lugares antes evitados podem deixar de desencadear tais respostas conforme a exposição e assim, esses locais poderão gradativamente deixar de serem aversivos.

Posteriormente, o tratamento medicamentoso pode ser útil para evitar novos ataques que parecem ser realmente imotivados e talvez, de ordem biológica. Vale salientar que se quisermos buscar uma “causa”, devemos olhar para a história de vida do paciente, seja ela biológica, pessoal, ou social e analisar se outros eventos podem estar mantendo, tanto os ataques como também as respostas subseqüentes, principalmente as de evitação e fuga.
WAGNER A. G. MOHALLEM, PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL

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