Freqüentemente usado por Jung para se referir à intenção da análise e implicando algo diferente de uma "cura" objetiva (ver Gordon, 1978). Isto é, o objetivo ou produto final é definido em termos do indivíduo em questão e qualquer que seja a forma que sua potencial totalidade possa assumir. De modo semelhante, o desejo de Jung de distinguir a análise psicológica da medicina em geral, e sua ênfase na qualidade da personalidade do analista, daquilo que via como a lealdade ou sujeição de Freud à técnica em particular, levou-o a se referir ao processo de cura como uma arte, às vezes uma "arte prática". Também ligava o processo de cura a compaixão – uma opinião que encontra ressonância em tentativas modernas de caracterizar os elementos eficazes no relacionamento terapêutico como a calorosidade, a autenticidade e empatia do terapeuta. Os sintomas podem ser considerados de um ponto de vista psicopatológico ou como tentativas naturais para a cura.
A imagem do médico ferido é às vezes introduzida para eIucidar vários aspectos da análise. Meier (1967) traçou paralelos entre as antigas práticas de cura dos templos de Esculápio e o tratamento analítico. As práticas de cura tinham lugar em um cenário fechado, o temenos ou precinto de templo, e incitavam ao sono na esperança de o "paciente" ter sonhos de cura. O mestre das artes de cura, Chíron, o centauro, é descrito como sofrendo de uma ferida incurável. Pode-se julgar o analista como médico ferido, o cenário analítico que permite a regressão e o abandono de atitudes carregadas de excesso de consciência, como o temenos.
Esse tema foi posteriormente desenvolvido por Guggenbühl Craig (1971). O motivo do médico ferido é uma imagem simbólica de algo arquetípico. Eis por que pode conter dois elementos aparentemente contraditórios. Porém, em nossa cultura, tendemos a dividir a imagem de modo que a figura do analista em qualquer relacionamento de ajuda se torna todo-poderosa; forte, saudável e capaz. O paciente não passa de um paciente; passivo, dependente, "hospitalizado". Se todos os analistas possuem uma ferida interna, então apresentar-se um analista como "saudável" é excluir parte do seu mundo interior. Do mesmo modo, se o paciente é visto apenas como "doente", então está também excluindo sua própria saúde interna ou sua capacidade de se curar. Idealmente, embora o paciente possa inicialmente projetar suas capacidades de autocura sobre o analista, mais tarde ele as retomará. O analista projeta sua própria experiência de estar ferido para dentro do paciente, a fim de conhecer o paciente em um sentido emocional (ver a definição, por Kohut, de empatia como uma "introspecção vicária").
A instituição da análise didática é um reconhecimento do fato de que, como profissão, a análise atrai "curadores feridos". Existe crescente evidência de que isso é pertinente a todas as profissõ5s terapêuticas e pode mesmo constituir uma qualificação para um tal trabalho (Ford, 1983). Jung enfatizava que um analista só pode levar uma pessoa até onde ele próprio chegou.
Jung fez diversas observações culturais adicionais concernentes ao processo de cura: (a) a iniciação indica o processo de cura; (b) as religiões funcionam como "grandes sistemas de cura psíquica"; (c) o sacrifício, literal ou simbólico, corporal ou financeiro, é necessário para o processo de cura – nada se obtém salvo se alguma coisa é abandonada; (d) existe uma necessidade universal e um interesse em relação ao processo de cura.