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Dicionário

MAGNAN, Jacques-Joseph-Valentin (1835-1916)

Valentin Magnan nasceu a 16 de março de 1835 em Perpignan. Começou seus estudos de medicina em Montpellier, foi admitido em 1858 na residência dos Hôpitaux de Lyon, teve no Hospital L' Antiquaille os seus pri­meiros contatos com os serviços de aliena­dos, e em 1863 foi nomeado para a residência dos Hôpitaux de Paris. Aluno de Marcé e de Prosper Lucas no Hospital Bicêtre, de Bail­larger e de J. -P. Falret na Salpêtriere, defen­deu em 1866 uma tese, "Da lesão anatômica da paralisia geral". Em 1867, foi designado para o escritório de admissões do Hospital Sainte-Anne, que acabava de abrir as suas portas. Faria nele toda a sua carreira, com seus colegas Dagonet, Bouchereau e Pros­per Lucas, ministrou em 1873 um curso clí­nico, que passou no início por algumas vicis­situdes administrativas. Em 1877, Benjamin Ball foi preferido a ele para a cátedra de doenças mentais e do encéfalo, recentemente criada. Eleito em 1893 para a Academia de Medicina, deixou em 1912 o seu serviço hos­pitalar e retirou-se para a Casa de Saúde do Castelo de Suresnes, que fundara em 1875. Morreu em Paris a 27 de setembro de 1916.

O problema do alcoolismo "provedor mais ativo dos hospitais e dos asilos", preo­cupou Magnan durante a sua existência pro­fissional. Desde 1864, descreveu para a União médica os acidentes determinados pe­lo licor de absinto, toxicomania muito na moda, à qual o seu mestre Marcé dedicou a sua última publicação, alguns meses antes. Em 1874, publicou um tratado Do alcoolismo e em 1912, ano de sua aposentadoria, recapi­tulou, com Fillassier, a estatística dos bebe­dores que tinham passado pelo escritório de admissão durante os 45 anos da sua atividade, preconizando a criação de asilos especiais para o tratamento de doentes intemperantes.

Entretanto, a parte mais original da obra de Magnan trata da classificação das doenças mentais que o preocuparam a partir de 1881. Ao que ele chamava de estados mistos ­entre a patologia geral e a psiquiatria, em virtude do seu suporte "orgânico" (como par­tidário e amigo de Charcot classificava as­sim a histeria) – opôs a área das psicoses ou loucura propriamente dita. Nessa segunda categoria, isolou a loucura dos degenerados (lembre-se que foi aluno de Prosper Lucas, que em 1850 publicou o Tratado filosófico da hereditariedade natural), apanágio dos here­ditários-degenerados, grupo que, ao lado dos idiotas e dos imbecis, comportava os degene­rados superiores, alvo da loucura degenerativa, e especialmente da sua forma mais es­pecífica, a dos delírios súbitos – primeiro aparecimento, no palco nosológico, da noção de "bouffée delirante".

Quanto aos indivíduos que não apresenta­vam estigmas evidentes de degenerescência, sua tara latente os predispunha, todavia, a acidentes como a loucura intermitente ou o delírio crônico sistematizado, último aper­feiçoamento do delírio de perseguição de Lasègue, cujo rigor de organização Magnan opunha ao polimorfismo dos estados precedentes.

Enfim, no plano terapêutico, insurgiu-se, logo que chegou a Sainte-Anne, contra o uso da camisa-de-força, que substituiu pelo mail­lot, antes de preconizar, a partir de 1878, o método de não-contenção e a supressão do isolamento celular, e depois, em 1897, a cli­noterapia ou repouso prolongado no leito (Marc Stephane, seu antigo pensionista, o acusava de prescrever o "abatimento perpé­tuo"), única maneira, segundo ele, de propor­cionar ao cérebro o repouso necessário, mas de aplicação nem sempre evidente no caso dos doentes agitados.

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