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Panorama Histórico dos Saberes sobre o Digital

Neste texto, exponho um panorama das obras acadêmicas mais notórias sobre a Era Digital.

Para efeitos didáticos, divido essa produção de saberes, iniciada nos anos 1940, em quatro fases: a das especulações teóricas; das primeiras críticas éticas; da Utopia Digital e a atual, da Gestão Incremental.
O objetivo deste artigo é explanar de forma abrangente sobre os principais nomes e conceitos que modelaram o saber acadêmico da Era Digital, e não se aprofundar em um ou outro.

Começando este Panorama Histórico em 1940… Fase I – Especulações Teóricas Determinada pelo início da visão de Ciência como Tecno-Ciência; pelo advento da Industria Cultural e os "mass media". Nesse contexto, a discussão em torno do "processamento de dados" começa, no início das Ciências da Computação. 1940 – 1943, A logical calculus of the ideas immanent in nervous activity (1943), de Warren McCulloch e Walter Pitts (Artigo teórico-especulativo sobre IA). – 1944, ENIAC (Eletronic Numerical Integrator and Calculator), computador com transistores, e não válvulas.

O primeiro passo para diminuir o tamanho dos computadores. – 1945, MEMEX, (Memory Extender), protótipo conceitual do hiper-texto, desenvolvido por Vannevar Bush – 1948, John von Neumann defende a impossibilidade da IA – O filósofo alemão Martin Heidegger teoriza sobre a predominância da técnica na sociedade ocidental. – Adorno e Horkheimer cunham o termo “Indústria Cultural”: repetibilidade e técnica como idelogia, pseudocultura, tecnicismo, comércio fraudulento. – B. F. Skinner cria o conceito de “máquinas de ensinar” com instrução dirigida, sem fazer grandes desenvolvimentos experimentais.

É o início do teorização pedagógica em torno dos computadores. 1950 – Suzanne Langer, filosofa, teoriza sobre mundos virtuais criados pela imaginação. – Skinner expande o conceito de Condicionamento Operante, aplicando-o a formas de educação, incluindo máquinas, mídias, sociedades, etc. Afirma que os computadores são "a pedagogia do futuro". Fase II – Primeiras Críticas Éticas Marcada pela intensificação dos "mass media". Início da popularização dos computadores. 1960 – 1964, Understanding Media: The Extensions of Man.. Marshall McLuhan teoriza sobre as mídias como extensões do homem e da revolução não apenas nas comunicações mas no modo de vida, advinda das mídias digitais. É duramente rejeitado pelo meio acadêmico. Hoje, torna-se um cult e visto como "profeta" da Era Digital. – 1967, “A Sociedade do Espetáculo”, França, de Guy Debord.

É a vez de comentar como o Capital se tornou um bem abstrato, intangível e fugaz. O glamour passa a ser moeda, e a sociedade passa a consumir mercadorias cada vez mais abstratas. – No meio dos anos 1960 começa a aparecer estudiosos da Psicologia Cognitiva, cuja principal tese é da cognição como processamento de dados. Jerome Bruner, Hermann Ebbinghaus, etc. O computador passa a ser um modelo explicativo para a "mente". 1970 – Peter Senge preconiza a era do capital humano, advinda das novas tecnologias. – Peter Drucker começa a escrever sobre Administração na Era da Informação. – Ivan Sutherland, computação gráfica, fala de mundos virtuais gerados em computador. – Daniel Dennett, filósofo, expande epistemológicamente o modelo computacional da mente que começa a ganhar peso no meio da Psicologia acadêmica. – John Searle nega a existência ou possibilidade da Inteligência Artificial Forte com sua teoria sobre intencionalidade e a consciência. 1980 – 1984, TURKLE, Sherry, O segundo Eu: Os computadores e o espírito humano, trad. de Manuela Madureira, Lisboa, Presença (partes) Começa-se a se falar em gestão de informação e demais sinônimos. – Nos "mass media", explode o movimento de sci-fi (ficção científica) Cyberpunk, que se reflete no cinema, literatura, históris em quadrinhos, etc.

Mas esse movimento cultural passa desapercebido pela Academia. Fase III – Preconização da Utopia Digital Determinada pela disseminação das tecnologias digitais e grande euforia em torno das mudanças positivas que ela traria para a humanidade. OBS: a obra de Shery Turkle de 1980 foi um prenúncio desta. 1990 – 1995, Sherryl Turkle, Life on the Screen: Identity in the Age of the Internet. Neste livrvo, a autora defende um "Novo homem", isto é, que a personalidade humana teria mutações radicais com as tecnologias digitais. – 1995, Nicholas Negroponte, “A Vida Digital”. Negroponte defende a vinda de uma nova forma de vida, arte, filosofia, etc. – 1995, Bill Gates escreve “A Estrada para o Futuro”, primeira utopia socio-economica do seculo XXI, onde ele aponta uma futura Nova Economia, mais democrática e eficiente, que iria gerar melhor distribuição de renda e diminuir niveis mundiais de pobreza. – 1997, Domenico de Masi teoriza sobre o teletrabalho acabar com os escritórios, em “O Ócio Criativo”. Novas formas de relações institucionais que iriam revolucionar o mundo do trabalho. – De Pierre Levy, talvez o mais importante teórico dessa fase da Era Digital, vem o conceito de uma Nova Cultura, e mesmo nova linguagem, o Web Semântico. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 1. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 1992. 263 p. As árvores de conhecimentos. São Paulo: Escuta, 1995. 188 p. (em co-autoria com Michel Authier) O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996. 160 p. A ideografia dinâmica: para uma imaginação artificial? Lisboa: Instituto Piaget, 1997. 226 p.

A ideografia dinâmica: rumo a uma imaginação artificial? São Paulo: Loyola, 1998. 228 p. A máquina universo: criação, cognição e cultura informática. São Paulo: ARTMED, 1998. 173 p. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 260 p. – os anos 1990 também produzem muito material sobre marketing em rede, e formas de usos da publicidade e propaganda por meios digitais Fase IV – Gestão incremental das melhorias A partir dos três primeiros anos dessa década, grande euforia do final dos anos 1990 diminui ou mesmo some. A necessidade de gerir o digital, em busca de incrementos, e não mudanças estruturais – 1o de janeiro de 2000, marco histórico do início da “frustração”, a grande frustração pós-euforia: o fiasco do bug do milênio. Ao contrário das desgraças profetizadas por inúmeros especialistas em computadores, o Bug do Milênio passou desapercebido. – 2001, artigos sobre a Economia nos mundo virtuais dos MAssive Multiplayer On Line Games, de Edward Castronova. Os jogos digitais passam a ser vistos como laboratórios de testes do mundo real, e não como um mundo virtual autônomo. – 2003, a fértil obra “Tecnostress”, de Larry D. Rosen, Ph.D. e Michelle M. Weil, Ph.D., defende a necessidade de gerenciar o tempo e o uso das tecnologias para evitar efeitos patológicos. Começa-se a falar em moderação e prudência em relação ao Digital. – De Pierre Levy: A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2000. 212 p. Filosofia world: o mercado, o ciberespaço, a consciência. Lisboa: Instituto Piaget, 2000. 212 p. A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência. São Paulo: Editora 34, 2001. 189 p. Ciberdemocracia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003. 249 p.

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