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Filas como fonte de eventos aversivos: Uma categorização das possíveis filas que um aluno do Centro Universitário Nove de Julho do campus Barra Funda pode expor-se continuamente, incontrolavelmente, crônica e Variavelmente em períodos de aulas noturnas

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Autores:

Cássia Thomaz – Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE
Eduardo Alencar – Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE
Yara Nico – Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE

O presente trabalho objetivou categorizar as possíveis filas cujo um aluno pode expor-se enquanto frequentador de aulas de período noturno do Centro Universitário Nove de Julho – UNINOVE do campus Memorial, de maneira a evidenciar possíveis estímulos aversivos presentes neste ambiente que possam afetar os alunos incontrolavelmente, variavelmente, crônica e imprevisivelmente.

A descrição de ambiente físico sob a ótica comportamental dará subsídios para uma análise crítica sobre estas contingências fazendo inclusive uma breve introdução aos conceitos que chamamos de estresse e depressão e, posteriormente levantar os possíveis eventos estressores deste ambiente. Com isso, teremos base para possível prevenção, modificação, controle e intervenção das relações (Comportamentos – Ambientes) presentes neste recorte.

Palavras – Chaves: Filas, Estresse, Depressão, Análise do Comportamento, Categorização, Descrição de Ambiente Físico.

A Análise do comportamento lida com o manejo de nosso próprio comportamento e do comportamento dos outros. Estamos sempre adaptando nossas ações às demandas do mundo ao nosso redor. Analisar comportamento é estudar as inter-relações entre o as ações do indivíduo e o ambiente, assumindo que pessoas, lugares e coisas são controladas e estão sempre controlando as ações de quaisquer indivíduos. Analistas do comportamento, por tanto, tentam descobrir como estabelecer, facilitar, impedir ou evitar alguns desses controles. Esta abordagem, que mantém seus pressupostos filosóficos no Behaviorismo Radical do americano B.F. Skinner investiga o controle comportamental e discute quais desses controles trazem sofrimento ou não às pessoas. É tarefa da sociedade determinar qual conduta é aceitável e qual delas não é.

Para Cavalcante (1997), na Análise do Comportamento, o fenômeno de depressão, por exemplo, passa a existir a partir de uma interação social dada e, desse modo, pode ser compreendida como um fenômeno cuja dimensão maior ou primária é um processo de interação social, ou seja, entre um determinado sujeito e o ambiente em que vive.

Banaco (1997) afirma que, segundo o Behaviorismo Radical, todo e qualquer comportamento é selecionado por contingências filo e ontogenéticas. Acreditar na seleção é proceder a uma análise funcional na qual o comportamento dito “patológico” se insere e, dessa maneira, chegar-se-ia à conclusão de que aquele seria o único comportamento que poderia acontecer, dadas as contingências às quais o indivíduo foi exposto. Neste sentido, a compreensão de fenômenos como a “depressão” deve ser compreendida por Analistas do Comportamento como fruto de interação social e / ou sujeito – ambiente cujo contexto é responsável pela manutenção de comportamentos (patológicos ou não).

Fester (1979) discute a depressão com base na queda na freqüência de respostas mantidas por estímulos reforçadores positivos (verbais e não verbais), aumento nas respostas de fuga / esquiva, déficit no valor reforçador de alguns estímulos, aumento de latência de algumas respostas, mudança de comportamentos “ativos” para comportamentos “passivos”, que dificultam a exposição a novas contingências, como por exemplo freqüentar a escola, o trabalho, dentre outros ambientes.

Thomaz (2002, 2005) a partir de uma replicação sistemática dos resultados de Willner, Towell, Sampson, Shopholeus e Muscat (1987), afirma que a exposição de um sujeito a “situações de estresse suave”, de maneira incontrolável, crônica e variável, como por exemplo: privação de comida, iluminação contínua, barulho intermitente, exposição de odores, acesso restrito a comida após privação, etc. parecem produzir uma queda da freqüência de algumas respostas como, por exemplo, alimentar-se, mesmo quando o alimento está disponível. A autora sugere que tal exposição diminuiria o valor reforçador dos estímulos e, portanto, a função desses de aumentar e manter a freqüência de respostas. A exposição de sujeitos a alterações ambientais aversivas seria, então, um dos fatores responsáveis pela diminuição na freqüência de respostas e, portanto, pela “depressão”.

Investigar os estímulos aversivos aos quais uma pessoa é exposta continua e incontrolavelmente em seu cotidianos, seria, então, avaliar as possibilidades dessa vir a apresentar um repertório comportamental característico da depressão. O presente trabalho teve como objetivo, portanto, descrever um aspecto da vida cotidiana de estudantes que poderia funcionar como estimulação aversiva incontrolável e ser também responsável pela “depressão”.

MÉTODO

Esta pesquisa foi realizada como proposta de estágio Básico III e IV do 5º e 6º semestres da graduação de Psicologia do Centro Universitário Nove de Julho, período noturno do Campus Barra Funda, orientado pelas professoras Cássia Tomaz e Yara Nico. No 1º semestre letivo de 2005, o autor dedicou-se a estudos, pesquisas e leituras sobre estresse e depressão, comparando visões médicas (como por exemplo DSM e CID) com a visão da Análise do Comportamento, o que possibilitou uma aproximação e compreensão da visão de estresse e depressão sob a ótica comportamental.

Categorização de ambiente

O espaço para pesquisa proposta pelo estágio básico III e IV, delimitou-se ao espaço físico do Centro Universitário Nove de Julho – Campus Barra Funda. O autor realizou a coleta de dados via observação direta de filas e ambientes desta instituição, orientando-se pela literatura de Danna e Matos (1999) como referência para as técnicas de registro.Material para

Coleta de Dados

> Papel;
> Caneta;
> Relógio de pulso com Cronômetro da marca IRONMAN TRIATHLON para registro de tempo;

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nota-se que os alunos que freqüentam as dependências desta instituição em períodos de aulas noturnas estão propensos a serem expostos a inúmeros estímulos aversivos cronicamente, durante longos, curtos e médios períodos de tempo. A maneira como os estímulos presentes nas filas da instituição, como por exemplo nas filas da secretaria, das catracas, das escadas rolantes, dos orelhões, dos banheiros, da biblioteca, dos laboratórios, entre outros ambientes, podem categorizar-se como estimulação aversiva ou estimulação positivamente reforçadora a depender de inúmeros aspectos que serão discutidos a seguir.

Notou-se, após a coleta de dados, que tais filas podem conter características como mudança de estímulos em função da mudança de horário e/ou de atendimento, por exemplo, falta de rotas de fuga em caso de estimulação aversiva, impedimento de alunos de assistir as aulas, uma vez que quando não são atendidos em pronto atendimento, devem conseqüentemente aguardar nas filas caso optem por obter solução para seus problemas, enfim, características que podem torná-las, contínuas, crônicas, imprevisíveis ou, ainda, podem não levar ao aluno consequenciamento por reforço positivo após o aguardo das filas, que podem ainda variar em curtos, médios ou longos períodos de tempo.

Há ambientes, como por exemplo a fila das catracas, aos quais a exposição é crônica, pelo fato de que o aluno é exposto a ele 5 dias por semana. Neste ambiente, filas são iniciadas por uma grande concentração de alunos frente as catracas, há variação no tempo de cada aluno no comportamento de atravessar a catraca, o que automaticamente influencia na formação de filas, a temperatura, a iluminação, estimulação sonora apresentam-se de forma variável, não há sinalização de catracas para entrada e / ou catracas para saída, o que aparentemente é responsável pela dupla formação de filas em uma única catraca.

Há também ambientes com filas constantes, como por exemplo a filas da secretaria, onde, embora haja um total de 8 boxes para atendimento, apenas 6 atuam diariamente com pronto atendimento, os outros 2 são ativados quando as filas atingem um número X (critérios que não puderam ser acessados por questões institucionais). Há alunos que ingressam na fila deste ambiente sem saber se podem obter consequenciamento para o seu(s) problema(s), nestes casos, os mesmos são redirecionados ao local em que possa ser atendido (outras filas).

Em relação aos elevadores e escadas rolantes que dão acesso dos alunos a outros andares da instituição, pode haver filas conforme horários de “pico” e/ou quantidade de alunos que necessitam destes serviços, porém, nota-se que nas escadas de incêndio não há formação de filas. Poderíamos dizer que há um maior custo de resposta dos alunos para obter o mesmo reforçador que é consequenciado pelos elevadores e escadas rolantes. Nestes casos a grande maioria dos alunos prefere o aguardo nas filas a rotas de fuga, como, por exemplo, “escadas de incêndio”.

CONCLUSÃO

Sério (1997) com base em Skinner (1948), afirma que poderíamos solucionar muitos dos problemas de delinqüência e criminalidade se pudéssemos mudar o meio em que foram criados os transgressores. Talvez, pudéssemos seguir a mesma linha de raciocínio para solucionar muitos problemas de “depressão”, se pudéssemos mudar o meio em que vivem os “depressivos”; poderíamos solucionar muitos problemas de “estresse” se pudéssemos mudar o meio em que vivem os “estressados”, enfim, poderíamos solucionar, ou pelo menos minimizar muitos dos problemas produzidos pela exposição a alterações ambientais aversivas se pudéssemos reduzir as relações coercitivas.

Este trabalho pretendeu, a partir da categorização de filas, identificar como alunos podem expor-se crônica, incontrolável e variavelmente a filas por longos, médios ou curtos períodos de tempo.

Houveram muitas questões institucionais que restringiram a observação, a coleta de dados, e conseqüentemente o planejamento de uma eficiente proposta de intervenção, o que foi considerado pelo autor como mais um dos diversos impasses a serem enfrentados por psicólogos.

Partindo dos dados desta pesquisa, poderíamos levantar inúmeros problemas de pesquisa que complementariam esta, no sentido de acumular conhecimento a atuais literaturas da Análise do Comportamento. É o caso de verificar, com base em observação e literatura da análise do comportamento e outras, como da arquitetura, se o número de catracas e/ ou escadas são suficientes para comportar o número de alunos que estudam nesta instituição, afinal, não podemos negar os arranjos ambientais discutidos por outras ciências que poderiam servir de apoio a analistas do comportamento, como por exemplo, as contribuições da psicologia ambiental, arquitetura, engenharia, entre outras.

Concluindo, a categorização de ambientes nos dá subsídios suficientes para analisar funcionalmente comportamentos (ditos patológicos ou não), como por exemplo fuga de alunos às aulas, estresse, depressão, déficit de notas acadêmicas, contracontroles, dentre muitos outros comportamentos que poderiam ser discutidos dando origem a outras pesquisas.

BIBLIOGRAFIA

Banaco, R.A. (1994). Auto Regras e patologia Comportamental. Texto proferido durante o III Encontro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, promovido pela A.B.P.M.C, campinas, 24 de setembro de 1994.
Cavalcante, S.N. (1997). Notas sobre o Fenômeno Depressão a Partir de uma perspectiva Analítico – Comportamental. Psicologia, Ciência e Profissão, 17 (2), 2-12.
Danna, F.M & Matos, A.M (1999). Ensinando Observação: Uma introdução. São Paulo / SP. 4º edição, Editora Edicon.
Fester, C. B. A (1973). Funcional Analysis of Depression. American Psychologist, 23, 10.
Sério, T.M.A.P (2001). Por que sou Behaviorista Radical. Em: R. A. Banaco (org.), Sobre comportamento e cognição, Vol. 1. Santo André : Esetec
Thomaz, C.R.C (2002). O efeito da submissão ao Chronic Mild Stress (CMS) sobre o valor reforçador do estímulo. São Paulo. Dissertação de mestrado em Psicologia Experimental – PUC/SP.
Thomaz, C.R.C (2005). O efeito da submissão a estressores crônicos e moderados. São Paulo:Educ

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