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Daniel Paul Schreber e a Psicose

Tivemos como objetivo precípuo na realização deste trabalho, adentrarmos o campo das psicoses dentro de uma perspectiva psicanalítica. Num primeiro momento, ativemo-nos aos dados históricos, bem como à interpretação freudiana sobre as psicoses em geral, e, em específico, em relação ao famoso “Caso Schreber”. Numa segunda publicação, pretendemos recuperar o estudo das psicoses dentro de um aporte lacaniano, trazendo seus mecanismos constitutivos como, por exemplo, a forclusão, etc.
É sabido que na história da psicanálise o "Caso Schreber" sempre ocupou um lugar de destaque, assim como o "Caso Dora", a famosa "Anna O.", e tantos outros. Schreber nos interessa aqui, particularmente, para podermos abordar a problemática da psicose, na qual ocupa uma posição emblemática.

Vale lembrar que Freud nunca esteve com Schreber e só o conheceu através do livro que este publicou em 1903: "Memórias de um doente dos nervos".

Freud teria vindo a estudar esse livro em 1909 e, um ano depois, publicou um comentário sobre ele. Freud teria sido nessa publicação taxativo: "Schreber era psicótico". É sabido que dentro da teorização freudiana, o sujeito psicótico retirava dos seus objetos libidinais mesmo do mundo exterior, uma grande quantidade de libido (catexias libidinais, ou investimentos libidinais). Permanecia ensimesmado em seu mundo, tornando-se inacessível à psicanálise.

Assim sendo, por que Freud teria se detido no estudo do Caso Schreber?

Os historiadores da psicanálise nos contam que Freud o teria feito por razões de cunho absolutamente teórico, a saber:

= embasar mais solidamente a teoria das pulsões.

= elaborar a teoria do narcisismo, ou seja, o "eu", tomado como objeto libidinal.

= construir uma teorização sobre a psicose.
De todos esses estudos , Freud conseguiu depreender, as bases de nossa compreensão atual sobre a paranóia.

Uma consideração histórica

= o termo "paranóia" já era utilizado pelos gregos, significando "desarranjo da mente". Com o passar do tempo, sabemos que o termo ressurgiu na Alemanha, em 1918, e englobava a totalidade dos delírios existentes.

= Até o final do séc. XIX, o conceito foi muito mal definido e acabou sendo responsável por 70% das patologias encontradas nos manicômios.

= O que se sabe é que foi no início do séc. XX que Kraepelin conseguiu lançar um pouco mais de luz, sobre a conceituação da paranóia.

Note-se que foi a partir de 1910, que Freud tomou para si essa patologia, sendo que a sua contribuição nada mais teve a ver com a clínica psiquiátrica da época. Contam-nos os historiadores que os psiquiatras encontravam-se absolutamente perdidos diante dos delírios dos indivíduos paranóicos. Freud teria demonstrado que mesmo no delírio, o desejo era passível de ser legível, muito embora se estivesse num registro diferente do da neurose. Assim, o desejo era legível, desde que se tivesse a chave certa para decifrá-lo.

Sabemos que na história da psicanálise, a unidade estrutural das psicoses já estava estruturada, contudo o seu trabalho: "Notas psicanalíticas sobre um relato auto-biográfico de um caso de paranóia", teria sido o primeiro trabalho de Freud dedicado as psicoses.

Roteiro de exposição:

Vamos retomar a história e o delírio de Schreber, para que depois possamos tecer algumas considerações de ordem teórica:

A história do caso Schreber

D. P. Schreber nasceu em 1842, no seio de uma família protestante burguesa. Filho de um importante médico e educador, o qual introduziu na Alemanha a ginástica médica e liderou movimentos em prol dos operários. O irmão de Schreber suicidou-se com um tiro, aos 38 anos de idade, sofria de uma psicose evolutiva. Sua irmã mais nova Sidonie, morreu como doente mental. O próprio Schreber era um intelectual de primeira grandeza. Foi doutor em Direito, e juiz presidente da Corte de Apelação da Saxônia.
Sua primeira hospitalização, deu-se aos 42 anos de idade, tendo essa crise durado bastante tempo (meses). Foi diagnosticado como uma "hipocondria grave". Durante a etapa de sua doença, foi acompanhado profissionalmente pelo professor Flechsig, o qual aparentemente havia obtido um grande êxito.

Schreber já havia se casado há muito tempo, e viveu com sua mulher por oito anos após essa internação, tendo qualificado este período como sendo um período muito feliz de sua vida. Apenas manifestava seu desapontamento quanto ao fato de não ter tido filhos. Sabemos que Schreber fora promovido a presidente da corte de apelação (contava, então com 51 anos de idade). Conta-se que, mesmo antes de assumir as suas funções profissionais, teria sonhado por várias vezes que se encontrava novamente doente. Numa certa manhã, em estado de semi-vigília, teria lhe ocorrido a idéia de que "seria muito bom ser uma mulher submetendo-se ao coito". Teria ele rechaçado suas idéias com extrema indignação.

Meses depois da sua nomeação, acabou ocorrendo um segundo "desmoronamento", o qual foi acompanhado de episódios de insônia, além de sensações de "amolecimento cerebral". Logo após, surgiram idéias de perseguição, bem como de morte iminente, além de uma sensação de intolerância ao barulho e à luz. Com o passar do tempo, essas sensações foram acrescidas de alucinações visuais e auditivas: "ele se via morto e decomposto, atingido pela peste e pela lepra, com o corpo submetido a manipulações repugnantes e sofrendo os mais assustadores tratamentos."

O seu histórico nos conta, que essas manifestações o faziam mergulhar por horas a fio num estado de "sideração" e de "estupor alucinatório". Schreber teria chegado a desejar a morte, além de ter tentado o suicídio. Adiante, suas idéias delirantes foram acrescidas de intenso misticismo: relações diretas com Deus, além de aparições milagrosas.

Sejam quais forem os temas do delírio, podemos notar que os mesmos sempre giram em torno da própria pessoa de Schreber, reunindo os dois pólos clássicos presentes na paranóia:

= idéias de prejuízo e de perseguição.

= idéias de superestimação de si mesmo.
Se acompanharmos Schreber em seu delírio, nota-se a existência de dois pontos temáticos principais:

= um que concerne à perseguição.

= sua transformação em mulher.

A idéia de Deus

Deus era constituído de uma quantidade infinita de nervos, e quando queria criar um homem, tirava alguns de seus nervos e o criava. Os seres humanos que morriam, re-integravam seus nervos a Deus. Então, Deus se despojava de uma parte de si para criar, e, mais tarde, recuperava os nervos (alma) dos mortos.

O delírio continuava: todas as intervenções de Deus, boas ou más, eram chamadas de "milagres". Deus era constituído por duas unidades: um Deus inferior (Ariman) e um Deus superior (Ormuzd). O primeiro preferia os semitas, e o segundo, os louros arianos.

Mas aqui encontramos uma falha: em algumas condições especiais e inexplicadas, sucede aos nervos do homem vivo encontrarem-se num estado de extrema excitação, os quais atrairiam para si, os nervos de Deus, de modo que a própria existência de Deus ficava comprometida. Essa era a situação do próprio Schreber. Estando Deus ameaçado em sua integridade, acaba criando um complô contra Schreber, o qual visava a sua aniquilação física e mental. Assim, Schreber entendia que Deus queria lhe fazer passar pelas mais graves provações, as quais lhe chegariam através de Flechsig, animais, objetos e outras coisas que o cercavam. Quanto a entender-se como uma mulher que queria se submeter ao coito, o próprio Schreber escreve: "Essa idéia indigna, nunca me haveria ocorrido sem uma intervenção externa".

Outros sintomas

= estalidos nas paredes
= vozes que se dirigiam a ele

Mais uma vez, fora internado na clinica do professor Flechsig, agente divino que iria levá-lo à ruína: o médico opera nele uma ligação nervosa, passando a falar dentro de sua cabeça. Segundo Schreber, Flechsig não lhe olhava mais nos olhos. As vozes em sua mente lhe insultavam continuamente, além de lhe anunciar o final do mundo, com cataclismos cósmicos. Em seus passeios, Schreber tem a sensação de estar andando não em uma cidade, mas sim, num cenário de teatro ou num cemitério, onde consegue visualizar o túmulo de sua esposa. Um dia, se depara com um jornal, no qual é anunciada a sua própria morte.

Em sua relação com Deus, existe sempre uma mescla de revolta e de adoração. Para escapar desses "milagres divinos", Schreber adquire o hábito no inverno de enfiar os pés através das barras de uma janela e deixá-los sobre a chuva gelada. Dessa forma, acreditava que os milagres ficariam impotentes para lhe atingir.

Schreber ameaçado em seu corpo

Reduziram a sua estatura e introduziram um verme em seus pulmões. Retiraram-lhe os intestinos. Seu esôfago foi picado aos pedaços. Suas costelas quebradas e ele engoliu parte da laringe. Os nervos da cabeça foram arrancados. Contudo, a mais sofrida das torturas era a "máquina de atar cabeça": homúnculos comprimiam seu crânio num torno, girando uma manivela. Mas, a ordem do universo era mais forte do que o próprio Deus, e estava ao lado de Schreber.

O milagre dos urros:

Ao soltar seu urro, Schreber provava que Deus não estava morto, nem idiotizado, ou seja, não havia perdido a cabeça. Às vezes, ele despertava de um sono profundo para dar alguns urros, a fim de mostrar ao seu perseguidor que, mesmo dormindo, continuava dono da situação.

Pelo bem da humanidade, Schreber consente em ser mulher de Deus

Sabe-se que nenhum outro aspecto do delírio foi tratado com tanto detalhamento como essa metamorfose. O processo foi denominado de "emasculação", significando que os órgãos masculinos haviam se retraído para o interior do corpo, ao mesmo tempo em que os órgãos internos passavam por uma transformação.

No início da doença sua emasculação destinava-se a humilhá-lo, abusando sexualmente dele. Num primeiro momento teria sido o professor Flechsig, o instigador disso, mas, depois foi o próprio Deus que quis assassinar sua alma e entregar seu corpo, como de uma mulher, à prostituição. Por exemplo, os raios de Deus o chamavam de Miss Schreber, ou então lhe diziam: "Eis um presidente da corte de apelação que se deixa foder!"
Desta forma, ele só começou a se reconciliar com a idéia dessa transformação quando lhe pareceu que era o próprio Deus que reclamava a sua feminilidade, mas não para humilhá-lo, mas sim com um propósito sagrado. Teria escrito ele: " É meu dever oferecer aos raios divinos a volúpia e o gozo que eles buscam em meu corpo."

Mas, em nome de que Schreber teria aceito ser a mulher de Deus?

_ Teria sido um projeto de escala universal: a criação de uma nova humanidade, "uma nova raça de homens nascida do espírito de Schreber."
Encontramos na evolução do caso, que apesar de seu estado de constante perturbação, conseguiu ter alta da clínica de Leipzig, ao término de 8 anos de internação, além do direito de publicar as suas memórias.

Em 1903, foi com a mulher para Dresden, numa casa que havia mandado construir. Mas, 4 anos depois, voltou para o Hospital Psiquiátrico de Leipzig, onde passou 4 anos, até o seu falecimento. Disse em suas memórias: "As provações que me foram infligidas, no que eram as condições de minha vida, foram tais, que nenhum homem terá passado por coisa semelhante".

As razões teóricas do Caso Schreber

Sabe-se que Schreber, ainda em 1955, fora dito por Hunter e Macalpine, como sendo o doente mais citado na psiquiatria.

Na verdade, no que diz respeito à Freud, sabemos que este teria ficado muito impressionado com o texto de Schreber, além da concordância do mesmo em relação às suas próprias investigações. Freud teria afirmado, contudo, com uma mescla de orgulho e de humildade, que teria formulado a sua Teoria da libido, antes mesmo de ter lido Schreber.


Proposta para um fio condutor

Parece que se tratava, para ele, de atingir três objetivos correlatos:

= dar sentido à uma experiência de desmoronamento que, a princípio, deixou-o como que aniquilado.

= descobrir o vínculo possível com o outro, ali onde ele parecia haver desaparecido.

= restabelecer uma forma de temporalidade, ali onde o abismo extra-temporal o deixara como que morto.

Citamos: "enquanto Bleuler achava que não se podia confiar nas afirmações dos doentes paranóicos, Freud, ao contrário, propôs a idéia de uma coerência específica a ser encontrada no delírio. Teria sido justamente por isso que introduziu uma ruptura também em sua abordagem da psicose".

Por meio de Schreber, Freud sustentou o ponto de vista teórico em relação à sua teoria da libido. No que tange à discussão nosográfica, distanciou-se de Jung e de Bleuler, afirmando a importância de uma separação entre o terreno das paranóias e o das demências precoces. Para a demência precoce, propôs o termo "parafrenias", ou seja, uma mistura de traços paranóicos e esquizofrênicos.

Hipóteses diagnósticas

Para Bleuler, o criador do termo esquizofrenia, Schreber era um esquizofrênico paranóide, sujeito a alucinações e dissociações.
Para Freud a evolução da doença, através da sistematização do delírio e a predominância da "projeção" sobre a alucinação, faziam de Schreber um caso de paranóia.

Interessante podermos observar aqui, o quanto já estava presente em Freud uma unidade estrutural das psicoses.

O delírio de Schreber numa abordagem freudiana

Penso podermos dizer que todo o delírio schreberiano é uma tentativa de compreender, na tentativa de restaurar uma forma de temporalidade e de realidade, a busca contínua de sentido a ser dado à experiência pela qual passou. Pensamos que Freud teria realizado a leitura do Caso Schreber calcado na idéia de que "todo o delírio é uma tentativa de cura".

Assim o desmoronamento, a aniquilação do mundo de Schreber, corresponde para Freud, à retirada da libido do interesse pelos objetos. Sendo que a reconstrução delirante é, portanto, um reinvestimento libidinal progressivo.


A figura de Deus e o fracasso do Édipo

Em Schreber , a sua reconstrução passa por Deus. Freud vê nisso um substituto paterno, destacando, inclusive que um pai como o de Schreber, prestava-se com muita facilidade a uma transfiguração divina. Observemos que as práticas educacionais do pai de Schreber chegavam a defender o adestramento do corpo e da alma. No auge da doença, os homúnculos que apertavam a cabeça de Schreber lembravam, sem sombra de dúvida, os aparelhos que lhe tinham sido impostos por seu pai. Segundo Freud, ele teria constatado a ausência ou mesmo o fracasso da experiência de castração e do Édipo em Schreber. Assim, o caráter insustentável da irrupção feminina deve ser ligado à impossibilidade de inscrever psiquicamente a castração, onde a representação feminina, marcada pela ausência do pênis – que está no cerne da neurose e do desejo – foi rejeitada em bloco neste caso. Para Freud, tratou-se da rejeição maciça de uma representação inconciliável.

Entendemos que em Schreber, a posição feminina não pôde ser elaborada à maneira neurótica da bissexualidade, não tendo a passividade em relação ao pai assumido uma forma edipiana, nem mesmo no que se refere ao Édipo invertido. Para ele, essa feminilidade era radicalmente inaceitável. Parece-nos que Schreber teria tentado elaborar uma reconstrução no lugar da construção edipiana. Assim, a feminilidade só seria possível se fosse absoluta, ou seja, ser a mulher de Deus. Mas, mesmo com isso, encontrara uma maneira de recusar a falta.

A estabilização do delírio através da reconciliação e o tema da redenção

Os dois temas resultantes do delírio são:

= a transformação em mulher, e
= a posição de mulher de Deus.
Freud nos fala de uma realização assintótica do desejo, na qual Schreber aceitou esperar e continuar esperando, por estar seguro dessa saída salvadora.

Neste ponto de nossa exposição, gostaríamos de ressaltar que, depois de tentar entender o delírio de Schreber, Freud tentou dar uma explicação mais geral sobre a paranóia, abrindo, inclusive um caminho para a teoria do narcisismo.

A paranóia é uma expressão de uma fixação narcísica e também da luta contra essa fixação.

Freud estava interessado na participação dos "desejos homossexuais" como fatores pertinentes à problemática da paranóia, tendo feito participar aqui, a função do narcisismo. Freud teria proposto uma seqüência de desenvolvimento: auto-erotismo, narcisismo e amor objetal.

A escolha homossexual seria de natureza narcísica e precederia a escolha
heterossexual. Note-se que nos paranóicos, encontramos uma defesa quanto à sexualização dos investimentos sociais, os quais estariam sempre ligados a uma proximidade narcísica muito acentuada.

Os principais mecanismos em jogo na paranóia

= projeção: num primeiro momento, Freud considera a projeção como o mecanismo formador do sintoma paranóico. Contudo, devemos observar que esse mecanismo é patente no texto de Schreber, mas não comporta o campo das psicoses como um todo.

= recalcamento e narcisismo: Freud pôs à prova o mecanismo central que havia destacado na neurose. Sabemos que o recalcamento por si, não se aplica à paranóia, mas Freud propôs a construção de um pressuposto teórico, onde se misturam o recalcamento e o narcisismo.
Em se tratando da paranóia, o recalcamento evidenciaria um desligamento da libido, seja ele parcial ou mesmo geral. A libido, antes ligada aos objetos, retroagiria em direção ao eu. Nesse processo, encontramos o recalcamento propriamente dito, enquanto que o delírio seria a expressão de um "retorno do recalcado", reconduzindo a libido aos objetos que ela havia abandonado.

= Na verdade, o que caracteriza a paranóia não seria o desligamento da libido dos objetos anteriormente investidos, mas sim, o seu retorno ao eu.
Freud teria insistido numa fixação narcísica, a qual desempenharia o papel de uma moção recalcada, que atrairia a libido que ficou livre. Seria, portanto essa fixação narcísica aliada ao retorno da libido para o eu, que daria lugar a uma ampliação ilimitada do eu. Assim, o delírio megalomaníaco, seria a sua manifestação clínica.

Encontramos na esquizofrenia, um retorno da libido para o eu, como sendo o seu mecanismo constitutivo, a não ser pelo fato de que, por um lado, o retorno se faria até a fase pré-narcísica e, por outro, a alucinação seria o modo de retorno privilegiado, ao passo que, pela projeção é o delírio que reina na paranóia. Freud esclarece que a retirada da libido, não desconsidera a existência do mundo externo, mas o destitui de qualquer significado, no sentido libidinal. Dessa forma Schreber continua a ver os outros, mas eles já não passam de sombras de homens.

Numa espécie de conclusão parcial, talvez frente a uma problemática tão complexa e expressiva em seu matiz psicopatológico, poderíamos dizer que todo o trabalho consiste numa tentativa em relação ao restabelecimento das relações libidinais. Dessa forma, o delírio dispõe e combina, ou em outras palavras, o delírio organiza.

Enquanto escrevia essas considerações, me lembrava de um caso que tomei conhecimento anos atrás, onde a esposa começou a desconfiar das atitudes do marido, supondo que ele estaria interessado em uma outra mulher. Relatava que ele parecia haver perdido o seu interesse por ela. Reunindo suas economias, chegou a contratar os serviços de um detetive particular, o qual teria seguido seu marido por meses, sem nada encontrar que pudesse confirmar as suas suspeitas. Como nada havia conseguido, e como a situação de "desinteresse" do marido persistisse, resolveu procurar um auxílio médico. Felizmente, parece que procuraram por um clínico experiente, o qual os teria indicado para que procurassem por um psiquiatra. Infelizmente, não possuo maiores detalhes sobre a evolução do caso, mas sei que se tratava de um surto psicótico, diagnosticado e tratado como tal.

Deve estar claro que essa minha lembrança não me ocorreu de forma gratuita, mas sim por um caminho associativo, onde nos parece que aqui também pode ficar evidente essa retração dos investimentos libidinais das pessoas ou mesmo das coisas, podendo causar nas pessoas que circundam o indivíduo uma observação de mudança de conduta, muitas vezes, as quais evoluem para aquilo que poderia parecer como uma "falta de interesse". Um pouco como quando se diz que um sujeito anda muito "ensimesmado". Devemos sempre estar muito atentos a essas mudanças de condutas, as quais poderão ocorrer em qualquer momento da vida do sujeito.

Gostaria de destacar a título de uma finalização, pelo menos temporária sobre a temática abordada, que penso ser da ordem do impossível, realizarmos uma leitura séria e aprofundada no que concerne às psicoses, sem recorrermos necessariamente, às postulações de Jacques Lacan, como os conceitos de "forclusão", etc. Espero, muito em breve, estar dando continuidade às considerações ora realizadas, me ocupando da teorização lacaniana sobre as psicoses.

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