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FREUD E A FORMAÇÃO DA REALIDADE

FREUD E A FORMAÇÃO DA REALIDADE

Por: João Henrique L Ferreira

Em uma ocasião, o meu professor de filosofia, apontando para a sua mesa, perguntou: “QUANTAS MESAS DE PROFESSOR TEMOS NESSA SALA?”

A resposta foi UMA MESA, para a maior parte da sala.

Eu perguntei então: “QUANTAS PESSOAS TEM NA SALA?” a resposta foi 31 pessoas.

PROFESSOR,” eu disse, “SE TEMOS 31 PESSOAS NA SALA DE AULA, ENTÃO, NESSA SALA, TEMOS 32 MESAS DE PROFESSOR. UMA PARA CADA MODELO MENTAL DE MESA, CRIADO POR CADA PESSOA EM CONTATO COM A MESMA, E UMA OUTRA MESA QUE, SENDO REAL E CONCRETA, EXISTE POR SÍ SÓ, INDEPENDENTE DAS PESSOAS QUE AQUI ESTÃO”.

Isso abriu uma discussão dentro da sala de aula sobre a capacidade do ser humano de adquirir o REAL CONCRETO de maneira fiel, formação do conhecimento, REALIDADE, modelos mentais, etc…

Não preciso dizer que adorava as aulas do meu professor. Elas sempre, começavam com uma pergunta provocativa e terminavam com indicações de leitura e um trabalho escrito sobre determinado tema, subsidiado pela bibliografia referenciada em aula.

Estive hoje relendo o trabalho de FREUD. Algumas coisas se fizeram notar, mas, primeiramente, devo fazer algumas colocações sobre o assunto acima, sem o qual será difícil reproduzir o link que fiz dos dois episódios.

Primeiro: Como apreendemos o REAL CONCRETO (Aquilo que existe FORA de nós, com existência INDEPENDENTE da nossa existência.

Uma ÁRVORE é REAL e CONCRETA, pois EXISTE na NATUREZA e não precisa de mim para existir. A DEMOCRACIA, é REAL e ABSTRATA, pois NÃO EXISTE DEMOCRACIA NA NATUREZA. Ela é uma CRIAÇÃO da MENTE HUMANA. Um CONCEITO, uma INSTITUIÇÃO, algo que, apesar de não existir, se corporifica nas sociedades humanas ganhando força como se CONCRETO FOSSE.

O Homem não apreende o REAL CONCRETO, mas cria MODELOS MENTAIS do que observa, modelos esses criados pela MENTE.

Os nossos MODELOS MENTAIS, apesar de serem TRIDIMENSIONAIS e CINESTÉSICO (Carregados com informações dos diversos sentidos, entre eles o olfato e o paladar), são APENAS MODELOS, que carregados na MENTE formam a REALIDADE.

Dessa forma, a REALIDADE HUMANA é composta por uma SÉRIE DE MODELOS tridimensionais sinestésicos, CARREGADA DE VALORES (Ex: CADEIRA BONITA, MESA DURÁVEL, ÁRVORE FORTE), acrescidas ainda de nossas INSTITUIÇÕES.

Isso tudo posto, não é de se admirar que os homens NÃO SE ENTENDAM, pois os MODELOS carregados para a mente, apesar de oriundos em parte do REAL CONCRETO, SÃO DIFERENTES ENTRE SÍ. O mesmo OBJETO CONCRETO gera MODELOS DIFERENTES na mente das pessoas. Os modelos são PARECIDOS, mas não são idênticos. Além dessa discrepância, temos os VALORES e as INSTITUIÇÕES, que são CONCEITOS da mente que, agregados ao modelos carregados, os distorcem ainda mais, além de serem insumos para modelos que NÃO PERTENCEM AO CONCRETO, dependendo totalmente da mente humana.

Tudo isso para dizer que o SER HUMANO NÃO se relaciona com o REAL CONCRETO, mas com MODELOS MENTAIS que são carregados pela mente.

Nos trabalhos de Freud, o pai da psicoanálise, afirmam que a consciência se forma aos poucos, com o decorrer dos anos, conforme o crescimento do ser humano.

O primeiro estrato da mente humana é o ID ou INCONSCIENTE.

Ao nascer, a criança NÃO TEM EXPERIÊNCIA com o mundo externo. Ela só entende a NECESSIDADE (Dor) e a SATISFAÇÃO da necessidade (Prazer).

Nesse aspecto, a MÃE representa a SATISFAÇÃO de suas necessidades (Prazer) que se dá pelo TOQUE, pela AMAMENTAÇÃO, trocar de fraldas, banho, etc…

Sem conhecer qualquer regra ou LIMITE, a criança explora o ambiente externo e começa, com o tempo, a formar os primeiros modelos mentais, que são carregados pelos órgãos sensoriais e acrescidos de emoções.

Em princípio, a criança procura reproduzir atos que, historicamente, lhe proporcionaram prazer. É o DE NOVO. O assistir o mesmo vídeo sempre e sempre, ou ouvir uma música repetidas vezes. Tudo que descobre ser prazeroso é procurado várias vezes, repetindo-se o comportamento, tentando NEGAR conhecer outros. É o famoso NÃO QUERO, apesar de nunca ter experimentado.

As suas experiências também podem ser transferidas para a mente com carreamento extremo de emoções. Pode, por exemplo, ter sido espetado por um alfinete por uma pessoa e, como consequência, passar a não gostar da mesma.

Os modelos construídos nessa fase são altamente impressivos, carregados de simbologia e emoções. Com o passar do tempo, no entanto, a criança aprende que seus atos tem repercussões. Ela aprende que determinados atos podem causar sanções e outros podem causar recompensas. Alguns causam repreensões, corte do prazer, outros gratificação, facilidade de obter recompensas (prazer).

Com a percepção de que pode colher prazer ou repreensão das pessoas que a cerca, faz com que a criança crie a segunda camada de sua personalidade (Ou psiquê): O SUPER EGO.

O superego é formado pela classificação de COMPORTAMENTOS que podem causar RECOMPENSA ou SANÇÃO. Quando uma pessoa pisa no pé da outra, o ID, que é formado, principalmente, de emoções, envia impulsos para que a pessoa REAJA (Ex: xingar a pessoa ou revidar, pisando no pé dela de volta), mas o SUPEREGO, que já classificou esse comportamento como passível de SANÇÃO, atenua ou não deixa o DESEJO vindo do ID chegar a virar ação, bloqueando o DESEJO de revidar.

Por fim, a camada do EGO começa a se desenvolver.

O EGO se desenvolve a medida que a criança começa a se ver como PESSOA INDEPENDENTE. Diferente do mundo que a cerca, de seus pais, das outras pessoas. Com essa percepção, ela entende que, se no mundo existe ela, também existem os outros, que são DIFERENTES dela. O EGO então passa a desenvolver a PERSONALIDADE que é a MEDIADORA entre as duas camadas anteriores do psiquê (É o ego que decide se vai atender o desejo do ID ou deixar que o SUPEREGO represe esse mesmo desejo); como ainda media a interação com seus iguais.

O EGO é a parte visível do psiquê que se apresenta aos seus iguais, mediando os conflitos dentro do ser humano e fora dele.

Essa mediação, no entanto, será quanto mais eficiente quanto forem os modelos mentais construídos pelo indivíduo no decorrer de sua existência. Manter modelos mentais equivocados, sem conexão com a realidade, é receita certa para o fracasso da comunicação entre os homens e entrave para a coexistência pacífica.

Precisamos CONHECER os nossos MODELOS, atualizá-los com o REAL CONCRETO e as necessidades da humanidade. É a famosa frase CONHECE A TÍ MESMO que volta do passado, se tornando viva no presente.

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