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Mulheres no meio da vida: significados e enfoque clínico

O atingir do meio da vida é período crítico da existência feminina, a mulher estando vulnerável a desestabilizações não apenas no corpo, mas na mente e vida de relações. São vivências plenas de significados, sendo que cada mulher reage de modo essencialmente individual.
O atingir do meio da vida é período crítico da existência feminina, a mulher estando vulnerável a desestabilizações não apenas no corpo, mas na mente e vida de relações. São vivências plenas de significados, sendo que cada mulher reage de modo essencialmente individual.
Jaques (1990) descrevendo a “crise da meia-idade”, destaca a conscientização da inevitabilidade da própria morte. Ansiedades depressivas inconscientes requisitam a repetição e continuidade elaborativa da posição depressiva infantil. Ele aponta que este período crítico pode ser particularmente perturbador, refletindo-se em empobrecimento da vida emocional e comprometimento da capacidade criativa, podendo mesmo chegar ao colapso depressivo.
A conjugação desta crise psíquica com a ocorrência do climatério e menopausa, torna esta fase bastante complexa para as próprias mulheres, os profissionais que as assistem e as pessoas que as circundam, dada a interação de fatores de ordem física, psíquica, social e cultural.

O início do envelhecimento e o narcisismo atingido; a finalização da capacidade reprodutiva e seus ecos na feminilidade; a modificação substancial do papel materno junto aos filhos crescidos que ganham independência; o desgaste da relação com o parceiro de longos anos ou a ausência desta parceria; o adoecimento e morte das figuras parentais; a aposentadoria e o imperativo de um projeto para a maturidade; são alguns dos marcos que caracterizam esta fase de transição por vezes tão penosa.

Lax (1982) enfatiza que o modo e extensão que a mulher responde ao climatério dependerão de vários fatores, entre eles: a severidade dos sintomas fisiológicos, a natureza das experiências passadas, suas relações objetais internalizadas, sua estrutura psíquica, a força de seus investimentos libidinais, a amplitude de sua esfera egóica livre de conflito, a natureza e força de seus interesses egóicos, a extensão de seu narcisismo saudável, a natureza de suas relações objetais correntes e a natureza de seu setting familiar e social. Quando a mulher se encontra em relativa boa saúde física e mental, a experiência climatérica pode conduzi-la a usar seus recursos remanescentes para trabalhar a injúria narcísica e reconstituir uma vida plena de significado para si, fazendo uso de todas as oportunidades presentes para preenchimento criativo / libidinal.

A mulher que não puder vivenciar e elaborar o luto pelas perdas e mudanças enfrentadas, entre elas a finalização da capacidade reprodutiva, provavelmente terá dificuldade no remanejamento de seus investimentos libidinais, de modo a gerar e ampliar possibilidades de criação em outros campos de interesse, como enfatizam alguns autores, entre eles Gueydan (1991).

ENFOQUE CLINICO

A experiência clínica com grupos de pacientes que atingem o meio da vida e a observação das mulheres que se encontram nesta faixa de idade, reforçaram minha convicção de que o que se passa no interior feminino aguarda um olhar de reconhecimento e a oportunidade de escuta compreensiva, para transbordar e ser compartilhado.

As mulheres maduras procuram com freqüência um espaço de encontro com as demais, para conversarem sobre si e fazerem um balanço de suas vidas, conforme apontaram vários autores, entre eles Gueydan (1991).
Segundo Kaës (1997), o grupo tem a função de ser um aparelho de transformação e metabolização pela psique dos outros. A percepção mútua, o investimento recíproco, as representações e identificações comuns, vinculam os membros de forma especial.
De acordo com Anzieu, “Os sujeitos humanos vão aos grupos da mesma maneira que em seu sono entram no sonho” (Kaës, 1997, p.75)
E conforme descreveu Winnicott (1988), procurará perder-se no grupo como a criança pode se perder no brincar.

O pensamento destes autores ofereceu embasamento teórico ao que me fizera, após mais de 25 anos dedicando-me fundamentalmente ao atendimento clínico individual, interessar-me em desenvolver também estes grupos de mulheres. Trabalho este que estarei discutindo e apresentando os resultados, neste próximo encontro na “Quinta das Idéias” do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae.

Bibliografia

GUEYDAN, M. Femmes en ménopause; les transformations psychiques d’une étape de vie. Toulouse, Editions Érès, 1991
JAQUES, E. Morte e crise da meia-idade. In: Spillius, E.B. (org) Melanie Klein hoje; desenvolvimentos da teoria e da técnica. Rio de Janeiro, Imago Editora, 1990., pp 248-270
KAËS, R. O grupo e o sujeito do grupo – Elementos para uma teoria psicanalítica do grupo. São Paulo, Casa do Psicólogo, 1997
LAX, R. The expectable depressive climateric reaction. Bulletin of the Menninger Clinic 46 (2). The Menninger Foundation, 1982. pp.151-167
WINNICOTT, D.W. Textos selecionados: Da Pediatria à Psicanálise, Rio de Janeiro, Livraria Franci

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