(continuação)
As Paratireóides e a regulação do calcio serico
A hipercalcemia pode se apresentar como uma síndrome orgânica do humor ou da personalidade, demência ou delirium. Tem mais probabilidade que outras endocrinopatias de se apresentar como uma síndrome orgânica delirante. Como com o hipotireoidismo, o hipercortisolismo e o hipocortisolismo, as alterações mentais ocorrem precocemente e podem ser os únicos sintomas proeminentes. Isso é particularmente verdadeiro no idoso, em quem alterações mínimas podem induzir pseudo-demência, reversível. A hipocalcemia pode ser um transtorno crônico com sintomas mentais proeminentes, mas com mínimos sintomas neuromusculares. O lítio induz leve aumento do hormônio paratireóideo (PTH) em cerca de 80% dos pacientes, dentro dos primeiros meses de tratamento, mas aumentos significativos podem ocorrer e relacionam-se com a dose e duração do tratamento.
Hiperparatireoidismo e hipercalcemia
Aspectos diagnósticos. A faixa normal do PTH varia com o método de dosagem. Em vista da hipercalcemia ser comum e poder imitar muitas condições neuropsicopatológicas, e por serem os níveis de cálcio baratos e facilmente obtidos, o transtorno deveria ser excluído na maioria das avaliações psíquicas diagnósticas.
Pormenores das manifestações psicopatológicas. Encontram-se sintomas mentais em 66% dos pacientes com hiperparatireoidismo em estudos prospectivos. Fadiga, apatia, redução do apetite e da concentração e depressão ocorrem em cerca da metade dos pacientes. A tendência suicida não é incomum e ocorreram vários suicídios. Uma mudança da personalidade pode ocorrer no curso dos anos e uma pessoa previamente ativa e sociável pode-se tornar progressivamente reclusa, incapacitada e deprimida. Os sintomas são similares em qualidade, mas diminuídos em intensidade, dos da depressão primária. Testes cognitivos revelam comprometimento da memória verbal, embora não seja claro se isso relaciona-se com a depressão ou outros efeitos da hipercalcemia.
Estados psicóticos paranóides agudos, com ou sem depressão, têm ocorrido com o sensório claro. Os pacientes podem se tornar extremamente violentos e homicidas. Delirium com alucinações e delírios proeminentes ocorrem com níveis altos de cálcio sérico. Os idosos são muito sensíveis à hipercalcemia, e podem desenvolver demência com aumentos muito leves do cálcio sérico. Alterações eletroencefalográficas (EEG) não são uma ferramenta diagnóstica sensível.
Tratamento. Se o transtorno não é crônico, os sintomas cognitivos e afetivos geralmente são revertidos pela normalização do cálcio sérico. Em particular, os pacientes idosos com demência e que também têm hiperparatireoidismo, geralmente, exibem considerável melhora, se a cirurgia é realizada dentro dos primeiros 2 anos da doença. A melhora é evidente em questão de dias e parece estabilizar-se aos 3-6 meses.
O tratamento apropriado dos pacientes hiperparatireóideos, de meia-idade, levemente hipercaIcêmicos, "assintomáticos" é controverso, embora a maioria opere pacientes mais jovens, sadios, com base nos inconvenientes da monitorização por toda a vida. Claramente, se os pacientes se queixam de fadiga ou fraqueza muscular, têm a probabilidade de se beneficiar da cirurgia. A resposta de outros sintomas, como a depressão e a ansiedade, não é previsível. Foram descritos vários casos de psicose por paratireiodectomia tardia, autolimitada com alterações da consciência, relacionados com a queda rápida do cálcio sérico que ocorre em pacientes com hipercalcemia e doença óssea secundária.
Os pacientes em uso de lítio, que ficam hipercalcêmicos, deveriam primeiro dosar a litemia, para excluir toxicidade pelo lítio (os dois cátions são manejados de modo similar pelo rim). Se assintomático, o paciente deve ser seguido ou receber outro agente antimaníaco. Em qualquer caso, os níveis de cálcio devem ser revisados porque o lítio pode induzir ou acelerar o crescimento de adenomas da paratireóide. O lítio pode ser recomeçado após a paratireoidectomia.
Hipoparatireoidismo e hipocalcemia
Aspectos diagnósticos. O cálcio sérico e o fósforo inorgânico devem ser obtidos nos casos suspeitos de hipocalcemia e seguidos do cálcio ionizado e do PTH, se indica da investigação adicional. O encaminhamento de pacientes com casos leves de hipocalcemia não-diagnosticada (insuficiência parcial das paratireóides) ao clínico psi, por ansiedade resistente ao tratamento, não é incomum. Os pacientes hipocalcêmicos ansiosos podem ter transtorno do pânico, levando-os a hiperventilar e desenvolver tetania. Desse modo, a hipocalcemia deve ser excluída em todos os casos de tetania induzida pela hiperventilação. Raramente, o quadro assemelha-se a transtorno bipolar.
Pacientes hipocalcêmicos, que exibem movimentos coreiformes, parestesias e convulsões atípicas, podem ser encaminhados ao clínico psi por "comportamento histriônico". Esses pacientes podem não exibir nenhum sintoma de tetania e o EEG pode ser normal.
Pormenores das manifestações neuropsicopatológicas. As manifestações mentais da hipocalcemia não foram tão cuidadosamente estudadas como as de outras endocrinopatias. Sintomas mentais, particularmente ansiedade e demência, são comuns. Além disso, os pacientes podem parecer deprimidos, parkinsonianos ou ter movimentos coreiformes. Convulsões típicas e atípicas são freqüentes. O declínio intelectual progressivo é particularmente comum no hipoparatireoidismo hereditário e no pseudo-hipoparatireoidismo.
Tratamento. Pacientes com hipocalcemia leve e sem outros sintomas, exceto ansiedade e depressão, podem ter "insuficiência parcial das paratireóides" que se beneficia com suplementação de cálcio. Na hipocalcemia severa, o delirium pode levar 1-3 dias para melhorar, e pode recorrer periodicamente, durante o período de recuperação, a despeito da "normocalcemia". Em vista do cálcio sérico ser geralmente mantido na faixa normal inferior (para a prevenção de litíase renal), as recorrências podem, na verdade, ser secundárias à hipocalcemia. A demência tende a responder mal.
As convulsões e a ansiedade respondem mal a agentes anticonvulsivos e a ansiolíticos, respectivamente. Relata-se que os pacientes hipocalcêmicos são mais suscetíveis ao desenvolvimento de síndrome extrapiramidal (SEP) quando recebem medicação neuroléptica, embora os níveis de cálcio (dentro da faixa normal) não pareçam influenciar a SEP.
Insulina
Os efeitos neuropsicopatológicos do hipersinsulinismo incluem síndrome orgânica de ansiedade, personalidade, amnésia e delirante; delirium e demência e outras síndromes mentais orgânicas caracterizadas por sintomas dissociativos e automatismos. A hiperglicemia pode predispor a déficits sutis em funções cognitivas superiores. As duas complicações metabólicas maiores do diabetes melitus (cetoacidose diabética [CAD] e síndrome hiperosmolar não-cetótica) induzem o delirium e coma.
Recém-nascidos prematuros também ficam freqüentemente hipoglicêmicos. Vários casos fatais de hipoglicemia ocorreram na anorexia nervosa e não raro, ocorreram complicações irreversíveis em pacientes esquizofrênicos que receberam tratamento de choque insulínico. Se a hipoglicemia ocorre abruptamente (como em situações pós-cirúrgicas e na controversa síndrome idiopática pós-prandial), sintomas adrenérgicos de ansiedade, tremor, diaforese e taquicardia tendem a predominar, junto com fome e fraqueza. Em casos de hipoglicemia crônica (por exemplo, no insulinoma), sintomas "neuroglicopênicos", incluindo perda de concentração, confusão, labilidade emocional, automatismos e amnésia, são mais proeminentes.
Hiperinsulinismo e hipoglicemiaAspectos diagnósticos. O diagnóstico de hipoglicemia necessita de 1) demonstração de hipoglicemia com o jejum ou após refeições semelhantes àquelas induzindo os sintomas (se pós-prandial); 2) a presença de sintomas consistentes com hipoglicemia e 3) melhora com a normalização dos níveis de glicose.
Muitos pacientes hipoglicêmicos procuram assistência clínica por sintomas adrenérgicos pósprandiais e verifica-se ter um teste de 5 horas de tolerância à glicose "anormal" (isto é, com a glicemia <50mg/ dL). Esses pacientes podem receber um diagnóstico de hipoglicemia, ainda que nunca tenham ficado hipoglicêmicos com refeições normais, e muitos indivíduos não-hipoglicêmicos têm níveis similares de glicose, mas não apresentam sintomas. Os testes psicológicos sugerem que muitos desses pacientes têm um transtorno somatoforme.
A hipoglicemia factícia, causada pela administração sub-reptícia de insulina, ocorre mais freqüentemente devido à medicação pessoal por membros da família de pacientes diabéticos ou pelos próprios pacientes diabéticos. Nos dois primeiros grupos, o diagnóstico pode ser feito com níveis deprimidos do peptídeo C. Contudo, o diagnóstico pode ser difícil em pacientes diabéticos. Relatos de casos sugerem que esses pacientes têm, em geral, sérios transtornos de personalidade e respondem mal à psicoterapia.
Por outro lado, pacientes com hipoglicemia podem ser diagnosticados por engano como histéricos, epilépticos ou intoxicados porque exibem uma combinação de estados dissociativos, automatismos e raiva. Em muitos casos, os pacientes hipoglicêmicos mostraram-se agressivos e paranóides e, com isso, recebem um diagnóstico psiquiátrico primário. Em retrospecto, contudo, esses pacientes têm sinais claros de delirium: redução da consciência ou desorientação. Em casos de episódios recorrentes de hipoglicemia, o diagnóstico pode ser um desafio.
Muitos pacientes com início súbito de hipoglicemia devido ao tratamento com insulina têm ataques de ansiedade que são difíceis para o paciente e para o clínico de distinguir de uma doença de ansiedade primária. Além disso, pacientes com diabetes parecem predispostos a desenvolver transtorno de ansiedade devido ao estresse da doença e a resposta "condicionada" a episódios anteriores de hipoglicemia.
Pormenores das manifestações mentais. A redução não-monitorizada da glicose no sangue pode causar excitação, hiperatividade, espasmos musculares e, finalmente, rigidez descerebrada. Em indivíduos-controle, as alterações neurofisiológicas: aumento de latência do componente P300 dos potenciais evocados cerebrais e comprometimento cognitivo sutil ficam aparentes com níveis de glicemia na faixa de 45-70mg/dL, e aumentam proporcionalmente conforme a redução adicional dos níveis de glicemia. A atenção e a memória parecem menos comprometidas do que as funções cognitivas de ordem superior.
A resposta neuropsíquica de pacientes com diabetes melitus (estejam ou não em bom controle glicêmico) é similar à de indivíduos não-diabéticos. Em particular, ainda que os níveis basais de glicose modulem o limiar para os hormônios adrenérgicos e outros, envolvidos na resposta contrareguladora à hipoglicemia (isto é, limiar diminuído para a liberação de hormônios para aqueles com controle estrito e aumentado para os hiperglicêmicos), o limiar neuroglicopênico não se relaciona com a glicose basal.
Muitos pacientes diabéticos perdem completamente sua resposta adrenérgica comportamental, ou essa pode ocorrer em níveis cada vez mais baixos da glicemia. Desse modo, esses pacientes podem depender de sinais neuroglicopênicos para identificar a hipoglicemia. Se, contudo, a confusão é um dos sintomas primários, o paciente pode estar incapaz de reagir de modo apropriado. Pacientes mais idosos, e talvez aqueles com doenças mentais crônicas, também parecem perder sua resposta adrenérgica comportamental. Episódios recorrentes de hipoglicemia moderada podem produzir alterações neurofisiológicas e cognitivas irreversíveis em recém-nascidos, em crianças e, em menor grau, em adultos.
Tratamento. Embora a recuperação de níveis moderados de hipoglicemia seja geralmente completa (exceto por amnésia para o incidente) a recuperação da assim denominada fase medular (isto é, com glicemia igual ou menor a 10mg/dL) muitas vezes é prolongada e incompleta. A hipoglicemia crônica e episódios múltiplos de hipoglicemia sintomática causam déficits irreversíveis. Na hipoglicemia moderada, a recuperação cognitiva completa segue-se ao estabelecimento da glicemia normal, em cerca de 1 hora.
Hipoinsulinismo e hiperglicemia
Aspectos diagnósticos. O diagnóstico de hiperglicemia geralmente não é difícil de fazer, mas o clínico precisa permanecer alerta. Em particular, sintomas de poliúria e polifagia em pacientes com psicopatologia não devem ser atribuídos a efeitos colaterais da medicação ou polidipsia psicogênica até que o diabetes melitus tenha sido excluído.
Pormenores de manifestações mentais. Em adultos, uma história de diabetes malcontrolado (como verificado por retinopatia ou valores da hemoglobina glicosilada) parece comprometer o aprendizado, mas o comprometimento geralmente é de pouco significado clínico. A doença de longa duração associa-se a alterações micro e macrovasculares, que podem causar déficits neuropsíquicos múltiplos. As complicações metabólicas severas do diabetes melitus são a CAD e o coma hiperosmolar. Ambos se apresentam com delirium, progredindo para o coma. Pacientes em coma hiperosmolar, freqüentemente, têm convulsões e podem exibir sinais neurológicos focais.
Vasopressina
A arginina vasopressina, o hormônio antidiurético, é secretada pela hipófise posterior (neuro-hipófise) em resposta a aumentos da concentração de sódio no plasma e da osmolaridade do plasma. O hormônio atua no néfron distal, aumentando a reabsorção de água e é a forma principal pela qual o corpo regula o conteúdo de água. Os centros reguladores da secreção da vasopressina e da sede parecem estar adjacentes um do outro ao hipotálamo.
A vasopressina em excesso pode induzir hiponatremia e intoxicação hídrica, enquanto a deficiência de vasopressina produz poliúria e polidipsia secundária. Se a ingesta de água não acompanha a perda de água, o paciente torna-se hipematrêmico e delirante. Estudos demonstraram que 3-5% de pacientes mentais crônicos têm níveis elevados de vasopressina. A excreção comprometida da água em outros pacientes mentais é muitas vezes atribuída à hipotensão induzida pelos antidepressivos (particularmente no idoso). A evidência atual sugere que os neurolépticos raramente têm algum papel.
Vasopressina em excesso e hiponatremia
Aspectos diagnósticos. Muitas vezes, o diagnóstico de hiponatremia é ignorado e pacientes mentais com convulsões secundárias a intoxicação pela água recebem erroneamente o diagnóstico de epilepsia idiopática, sendo mantidos em medicação anticonvulsivante (que provavelmente não reduz a incidência de convulsões). A intoxicação hídrica (junto com outras causas secundárias) deveria sempre ser excluída, após diagnosticar-se um transtorno convulsivo em um paciente psicótico, particularmente se a convulsão é seguida por uma diurese em massa ou se o paciente tem uma história de polidipsia, vômitos ou abuso prévio de álcool.
Em vista dos pacientes poderem ficar normonatrêmicos entre os episódios, o diagnóstico pode necessitar da medida diária de alterações do peso por um período de 1-2 semanas e da obtenção de uma história cuidadosa, enfocando os sintomas latentes de intoxicação hídrica. Deve-se ter cuidado especial para excluir câncer de pulmão, porque os pacientes da clínica psi são em geral grandes fumantes e o câncer de pulmão, freqüentemente, causa a síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH).
Pormenores de manifestações neuropsíquicas. Hiponatremia aguda moderada (120-130mEq/l) perturba a cognição, mas não produz transtornos afetivos ou psicose. Em pacientes mentais, contudo, pode ocorrer agressão como resultado da hiponatremia. Sinais e sintomas de hiponatremia desenvolvem-se em função da rapidez da queda do sódio sérico. Assim, uma queda no nível do sódio de 10 mEq/I, em poucas horas pode produzir sintomas, enquanto níveis notavelmente diminuídos (isto é, 30 mEq/l abaixo do normal) não produzem sintomas óbvios, se ocorrem em dias ou semanas. Os sintomas podem progredir com uma queda aguda do nível do sódio, ou o paciente pode estar assintomático, tendo então urna convulsão súbita. Achados neurológicos assimétricos têm sido descritos.
Tratamento. Pacientes sob antidepressivos deveriam ter a pressão arterial ortostática determinada e, se indicado, a medicação deveria ser trocada para outra classe estrutural, não associada à hipotensão ortostática. Pacientes necessitando de tratamento para hipertensão deveriam ter diuréticos tiazídicos trocados por outro agente, como bloqueadores de canais de cálcio. Pacientes em carbamazepina (Tegretol) podem exibir resolução espontânea da hiponatremia, ou resolução se a dose é diminuída ou é acrescentado lítio (porque bloqueia as ações da vasopressina). A nicotina, um potente estimulante para a liberação da arginina vasopressina, contribui para alguns casos de hiponatremia e, desse modo, o controle do tabagismo pode ajudar. Pacientes em uso de clorpromazina (Amplictil) podem se sentir melhor, quando mudados para outro neuroléptico com menos potencial para induzir hipotensão ortostática.
Em alguns casos de hiponatremia leve, assintomática ou episódica, o clínico pode apenas educar o paciente e a família sobre os sinais e sintomas precoces de intoxicação hídrica. A restrição voluntária de água pode funcionar em pacientes clínicos com hiponatremia sintomática, mas raramente tem êxito com pacientes da clínica psi. Se não estão presentes fatores reversíveis, a intoxicação hídrica em pacientes mentais pode ser evitada pela monitorização de alterações agudas do peso corporal e restrição de líquidos, se o peso se elevar subitamente.
Deficiência de vasopressina e hipernatremiaAspectos diagnósticos. Embora a coleta da urina de 24 horas seja o meio ideal de diagnosticar poliúria, muitas vezes não é confiável em pacientes mentais. A evidência preliminar sugere que a poliúria pode ser inferida, obtendo-se as concentrações de creatinina da urina da tarde, que têm alta correlação com os volumes de urina de 24 horas. A deficiência de vasopressina (versus polidipsia psicogênica ou o diabetes insipidus nefrogênico; ver adiante) pode geralmente ser diagnosticada, impondo-se uma restrição hídrica. Após estabilizar a osmolaridade da urina, o paciente recebe uma injeção subcutânea de vasopressina. Pacientes com polidipsia psicogênica podem levar um longo tempo, após a restrição ser imposta, para atingir uma osmolaridade estável na urina, mas geralmente aumentam sua osmolaridade acima dos níveis do plasma e, então, exibem pouco aumento adicional com a vasopressina.
Pode ser difícil determinar se a poliúria de pacientes psiquiátricos é devido à polidipsia psicogênica, diabetes insipidus central ou (em certos casos) diabetes insipidus nefrogênico induzida pelo lítio, que pode levar um ano para se resolver após a descontinuação da droga. A polidipsia "psicogênica" é muito comum entre pacientes mentais, ocorrendo em todas as classes diagnósticas e em até 70% dos pacientes psicóticos crônicos. Em vista do diabetes insipidus central ser muito menos comum do que a polidipsia primária em pacientes mentais, os clínicos, normalmente, presumem que a polidipsia não é secundária a um defeito na secreção da vasopressina. Contudo, o índice de suspeita clínica deve ser aumentado se, 1) o paciente não tem um transtorno mental sério; 2) o soro é hipertônico; 3) o paciente tem uma história de traumatismo de crânio, cirurgia ou infecção do SNC; 4) o paciente tem uma história familiar de poliúria ou diabetes insipidus; 5) a ingesta ou excreção de água parece variar pouco dia após dia, ou 6) o paciente tem anorexia nervosa.
Pormenores das manifestações neuropsíquicas. A hipernatremia em sujeitos-controle induz à sede extrema, fraqueza e perturbações da cognição. Pode ocorrer tardiamente perturbação da consciência. Os sintomas raramente são confundidos com um transtorno mental.
Tratamento. O diabetes insipidus nefrogênico induzido pelo lítio, geralmente, responde à baixa da dose de lítio, mudança para uma única dose diária, ou acrescentado-se amilorida com ou sem um diurético tiazídico. Deve-se ter o cuidado de reduzir a dose de lítio, se um diurético for acrescentado.
A deficiência de vasopressina raramente é responsável pela poliúria em pacientes mentais. Se entra em cogitação uma tentativa com vasopressina, deve-se ter muito cuidado para evitar a intoxicação pela água. Não há tratamento eficiente para a polidipsia psicogênica, embora várias intervenções tenham sido tentadas. A despeito das propriedades anticolinérgicas de vários medicamentos psicotrópicos não darem uma grande contribuição para a polidipsia (através da boca seca), os pacientes com polidipsia deveriam ser tratados com drogas com efeitos anticolinérgicos mínimos.
Prolactina
A hiperprolactinemia em mulheres pode induzir a uma síndrome orgânica do humor; em homens, pode induzir apatia. A causa mais comum de hiperprolactinemia em pacientes mentais é a medicação neuroléptica. Mesmo baixas doses de drogas neurolépticas podem produzir a síndrome completa de hiperprolactinemia.
Aspectos diagnósticos. O diagnóstico de hiperprolactinemia deve se basear em pelo menos dois exames de níveis, na ausência de estresse ou gravidez. A hiperprolactinemia pode imitar depressão, mas sintomas de excesso de prolactina estão quase sempre presentes. Os neurolépticos raramente aumentam a prolactina acima de l00ng/dL. Níveis mais altos sugerem a presença de um adenoma secretor de prolactina.
Em pacientes tomando medicação neuroléptica, que consistentemente exibem níveis elevados, como a sulpiride (Equilid), deve-se empregar dias sem (feriado de) medicação, se possível, para avaliar se os níveis de prolactina caem. Um relato sugeriu que 4 dias sem neurolépticos injetáveis são adequados para as elevações induzidas pelas drogas se normalizarem.
Pormenores das manifestações neuropsíquicas. As mulheres com hiperprolactinemia tendem a ficar deprimidas, com aumento de sintomas de hostilidade, ansiedade e diminuição da auto-estima. Embora a severidade desses sintomas em auto-relatos possa ser severa, os pacientes raramente procuram tratamento psi. Homens, muitas vezes, apresentam-se com doença mais adiantada, queixando-se de cefaléias e defeitos do campo visual. A apatia é o sintoma neuropsíquico predominante, que pode contribuir para a demora em procurar tratamento.
Tratamento. A depressão é melhorada com a bromocriptina (Parlodel). Os efeitos salutares ficam aparentes em 4 semanas, mantêm-se por longos períodos e não se relacionam com a volta das menstruações; a depressão recorre com a supressão da droga. Tanto a amantadina como a bromocriptina são eficientes no tratamento dos sintomas de hiperprolactinemia causados pelos neurolépticos. Exacerbações psicóticas são raras, desde que o paciente seja mantido com um antipsicótico. Em vista do baixo custo e poucos efeitos colaterais, a amantadina é a preferida.