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Dicionário

MOSER, Fanny (Emmy von N…) (1848-1925)

Os trabalhos de O. Andersson e de H. Ellen­berger nos apresentaram a verdadeira Em­my von N…, "livoniana", a paciente na qual Freud disse ter utilizado pela primeira vez o método "catártico".

"Emmy", cujo nome verdadeiro era Fanny von Sulzer Wart, nasceu a 29 de julho de 1848, em uma nobre e antiga família de Winterthur.

Com a idade de 23 anos, casou-se com Heinrich Moser, um riquíssimo homem de negócios, quarenta anos mais velho e já pai de dois filhos. Com a sua morte, legou à esposa toda a sua fortuna; assim, esta foi acusada de envenená-Io. A suspeita de assas­sinato pesaria tão forte sobre o seu destino, que ela nunca conseguiria realizar o seu de­sejo mais caro: ser recebida nos salões da aristocracia européia. Levou uma vida er­rante, teve amantes entre os seus médicos, e acabou apaixonando-se por um jovem que se apoderou de boa parte da sua fortuna. Fixou-­se enfim em Au, perto de Zurique, em um "castelo", onde morreu a 2 de abril de 1925.

Suas duas filhas foram marcadas, cada uma à sua maneira, pela neurose materna: a mais velha faria uma brilhante carreira de zoóloga, antes de publicar em 1935 uma obra sobre a parapsicologia, prefaciada por Jung. A mais nova, revoltada contra os valores da classe dominante, da qual ela era um puro produto, se tornaria militante comunista, fun­daria em 1928 uma creche em Ivanova (URSS) e publicaria em 1941 um livro de histórias de animais para crianças. Os ani­mais tinham desempenhado um grande papel na patologia materna. Com efeito, em 1889, Freud decidira tratar Fanny Moser, que manifestava uma grave fobia por certos ani­mais. O tratamento durou seis semanas. Freud lhe fez massagens, prescreveu-lhe ba­nhos e procurou, através do sono artificial, da hipnose e do diálogo, "libertá-Ia" das suas emoções dolorosas. Afirmou que a tinha cu­rado. A 1º de maio de 1889, em uma crise de pânico, ela lhe deu ordem de afastar-se: "Não se mexa! Não diga nada! Não me toque!"

Na história oficial das origens da psicaná­lise, atribuiu-se, pois a Emmy von N. a inven­ção da cena psicanalítica, como se atribuía a Anna 0. a invenção do tratamento psicana­lítico (por "limpeza de chaminé"). Emmy "fabricou", dizia-se, as interdições necessá­rias a uma nova técnica de tratamento, fun­dada sobre o afastamento do olhar. Depois dela, o médico iria tornar-se psicanalista e instalar-se fora da vista do doente, renuncian­do a tocá-Io e obrigando-se a escutá-lo.

Entretanto, não só Emmy von N… não inventou a famosa "cena" da psicanálise mo­derna, mesmo que a frase seja autêntica, e nunca foi curada da sua neurose, nem por Freud nem por seus outros médicos.

Trabalhos recentes tendem a questionar os diferentes diagnósticos de histeria ou de melan­colia, e até de esquizofrenia feitos por Freud e seus sucessores, e consideram que Fanny Mo­ser sofria da doença de Gilles de Ia Tourette, debate onde reencontramos a antiga querela que opôs Freud aos partidários do organicismo.

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