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Pensando o Enactment na clínica

Neste texto, quero discutir um pouco o termo enactment, muito comum nos textos psicanalíticos contemporâneos, que conceitua um fenômeno, a meu ver de grande importância clínica.
Por enactment, a conceituação de muitos autores se aproximam do que seria um aspecto intersubjetivo atuando na inter-relação: analista e analisado.
Neste aspecto, o enactment envolveria, pelo lado da metapsicologia, aspectos da transferência e da contratransferência…

Neste texto, quero discutir um pouco o termo enactment, muito comum nos textos psicanalíticos contemporâneos, que conceitua um fenômeno, a meu ver de grande importância clínica.
 
Por enactment, a conceituação de muitos autores se aproximam do que seria um aspecto intersubjetivo atuando na inter-relação: analista e analisado.

Neste aspecto, o enactment envolveria, pelo lado da metapsicologia, aspectos da transferência e da contratransferência. Estas, determinadas, como sabemos, pelas identificações e projeções tanto da parte do analisado (transferência) como do analista ( contratransferência), e que seriam estas, as bases para se pensar o enactment no setting.

Neste caso, como enactment, podemos pensar a configuração que se dá através dos conteúdos inconscientes, nas suas relações inter-subjetivas entre paciente e analista, e que determinariam assim uma comunicação não consciente dinâmica.
 

Podemos pensar isso como uma atuação à dois – analista e analisado – que se dá dentro do setting, e que por meio de um conluio inconsciente determinariam um campo onîrico de atuação e de uma relação a um nível subjetivo no enquadre, mas não só nele.   Diferentemente de acting out, ou acting, pois não seria necessariamente uma atuação concreta, mas sim subjetiva.  Assim, o enactment:
 “(…)é a concepção de um fenômeno que ocorre envolvendo a díade paciente-analista,

levando, entre outras coisas, à compreensão da contratransferência como uma criação conjunta do paciente e do analista, como diz Gabbard (1995)”
 
Um aparte meu aqui, considero e acredito que o enactment não deva ser utilizado somente para pensar o a relação analítica, ou seja, dentro do setting, pois na verdade ele  poderia ser bastante útil para se pensar as relações inter-subjetivas e questões vinculares, pois este fenômeno estaria presente em qualquer relação.
 
Na inter-relação paciente e analista, o enactment pode ser iniciado por qualquer um dos dois, mas em todos os casos ele envolve uma encenação inconsciente, ou seja, uma atuação representada por papeis interdeterminados inconcientemente, que se agrupam e se estruturam numa re-lação, ( re-laço )
 
O enactment, em seu aspecto comunicativo, costuma veicular atualizações na transferência (Roughton, 1993), dado seu papel inter-relacional e subjetivo, que pode ser até mesmo dado por um silêncio e/ou comunicação corporal e não verbal, e até mesmo intuitiva.
 
Importante se faz a atenção do analista e o uso do manejo do fenômeno na clínica. Muitos dos momentos de “entrave” no processo analítico, ocorre devido à transferência conduzida pelo enactment..
 
Jacobs (2001) distingue o enactment em “abertos” e “encobertos” (“overt” e “covert” enactments).  Para ele, os enactments abertos, são os que evidenciamos mais corriqueiramente na clinica, por serem mais facilmente percebidos.

Exemplo destes enactments abertos são os momentos em que temos vontade de dormir durante uma sessão, ou nas situações de impotência que sentimos durante o processo de escuta, ou mesmo a sensação de não estar conseguindo acompanhar ou dar sustentação ao que o paciente nos coloca.    Sentimentos de incapacidade de parte do analista de organizar o pensamento durante a escuta, sensação de confusão.
 
Os encobertos, mais sutis, Jacobs(2001) classificou os que não são tão perceptíveis e por isso podem demorar a serem percebidos, gerando, geralmente, retardamento no processo de análise. Porém, para o autor, estes enactments são os que carregam em sua raiz, mensagens importantes e de maior impacto no processo analítico.  E se bem manejados pelo analista, os enactments (principalmente os encobertos, mas não só estes), um elemento importantíssimo no setting.
   

Referências :  

Cassorla, R. M. S. (1997). N o emaranhado de identificações projetivas cruzadas com adolescentes e seus pais. Rev. Bras. Psicanál., 31 (3): 639-676.

Gabbard, G. O. (1995). Countertransference: the emerging common ground. Int. J. Psychoanal., 76: 475-485.

Jacobs, T. J. (2001). On unconscious communications and covert enactments: some reflections on their role  in the analytic situation. Psychoanal. Inquiry, 21 (1): 4-23.

_____ (2006). Carta para N elson José N azaré Rocha. 23 de agosto de 2006.Laplanche, J. e Pontalis, J.-B. (1975). Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1975.

Kernberg, O. F. (1984). Transtornos graves de personalidade. Estratégias psicoterapêuticas. Porto Alegre:Artes Médicas, 1995.

Rocha, N . J. N . (1999). O paciente e os afetos do analista: intuição ou contraidentificação projetiva? Jornalde Psicanálise, São Paulo, 32 (58/59): 1999.

_______ (2001). Organizações defensivas do paciente e do analista: entraves ou instrumentos do trabalho analítico? Apresentado no XVIII Congresso Brasileiro de Psicanálise – ABP, São Paulo,

_______ (2006). O enactment como instrumento de compreensão de um processo psicanalítico. Apresentado no XXVI Congresso Latino-Americano de Psicanálise, FEPAL, Lima, Peru, 2006

______ (2009) Enactment: modelo para pensar o processo psicanalítico, Rev Bras de Psicanálise · Volume 43, n. 2, 173-182 · 2009 173 – Campinas.

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