Pesquisa feita na FM constatou que o consumo de álcool e de outras drogas por agressores sexuais pode diferenciar suas vítimas. Além do maior consumo de álcool, os agressores de crianças são também mais velhos.
Pesquisa feita na FM constatou que o consumo de álcool e de outras drogas por agressores sexuais pode diferenciar suas vítimas. Além do maior consumo de álcool, os agressores de crianças são também mais velhos.
O consumo de substâncias psico-ativas, como maconha e álcool, pode ser um dos fatores de distinção entre agressores sexuais. Os agressores de mulheres adultas têm mais problemas com as drogas. Já os molestadores de crianças, com álcool. A constatação vem da pesquisa de doutorado do psiquiatra Danilo Antônio Baltieri, feita na Faculdade de Medicina (FM) da USP. O objetivo foi estudar até que ponto o consumo de álcool e drogas é um fator que pode impulsionar a agressividade sexual.
A pesquisa resultou de três grandes parcerias nas quais o psiquiatra atua: o Grupo Interdisciplinar de Álcool e Drogas (GREA) da FM, o conselho Penitenciário do Estado e o projeto ABSex, Ambulatório de Transtornos da Sexualidade da Faculdade de Medicina do ABC. Para viabilizá-la, ele conta que foram entrevistados todos os 218 condenados por crimes sexuais violentos (Estupro ou Atentado Violento ao Pudor) da Penitenciária II de Sorocaba, entre julho de 2004 e setembro de 2005.
“Procuramos avaliar a gravidade do consumo, ou seja, a maior incidência de abuso e dependência destas substâncias, e a repetição de crimes associados a este consumo”, explica Baltieri. Segundo ele, não foi medida a quantidade de substância consumida, pois o que é importante neste caso é o efeito que esse consumo aplica sobre o comportamento da pessoa.
Os agressores foram divididos em três grupos, quanto à idade das suas vítimas: crianças (até 10 anos), adolescentes (de 10 a 18 anos) e adultos (acima de 18 anos). Todas as vítimas com mais de 18 anos eram mulheres. Os agressores de adultas mostraram-se mais jovens (por volta de 30 anos) e apresentaram um maior abuso e dependência de drogas em relação aos outros agressores e à população em geral.
Entre os molestadores de crianças, a gravidade de dependência de álcool é maior, o que poderia diminuir a noção do que é certo ou errado, além de modificar o comportamento. Eles são mais velhos que os outros, têm por volta de 40 anos ou mais. “Entre eles, não está em questão somente a violência física; é mais a sensação de poder, persuasão e domínio”, explica o psiquiatra.
Foi observado também que os agressores de meninos têm um consumo de álcool ainda maior, quando comparado com agressores de crianças do sexo feminino. Baltieri explica que isso pode ocorrer porque estes agressores se autodenominam heterossexuais e, ao mesmo tempo, sentem impulso sexual por uma criança do mesmo sexo. O consumo seria maior para que o agressor pudesse amenizar esse tabu.
“Já os agressores de adolescentes não têm um padrão definido. Eles possuem características tanto dos agressores de crianças quanto dos de adultas, e suas vítimas são mais escolhidas ao acaso, ao contrário dos outros grupos, cujo cuidado com a escolha da vítima é maior” afirma Baltieri.
Outro resultado da pesquisa diz respeito aos agressores seriais (encontrados nos três grupos), aqueles com três ou mais vítimas. Baltieri explica que “foi encontrado um maior nível de impulsividade e um maior histórico de abuso sexual na infância. Entre eles também há uma chance de diagnóstico de pedofilia de seis a sete vezes maior”.
É importante salientar que molestar crianças não é sinônimo de pedofilia. “A pedofilia é uma doença, que pode ser diagnosticada e tratada. Ela não implica necessariamente no contato do pedófilo com a criança. Ela pode ser exercida apenas por meio de imagens, da fantasia”, explica o médico. Já no caso de agressão sexual em crianças, o contato direto deve existir.
Para o psiquiatra, a partir da identificação dos problemas dos agressores é possível propor tratamentos diferenciados que utilizam novas abordagens. “A pena severa para agressores sexuais não resolve. É necessária uma abordagem psico-social específica, que muitas vezes até existe, mas as pessoas não a conhecem ou não sabem como utilizá-la” conclui Baltieri.
Fonte: [url=http://www.usp.br/agen/repgs/2006/pags/099.htm]www.usp.br[/url]