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Como estudamos o comportamento no Behaviorismo Radical?

A Analise do Comportamento é hoje, uma das mais conhecidas abordagens da psicologia. Firmada como ciência, mantém seus pressupostos filosóficos e por tanto, metodológicos no Behaviorismo Radical do americano B. F. Skinner (1904-1990).
O termo Behaviorismo, inaugurado pelo americano John B. Watson, inicialmente conhecido como comportamentalismo, postulava o comportamento como objeto de estudo primordial da psicologia. Watson, deu a esta ciência, o que muitos psicólogos buscaram durante anos: Um objeto de estudo observável, mensurável, cujo experimentos pudessem ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos.

O comportamentalismo de Watson, agregou a psicologia status científico, contribuindo / rompendo com suas tradições filosóficas. Hoje a psicologia é reconhecida como ciência e para tanto, tem exigido cada vez mais de seus membros, um comprometimento, um rigor com os métodos de analise (vide testes e ferramentas psicológicas preteridos em reavaliação de eficácia x método pelos Conselhos federais e regionais de psicologia) que é essencial para manutenção, evolução e organização do conhecimento psicológico.

Watson acreditava que a psicologia deveria fundamentar-se em perspectivas funcionalistas, onde o seu objeto de estudo (Comportamento observável) deveria ser analisado como função de certas variáveis do meio, ou seja, frente a determinados estímulos, o organismo forneceria determinadas respostas e esta relação somente era possível pois tais organismos se ajustam aos ambientes por meio de “equipamentos” hereditários e / ou pela formação de hábitos.

A grande maioria das criticas de alunos de psicologia sobre como estudamos o comportamento na Analise do Comportamento com bases filosóficas no behaviorismo radical, consiste em uma má interpretação e / ou compreensão desta abordagem, diferente do behaviorismo de Watson que direcionava a psicologia para uma ciência que excluía de sua lista de interesses a mente, os sonhos, os sentimentos, a alma e todos os outros conceitos mentalistas que não fosse capaz de controlar, o behaviorismo radical do americano B.F. Skinner, um dos mais importantes autores que sucederam Watson, buscou designar uma filosofia para ciência do comportamento, filosofia que fez com que esta ciência conduza seus processos de analise, observação e reflexões através de analises experimentais do comportamento.

A Primeira grande mudança entre o Behaviorismo de Watson para o Behaviorismo Radical de Skinner foi a criação do conceito de “Comportamento Operante”, conceito que considera que todo e qualquer movimento de um organismo (Resposta) que direta ou indiretamente tenha algum efeito no mundo e este retroaja sobre suas ações e movimentos (Estímulo Reforçador) alterando a probabilidade futura de ocorrência de respostas (aumentar, fortalecer ou diminuir a freqüência).

A Leitura que você está fazendo desta coluna, é um exemplo de comportamento operante. Você emite respostas (Entrar na Internet, abrir o link desta coluna, etc.) e diretamente causa mudanças no mundo (Aparece um texto na sua frente), se o link abre, estas retroagem sobre você fortalecendo as respostas de abrir Links de Internet se quiser saber mais sobre textos contidos nestes endereços. Já a leitura propriamente dita (Resposta), traz a mudança no mundo de ter acesso a um saber / conhecimento sobre um determinado assunto, se este assunto for considerado interessante para você, podemos dizer que são grandes as possibilidades de você retornar a ler textos desta coluna. Caso os textos sejam ruins, fortaleceremos a diminuição de respostas (futuras leituras desta coluna por exemplo).
Analisar o comportamento, via conceitos como este, propicia aos cientistas do comportamento, a possibilidade de chegar a raiz de cada comportamento humano, neste sentido, podendo pensar em intervenções “minúsculas” que somadas a cada comportamento, podem e concerteza, fazem a diferença nas práticas psicológicas organizacionais, educacionais, clinicas, institucionais, dentre outros campos de atuação da psicologia.

Skinner não construiu o conceito de comportamento operante intencionalmente, foi somente após estudos de comportamentos chamados de reflexos ou respondentes (usualmente chamados de não voluntários, como por exemplo: A) Cachorros saciados salivam após a apresentação do estímulo comida; B) Fechamos os olhos frente a estimulação de luz ofuscante; C) Espirros frente a estimulação de poeira; D) Outros) que ele pode evoluir e complementar sua filosofia.

Em outros passos avançados por Skinner, destaco os conceitos de “Reforçadores”. Chamamos de reforço tudo aquilo que afeta uma resposta, ou seja, toda conseqüência que seguida de uma resposta, altera a probabilidade futura de ocorrência desta resposta. (Exemplo: Se o rato com sede pressiona a barra e recebe a água, certamente, estamos fortalecendo a probabilidade de que sempre que tiver sede, poderá pressionar a barra e obter a preciosa água para eliminar a sua sede.).

Dentro dos chamados “reforçadores”, destaco ainda que, chamamos de reforçadores positivos, quando a adição de um evento aumenta a probabilidade futura de uma resposta. Chamamos de Reforço negativo, quando a subtração de um evento aumenta a probabilidade futura de uma resposta, ou seja, o reforçamento positivo oferece algo ao organismo (Exemplo: acesso a gotas de água) enquanto o negativo elimina algo indesejável (a retirada do choque, o desligar de um ventilador, etc.).

Os passos seguintes: coersão (Sidman 2003), Controle de estímulos (Sério; Andery; Gioia; Micheletto 2002); Obra completa contendo explicações sobre analise funcional, comportamento operante, condicionamento, comportamento reflexo, reforçadores, reforçamento diferencial, discriminação e generalização, privação, emoções, aversão, punição, autocontrole, encadeamento, comportamento social, agências controladoras, etc. (Skinner 2000) dariam a esta coluna simplesmente um conjunto de páginas dignas de um TCC (Trabalho de conclusão de curso), enfim, como o objetivo dos colunistas do redepsi, éde manter um vínculo diferenciado da confecção de artigos (Também disponível no site), preferi focar o comportamento operante para introduzir aos leitores como uma Analista do comportamento pode ver e por tanto analisá-los, mas ressalvo, que a infinidade de conceitos acima, deu e dá ao Behaviorismo Radical um leque de possibilidades de analise de eventos que eram anteriormente ignoradas como objetos de estudo por Watson.

Sonhar é comportar-se, pensar é comportar-se, comer, correr, recrutar, selecionar candidatos para uma vaga, tratar de um depressivo, ir á escola, ter um animal de estimação, dançar, pintar, cantar, falar, fazer amigos, ser terapeuta, namorar, brigar, dirigir, cometer um crime, vestir-se, comprar um perfume, comer compulsivamente, achar-se feio, brincar, fumar, lecionar enfim, todas estas e outra infinidade de “ações” são consideradas comportamento e por tanto, podem ser analisadas funcionalmente pela “lupa” da Analise do Comportamento.

Analisar comportamento, é simplesmente estudar estes eventos, assumindo que pessoas, lugares e coisas estão sempre controlando as ações de quaisquer indivíduos. As demandas de uma Analista do Comportamento vão muito além do tratamento de psicopatologias “graves” que demandam tratamento imediato (TOC, Anorexia, Autismo, etc.), onde estiver um ou mais organismos se comportando, lá poderemos estar investigando, observando, registrando, analisando e posteriormente intervindo se for necessário.

O Behaviorismo de Skinner, assim como Watson, deu a psicologia,, o que muitos psicólogos procuravam: Um objeto de estudo observável, mensurável que não exclui sentimentos, sonhos, pensamentos e outros comportamentos que somente os organismos tem acesso, que hoje chamamos de “Comportamento Encoberto”. As maneiras de ser ter acesso a estes comportamentos continuam sendo questionadas, estudadas e pesquisadas.

Por exemplo: Como avaliaríamos se um candidato pleiteando uma vaga de emprego é ou não um bom líder? Se utilizássemos o behaviorismo de Watson, estaríamos inteiramente restritos, pois não se “olha” liderança. Liderança, em primeiro lugar, é um conceito que se difere de empregador para empregador, de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, de livro para livro, enfim. Se utilizássemos o behaviorismo de Skinner, como teríamos acesso a este conteúdo encoberto? Se você está pensando via comportamento verbal ou entrevistas, eu concordo com você, mas não é pelo fato de que o sujeito se diz ou se considera um “líder” que ele tenha este comportamento em seu repertório comportamental.

Muitas vezes, o comportamento dos sujeitos contradizem os relatos verbais, o psicólogo, seja na clínica, educação ou empresas, deve não apenas atentar-se aos comportamentos verbais (Uma das principais via de acesso a conteúdos encobertos), mas também atentar-se ao comportamento dos sujeitos.

Analisar o comportamento operante, dá ao psicólogo subsídios para imaginar como algo se instalou no repertório deste sujeito, somado aos relatos trazidos mesmo, podemos identificar mentiras, necessidades de fuga, o quanto é aversivo para ele falar ou não de determinado assunto e por que, assim como confirmar se a maneira que ele vem se comportando está compatível com os relatos que são trazidos em entrevistas, sessões, etc.

Achando a estimulação adequada, podemos evocar nos organismos os relatos verbais ou comportamentos necessários para uma determinada analise ou intervenção. Compreender a história de vida destes sujeitos sobre o Behaviorismo Radical de Skinner, permite que ao chegarmos a raiz da funcionalidade de cada comportamento, possamos posteriormente, chegar a decisões mais completas e comprometidas com o rigor científico exigido com cada vez mais freqüência pela comunidade da psicologia, eliminando cada vez mais interpretações oriundas de conceitos mentalistas, como por exemplo: “Liderança é o ato de liderar grupos ou pessoas, organizando-as e / ou dirigindo-as a objetivos”.

Se liderança é o ato, ele é evocado frente a um determinado estímulo. Será que uma pessoa “Líder” em situações da empresa X será o mesmo líder na empresa Y? Quais as variáveis que controlam o ato de liderar deste ou daquele sujeito? Como “liderança” foi aprendida e inserida no repertório comportamental deste sujeito? Enfim, se não soubermos explicar ou justificar nossas analises, estaremos simplesmente ignorando a base científica da psicologia, base extremamente necessária para tornar o psicólogo cada vez mais assertivo e adequado a histórias individuais do que interpretativo e concentrador de um “saber”: Eu sou psicólogo e digo se você é ou não Líder….

Bibliografia

BOCK, A.M.B, FURTADO, O, TEIXEIRA, M.L.T (1999). Psicologias. São Paulo: Saraiva

SERIO, T.M.A, ANDERY, M.A, GIÓIA, P.S, MICHELETTO, N (2002). Controle de Estímulos e Comportamento Operante. São Paulo: Educ

SKINNER, B.F (2000). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes

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