A educação brasileira atualmente baseia-se em uma estrutura de ensino com muitas falhas, onde não se leva em conta os processos que constroem o sujeito e nem a sua forma de vida. Desta forma descartando todas as possibilidades de trabalhar com as potencialidades que os vários sujeitos trazem. Trabalha-se muitas vezes com aquilo que é posto, com olhares neoliberalistas, piagetianos, capitalistas, e outros, reproduzindo modelos de ensino que rotulam, hierarquizam e afastam. Partindo desta visão, o sujeito não passa de um objeto, onde é visto como algo que deveria absorver o conhecimento de forma mecânica e monótona.
Quando se parte de um princípio de questionamentos faz-se uma boa ação, pois abrimos mão da condição de "donos do saber", e se passa a ser um agente transformador. Sair aceitando tudo que nos é posto, é errado, é simplesmente reproduzir conceitos que nem sempre são certos, assim não valorizamos nossos saberes e fazeres. Para valorizar isso devemos criar novas formas de educar e trazer sempre um novo olhar sobre nossas práticas.Podemos criar novas formas de ensino, formas mais inclusivas que trabalhem mais a criatividade e abandonem as práticas taxativas, onde não se rotule o sujeito, como hiperativo, disléxico, dda entre outros. Devemos partir de uma idéia que não existem problemas de aprendizagem, ou melhor, que eles não atrapalham o aprendizado, o que há, realmente são problemas nas formas de ensinar. Cada indivíduo traz em sua história de vida uma maneira única de pensar e de viver, podemos então aproveitar isso, potencializar as características positivas, e trabalhar melhor as características negativas, assim partimos para um outro nível de educação, uma educação sofisticada, libertadora e desescolarizadora. Devemos supor que a nota prende e que a sabedoria liberta, desse modo é-nos permitido desescolarizar o sistema educacional. Isso não é retirar a escola da sociedade.Desescolarizar é sair dos currículos rígidos e obrigatórios, que fazem ser os únicos centros de educação, é poder criar, imaginar, experimentar e vivenciar novas formas de educação, isso é uma educação mágica dentro de uma instituição-escola. "Pensar em formação é pensar nas estratégias que podem engendrar uma outra 'forma-homem', ou seja, a construção de práticas sociais que instituem certo lugar de professor, aluno [….] mas é preciso buscar processos de formação para 'além' da forma escolar." (extraído do texto, As sutilezas dos processos de grupos e formação na atualidade) A aprendizagem parte de muitos princípios e um deles é a cognição.A cognição é um espaço entre o sujeito e o objeto. É a forma na qual percebemos a nós e o mundo, não é apenas representar, mas inventar, podendo ser mais ou menos inventivo. Para Maturana e Varela (1988) o sistema vivo é um sistema cognitivo em constante movimento, em processo de auto-produção permanente, autopoiético. A fórmula proposta é: SER = FAZER = CONHECER. Quando o sistema vivo se define como sistema autopoiético, seu operar confunde-se com o próprio processo de criação de si ou como na formulação de Varela: o fazer ontológico. Nesse processo que Maturana e Varela citam que um sistema cognitivo está sempre em mudança, aonde ele mesmo vai se mantendo, para eles o sistema segue um uma direção ser = fazer = conhecer, essa estrutura condiciona, mas não irá determinar as ações, mesmo porque ela sempre será imprevisível, graças ao breakdown.O breakdown é uma noção de perturbações, essa característica é interessante, pois deixa a idéia de mudanças no sistema cognitivo, que ocorre no exato momento da aprendizagem, deixando assim espaços para a invenção. É por isso que a aprendizagem não se dá por repetição mecânica das coisas, mas sim por uma atividade inventiva e criadora, onde seja possível problematizar para um melhor entendimento. A aprendizagem não acaba com o saber, ela continua se transformando, é assim que aprendemos a aprender e a criar novos meios e novas formas de ensino-aprendizagem. Cabe ao professor criar as suas próprias formas de educar e atuar. Uma forma de educar diferente ocorre na escola E.E.E.F.M. "Benício Gonçalves". Nela acontecem diversas coisas interessantes como gincanas culturais e grandes projetos sociais, políticos e pedagógicos.Alguns educadores nessa escola são: Aldacira Moraes, professora de história, sociologia e filosofia, Dalva da Costa, professora de língua portuguesa e Elenilce Pereira professora de educação física, entre tantos outros que contribuíram de forma positiva para o desenvolvimento dos alunos. Muitos alunos consideram esse local como um segundo lar, aprendem questões culturais, políticas, sociais, éticas, morais e outras. São assuntos trabalhados das mais diversas formas. Um exemplo é o projeto pedagógico, cultural e multidisciplinar, que se acabou movimentando todo o corpo escolar. Foram desenvolvidos diversos trabalhos sobre a cultura afro-descendente. Imagine trabalhar essa cultura com teatro, música, literatura, dança, pintura e muito mais… Foi desta forma que se trabalhou neste projeto que tinha caráter educacional voltado não só aos alunos, mas também à comunidade. Essa idéia começou a ser trabalhada por duas educadoras Aldacira Moraes e Dalva da Costa, juntamente com os alunos na sala de aula com leituras, debates, teatros e apresentações gerais onde os alunos tinham a liberdade de escolher qual o assunto abordado e como seria trabalhado, o projeto cresceu e por fim toda a escola acabou participando.A professora Elenilce também teve um papel importante, desenvolveu trabalhos com dança afro, especificamente o congo, onde os alunos aprenderam a história do negro. Pois cada coreografia, movimento e gesto têm um significado importante na cultura afro-descendente. A partir dessa vivência os alunos passaram a ter um outro olhar sobre a questão do negro, hoje sabem respeitar e apreciar a arte e a vida de nossos ancestrais. Então comparo essas professoras com a professora da história infantil de Ligia Bojunga, a professora que era gorducha em criatividade e que sempre trazia uma maleta repleta de idéias para seus alunos. […] A professora era gorducha, a maleta também porque era recheada de novidades para as crianças, suas alunas. A professora gostava de ver a classe contente, […] abria a maleta e escolhia o pacote do dia… Só pela cor do pacote, as crianças já sabiam o que é que ia acontecer […]Essa escola traz com ela muitos acontecimentos, muitos projetos e muitas formas de educar, e isso faz a diferença nos alunos, e estes não pedem para ir embora, querem permanecer nesse segundo lar. Alguns professores têm suas maletas repletas de pacotes buscando melhores formas de fazer o seu ensino lutando por uma educação libertadora nesse país.