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Estudo sobre a influência do relacionamento entre mãe e filha como indicador para o desenvolvimento da anorexia

Resumo:

Este estudo que se insere no campo da Psicologia Social e Clínica busca compreender a influência do relacionamento entre mãe e filha como indicador para o desenvolvimento da anorexia, onde a recusa em comer levam os pais a uma crescente preocupação acerca da alimentação que para a anoréxica aceitar alimento, carinho e cuidado da mãe seria a confirmação para todos de que ela é ruim, pelo fato do anoréxico encarar a comida como um inimigo a abater, como algo que aparece para lhes roubar a felicidade. Será feita a análise da discussão teórica dos autores a fim de verificar os fatores que levam os jovens a passar por esse transtorno alimentar. Os resultados apontam que são diversos os motivos pelos quais a pessoa torna-se anoréxica, o mais indicado é a excessiva cultura ao corpo operando uma forma de relação com o mundo no qual preconceitos relativos à beleza, associados à preocupação excessiva com a aparência predominam na cultura. Outro fator é a estrutura familiar, onde muitas anoréxicas pertencem a famílias rígidas e fechadas sobre elas próprias, e geralmente tem um relacionamento patológico com a mãe. A anorexia, portanto é uma doença complexa, envolvendo fatores psicológicos, biológicos, sociais, culturais

Palavras-chaves: anorexia, família, transtornos psicológicos.

Introdução

 Anorexia nervosa é um distúrbio alimentar resultado da preocupação exagerada com o peso corporal, que pode provocar problemas psiquiátricos graves. É considerada como uma doença complexa, envolvendo componentes psicológicos, fisiológicos e sociais. Segundo Ballone (2003), na Anorexia Nervosa os pacientes podem empregar uma ampla variedade de técnicas para estimar seu peso, incluindo pesagens excessivas, medições obsessivas de partes do corpo e uso persistente de um espelho para a verificação das áreas percebidas como "gordas". A auto-estima dos pacientes com Anorexia Nervosa depende obsessivamente de sua forma e peso corporais.

A perda de peso é vista como uma conquista notável e como um sinal de extraordinária disciplina pessoal, ao passo que o ganho de peso é percebido como um inaceitável fracasso do autocontrole. Embora alguns pacientes com este transtorno possam reconhecer que estão magros, eles tipicamente negam as sérias implicações de seu estado de desnutrição.De acordo com Cobelo (2004), a anorexia em adolescentes vem crescendo de maneira assustadora e, talvez, seja essa uma das manifestações que fazem claramente os reflexos da cultura na sanidade emocional das pessoas. Ela se dá pelo fato da busca por uma estética corporal determinada pela cultura da época. Muitas vezes, a anorexia – ou outros distúrbios alimentares – surge quando se passa por momentos conturbados, como separação, perda de emprego, perda de um parente, mudança de cidade. Isso não quer dizer que sejam a causa da anorexia, mas sim, que são facilitadores do aparecimento do transtorno. Outra situação bastante comum, é que as pessoas em volta demoram a perceber o problema, na maioria das vezes por falta do conhecimento do assunto.Tem maior incidência a partir da puberdade, este distúrbio é mais comum em mulheres com faixa etária de 12 a 25 anos, embora o número de homens acometidos pela doença venha aumentando a cada ano. Lomba (2005) ressalta que ela pode atingir pessoas de todas as classes sociais, de todas as raças, grau e escolaridade e de ambos os sexos. As mulheres que já menstruam costumam apresentar supressão das menstruações quando acometidas de anorexia nervosa.

A amenorréia em geral é uma conseqüência da perda de peso, mas, em uma minoria de pacientes pode precedê-la. Em jovens pré-púberes, o aparecimento da menstruação pode ser retardado pela doença. (VARELLA, 2006)Estimativas apontam que a anorexia atinge 1% da população mundial sendo a maioria mulheres e cerca de 30% dos casos evoluem para a morte. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) recolhidos em 1999 revelam que nos Estados Unidos uma em cada 100 mulheres de 12 a 18 anos é anoréxica. No Brasil, a proporção cai para uma em cada 250 adolescentes. Uma das causas da doença, diz respeito à insatisfação das pessoas em relação ao próprio corpo. De acordo com Lawrence (1991), a dificuldade da anoréxica em identificar sensações físicas, e principalmente a fome está diretamente ligada a um fracasso nesse processo anterior de aprendizagem. Elas não aprendem a gerenciar a própria vida, não sendo capaz de dirigi-la sozinha. Quando precisam demonstrar autonomia, sentem-se incapazes de enfrentar a realidade. As jovens anoréxicas sentem prazer e necessidade de ver os outros comendo mais do que elas, desenvolvem comportamentos bizarros em relação aos alimentos. Muitas vezes para não comê-los e os outros não perceberem, passam a escondê-los dentro dos armários, enchem o prato de comida e a seguir jogam fora, sem que os outros vejam.

Metodologia

A presente pesquisa insere-se no campo da psicologia clínica e social, cuja linha trabalha a abordagem familiar no tratamento da anorexia. Busca através de uma discussão teórica compreender os sinais e sintomas dessa disfunção alimentar, caracterizada por uma rígida e insuficiente dieta alimentar e estresse físico.

De acordo com Cordás (2004), isso acontece por causa de uma busca desenfreada pela magreza, ocorrendo uma distorção grosseira da imagem corporal e alterações no ciclo menstrual.

Varella (2006) aborda o termo anorexia nervosa como um distúrbio alimentar, resultado da preocupação exagerada com o peso corporal, que pode provocar problemas psiquiátricos graves, onde a pessoa se olha no espelho e, embora extremamente magra, se vê obesa; com medo de engordar, exagera na atividade física, jejua, vomita, toma laxantes e diuréticos. É um transtorno que se manifesta principalmente em mulheres jovens, embora sua incidência esteja aumentando também em homens. Na análise conceitual deste autor, compreende-se uma origem psicológica com acepções psiquiátricas e fisiológicas, de forma explicativa, onde o termo é constituído de distúrbios e transtornos psiquiátricos. Entretanto, para Lawrence (1991) anorexia trata-se de uma doença psiquiátrica, não rara em nosso meio que acomete principalmente mulheres de 14 a 35 anos, caracterizadas pelo desejo obsessivo, voluntário e contínuo de emagrecimento, bem como por padrões disfuncionais na interação familiar.  Nota-se que esta definição é de cunho psiquiátrico, na medida em que pontua como doença, abrangendo os aspectos biopsicossociais de forma descritiva. Muitos especialistas acreditam que a influência da mídia é a principal (mas não a única) causa de transtornos alimentares. Isto porque a mídia comumente (mas não sempre) impõe o estereótipo em que a magreza é um fator importantíssimo, se não indispensável, para o sucesso social e econômico de uma pessoa, desde  redes de televisão até filmes e revistas. Tal influência é bastante negativa em crianças e adolescentes, cuja personalidade ainda está em formação, e casos de garotas entre 11 a 14 anos anoréxicas existem com relativa freqüência.

Recentemente, Roberto (2002), corrobora a hipótese de que a disfuncionalidade de padrões familiares possa ser uma possível explicação no entendimento da configuração desse quadro de transtorno alimentar. Dessa forma, a abordagem familiar tem mostrado sua eficácia quando se trata de anorexia nervosa em adolescentes, uma vez que as famílias com pacientes com transtorno alimentar apresentam dificuldades na sua organização, com evitação de conflitos, regulação na expressão de afeto entre seus membros e significativo prejuízo no grau de estímulo à autonomia individual, entre outras características. Freqüentemente, o paciente identificado envolve-se excessivamente nos conflitos entre os adultos. Além disso, segundo Falceto (2003), aparecem dificuldades especiais na relação mãe-filha, apresentando sentimentos ambivalentes. Enquanto a alma grita por cuidados, ela se recusa a alimentar o corpo, ao mesmo tempo que seu desejo de ser autônoma, dona de sua vida, causa-lhe um conflito enorme. Seabra (2003) define a relação entre mãe e filha, na intimidade e continuidade, como dois pólos do mesmo ser: mulher, criativa ou destrutivamente, a filha busca na mãe sua identidade; a mãe busca realização na existência da filha, ou seja,  uma existência dá sentido à outra.

Ao analisar este conceito, verifica-se ser de cunho psicanalítico, é explicativo, porém limitado. A relação materna é conceituada como uma interação entre mães e filhos, nas relações comportamentais, psicológicas e sociais. A relação entre mãe e filha é bastante complexa, mas também muito especial, pois ao mesmo tempo em que brigam e disputam, uma não pode viver sem a outra. Concordando com Oliveira (2007) na maioria das vezes a amizade entre ambas costuma ser bem explícita, pois as mulheres gostam de conversar e expressar seus sentimentos, o que facilita a aproximação e o diálogo. Ao avaliar esta definição, percebe-se ser de origem psicossocial no que diz respeito as relações mencionadas acima, com abordagem descritiva/explicativa.Para explicar o grau de relação entre mãe e filha, bem como a qualidade do ambiente onde vive esses sujeitos, Rodrigues (2007) afirma que, quando os pais perdem o controle sobre o adolescente é porque faltou limite e diálogo. É o caso de adolescentes que demonstram agressividade, revolta, timidez ou um comportamento contido. Muitas vezes, o problema está na falta de atenção, afeto, compreensão e diálogo.

Nota-se assim, ser este discurso procedente da psicologia, com acepções sociais, sendo seus elementos constituintes descritos acima, mostrando ser explicativa. As famílias que convivem com o transtorno alimentar, como qualquer outra família que traz em seu bojo uma disfunção, encontram-se empobrecidas nas histórias que contam sobre si mesmas. Rolland (1995) salienta que estas famílias estão aprisionadas nos problemas que a anorexia promove em suas pautas conversacionais, isto por anos, às vezes, e acabam por rotular-se através desses problemas. Tais rótulos trazem o grave perigo de descarregar a “culpa” no paciente identificado, e as conversações podem ficar limitadas a um só tema – o transtorno alimentar.   

Assim, o indivíduo é o grande problema de quem se fala, se esconde ou se controla e que faz sofrer o restante da família.

Considerações Finais

Os transtornos alimentares são patologias, assim como os outros transtornos, que requerem do paciente e das pessoas que convivem com ele comportamentos e atitudes de compreensão, entendimento, colaboração, paciência, disponibilidade, busca constante de orientação e momentos de reflexão. Nesse momento o principal e mais importante é o papel da família, que ajuda o paciente a chegar a uma compreensão melhor de como ele está e como chegou até aqui. Por ser considerada como um transtorno, a doença deflagra uma situação de crise, que atinge não só o indivíduo afetado, como as pessoas mais próximas que o cercam. O ambiente familiar se vê frente a uma situação vital nova e potencialmente transformadora. Doente e familiares sentem a necessidade de se adaptarem à nova realidade que se instaura, e mobilizam seus recursos defensivos para enfrentá-la. As necessidades afetivas são intensificadas e é comum a regressão emocional, acompanhada de manifestações de sentimentos, tais como impotência, medo, raiva, culpa e agressividade. São reações à situação de crise, mas também tentativas de adaptação à nova situação vital criada pelo adoecimento e suas decorrências. Diante da situação de crise, o doente necessita reorganizar-se em nível psicológico. Esse processo de reorganização é o que possibilita seu enfrentamento adequado ou não. Na anorexia, o comprometimento familiar é bastante evidente.

O sofrimento não fica limitado à pessoa portadora. A doença crônica prende toda a família em sua teia. O sistema familiar como um todo precisa se reorganizar para enfrentar a nova realidade e se adaptar às condições de vida engendradas pela doença e pelo tratamento. O contato com procedimentos médicos, tais como consultas, exames e abordagens terapêuticas diversas, assim como a necessidade de se recorrer eventualmente ao ambiente hospitalar em momentos de agravamento do quadro, tudo isso gera mudanças na rotina doméstica, gerando desorganização e angústia frente ao desconhecido.

Referências Bibliográficas

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