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Dicionário

personalidades mana

Mana é uma palavra derivada da antropolo­gia, sendo melanesiana em sua origem; é pertinente ao extraordinário e irresistível poder sobrenatural que emana de certos indivíduos, objetos, ações e eventos, como também de habitantes do mundo do espírito. Seu equivalente moderno é "carisma". Mana sugere a presença de uma força vital avassaladora, uma fonte primeva de cres­cimento ou cura mágica que equivale a um conceito primitivo de energia psíquica. Mana pode atrair ou repelir, descarregar des­truição ou curar, confrontando o ego com uma força supra-ordena­da. Não se deveria confundir com numinosidade, que é pertinente apenas à presença divina. É um poder quase divino que se prende ao mágico, mediador, sacerdote, trapaceiro, santo ou tolo sagrado – a qualquer um que participa do mundo do espírito o suficiente para conduzir ou irradiar sua energia.

Desde a morte de Jung, estudos sobre estados transitórios con­firmam que, durante períodos liminares ou estados fronteiriços, uma pessoa tal como um iniciado, noviço, paciente ou analisando, é par­ticularmente suscetível à atração das chamadas personalidades mana. O efeito de tais imagens, reais ou projetadas, é o de dar ao in­divíduo um sentimento de direção para uma imaginável ou realizável ampliação da consciência. A extraordinária personalidade mana, Don Juan, retratada por Carlos Castañeda é um exemplo. Porque se fica convencido de que uma tal figura alcançou um estado mais elevado de consciência, a possibilidade de alcançá-lo é estabelecida e, conseqüentemente, o indivíduo confia em que ele próprio pode fazer a transição em sua companhia.

Infelizmente, a análise científica do relacionamento de transfe­rência entre analista e paciente perdeu o contato com a eficácia de tais imagens. Como personagens que ajudam a fazer as transições, têm elas imenso valor, uma vez que a projeção de poder é essencial nessas circunstâncias; sua integração advém mais tarde quando o ego é capaz de arrebatar esse poder delas e reivindicá-lo em favor do indivíduo e de seus próprios objetivos. Em um estágio ainda mais tardio, quando anima e animus foram despidos de sua própria atração e força semimágicas, o analisando tem um se­gundo confronto com personalidades mana, porém dessa vez são elas projetadas para dentro e normalmente assumem a forma de presen­ças espirituais do próprio sexo da pessoa – personificações do Deus-­Pai ou da Grande Mãe, Velho Sábio ou Velha Sábia, conforme o caso. Jung manteve durante a vida toda um relacionamento com uma tal figura a quem pintou e com quem dialogava repetidamente: Filemon. Mana prende-se ao "ponto médio desejado da personalidade", escreve Jung, "aquele inefável algo entre os opostos, ou, mais, que os une, ou o resul­tado do conflito, ou o produto de uma tensão: o nascimento da per­sonalidade, um profundo passo individual à frente, o estágio seguin­  te".

As personalidades mana aparecem sempre que o ego conscien­temente confronta-se com o self. Vê-Ias como meras imagos de pai ou mãe é reduzi-Ias a um "não mais que" ou "nada senão", de acordo com Jung. A personalidade mana, como uma imagem ideal e incorruptível, é essencial para o processo de iniciação após o qual se obtém um renovado senso de individualidade. O perigo inerente a períodos de transição é que o indivíduo, contudo, se iden­tifique com as figuras mana, e exista uma conseqüente inflação.

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