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Sentimentos anímicos (ou do ego)

Os sentimentos anímicos são, para Max Scheler, sentimentos dirigidos. Trata-se de formas sentimentais reativas ante o mundo exterior. Alguém fica alegre ou triste por determinadas notícias; assim, neles começa a participação do ego ativo, e por isso Scheler fala também em sentimentos do ego. Os sentimentos anímicos não se ligam à percepção mesma, mas ao sentido, ao significado percebido.

Os sentimentos anímicos não são funções do ego, mas uma modalidade do ego. Uma tristeza motivada, por profunda que seja, nunca tem a difusão corporal de um mal estar vital. Certo é que os sentimentos anímicos podem perceber-se mais ou menos próximos ao ego, mas sem rebaixar seus próprios limites. Um homem cujos sentimentos anímicos não estivessem motivados e não oferecessem certa intimidade de sentido, seria tão incompreensível quanto um ser com inteligência deficitária.

Para Scheler a diferença entre esses tipos de sentimentos tem um caráter essencial, sem trânsitos possíveis. Cremos que se trata de diferenças conceituais e que a vida se nega a estas diferenças taxativas. Por exemplo, falamos de encolerizar-nos: eu me encolerizo, como eu me entristeço. O ego, ativamente, toma uma atitude. O russo diz, por exemplo, que ele se encoleriza; isto é, como se a cólera emanara de si mesmo e não fora uma atitude reativa. A passividade do oriental se explica deste modo mais vital e menos anímico de sua vida sentimental. Também nos ocidentais temos todas as formas de trânsito. Junto ao "eu me encolerizo" está o "eu sinto que me invade a cólera". No primeiro caso é o incêndio que salta súbito, ao aproximar-se uma faísca. No segundo vai crescendo pouco a pouco, como alimentado de dentro. Essa referência à fonte interior será maior ou menor, segundo o caso, segundo o estado de ânimo do momento. A transição entre a camada vital e a anímica tem um enorme interesse patopsicológico. Com respeito à tristeza nos encontramos com o pôr-se triste, sentimento reativo anímico; o estar triste, sentimento vital endógeno, e o ser triste que denota um matiz constitucional da personalidade. Eis aqui a diferença entre depressão reativa, depressão endógena e psicopata constitucional.

O interesse aumenta quando se estudam as relações recíprocas entre estes estados. Existe um tipo especial de reação que se chama "reação cristalizada": existem estados vitais nos quais a ação de uma emoção – sentimento anímico – imprime um determinado sentido. Por exemplo, uma emoção triste causa uma tristeza que sobrevive ao motivo causal. Esta sobrevivência se acha determinada porque a tristeza, que a princípio parecia provocada, na verdade era uma tristeza vital. Os sentimentos vitais do ser se acham em um estado de aparente equilíbrio. Uma forte e duradoura emoção provoca a cristalização afetivo-vital, ou endo-reativo. Daí sua sobrevivência, que fará com que se encontre totalmente desligada do motivo provocador.

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