Annie Reich define a contratransferência como os efeitos das necessidades e conflitos inconscientes do analista. A personalidade do paciente, ou o material que ele produz ou a situação analítica como tal, representa um objeto do passado do analista, sobre o qual são projetados sentimentos e desejos. Uma definição mais ampla incluiria não só situações em que o paciente serve como um objeto real para quem alguma coisa é transferida, mas também aquelas em que o paciente serve meramente como instrumento para satisfazer alguma necessidade do analista, como o alívio da ansiedade ou o domínio de sentimentos de culpa. A contratransferência é uma parte necessária da terapia psicanalítica, pois é no âmbito da contratransferência que se dá a percepção e compreensão inconsciente, por parte do analista, das produções de seu paciente, tipicamente por meio de identificações parciais e efêmeras com o paciente, ponto em que o analista adquire insight e compreensão de produções antes incompreensíveis e confusas do paciente. Mas o analista deve estar apto a renunciar a essa identificação e a retomar ao seu papel objetivo, preservando assim a neutralidade de suas reações às emoções do paciente, neutralidade essa que toma possível a transferência do paciente.
De modo ideal, os mecanismos inconscientes do analista serão sublimados com êxito nas qualidades necessárias à prática da técnica psicanalítica. Se isso não ocorrer, entretanto, podem aparecer várias manifestações indesejáveis de contratransferência. Elas podem ser agudas, temporárias e de curta duração, e tais manifestações baseiam-se freqüentemente na identificação com o paciente ou em reações ao conteúdo específico das produções do paciente. Como exemplo do primeiro caso, A. Reich cita o analista que tomava analgésicos para aliviar as dores. O seu paciente começou a fazer exigências agressivas de atenção que aborreciam o analista, porquanto ele próprio estava numa situação que justificaria demandas análogas, mas foi obrigado a controlar-se. Como um caso de reação a conteúdo específico, A. Reich descreve o analista que ficava sonolento e tinha dificuldade em concentrar-se ou recordar quando o seu paciente produzia material que ele percebia estar relacionado com a cena primitiva; na situação terapêutica, ele reagia com as mesmas defesas que usava em criança quando exposto à cena primitiva.
Mais sérias, contudo, são as manifestações prolongadas, que se repetem freqüentemente ou até que são constantes de contratransferência: estas são geralmente baseadas em distúrbios de personalidade profundamente enraizados. Assim, desejos masoquistas passivos no analista podem tornar-lhe impossível analisar resistências no paciente; em vez disso, aceita-as pelo seu valor literal e deixa que o paciente o acuse e maltrate. Ou então a agressão inconsciente pode tomar o analista superconciliatório, hesitante e incapaz de ser firme. Sentimentos inconscientes de culpa podem levar ao aborrecimento ou à excessiva preocupação em se obter resultados terapêuticos.
Um tipo não raro de contratransferência baseia-se numa atitude paranóide no analista, de modo que ele desenterra no paciente o que não quer ver em si mesmo, ainda que tal conteúdo exista apenas em grau diminuto no paciente. A necessidade de mostrar que não tem receio do inconsciente e de suas manifestações pode produzir no analista uma compulsão para entender o inconsciente intelectualmente, mas tal isolamento incapacita-o para compreender os mecanismos de defesa. Se o analista duvida da veracidade das expressões inconscientes, pode recear fazer quaisquer interpretações ou pode supercompensar fazendo interpretações prematuras e profundas demais sempre que é reconhecido qualquer pequeno fragmento de material inconsciente. Quando a análise representa principalmente uma fonte de satisfação narcisista para o próprio analista, este ver-se-á como uma pessoa capaz de realizar curas mágicas, que restitui a potência e cura castrações; isto conduzirá a uma excessiva ambição terapêutica, à superestimação de pacientes e à hostilidade para com aqueles pacientes que não melhoram. Uma atitude pedagógica por parte do analista resulta mais em uma terapia de apoio do que em uma terapia analítica, dado que, em essência, estará dizendo ao paciente: "Está vendo, o mundo não é tão ruim quanto você pensa, e eu não o estou maltratando como você foi maltratado na infância".