Objetivo do artigo é fazer uma análise do Decreto Nº 2.494 sob a ótica do Sistema Personalizado de Ensino (PSI). Propõe-se que a implantação planejada do Ensino a Distância (EaD), utilizando-se como recurso metodológico o PSI, possa trazer algumas vantagens ao sistema educacional brasileiro.
O decreto também regula as formas de credenciamento que tem de ser específicas e a necessidade das instituições atenderem aos padrões de qualidade estabelecidos sob o risco de descredenciamento caso os requisitos mínimos não seja atingidos. O terceiro artigo chama atenção nesse decreto, pois determina que “a matrícula nos cursos a distância do ensino fundamental para jovens e adultos, médio e educação profissional será feita independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação que define o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino”[v].A relação entre os cursos á distância e os cursos presenciais também é tratada no documento: “Os cursos a distância poderão aceitar transferência e aproveitar créditos obtidos pelos alunos em cursos presenciais, da mesma forma que as certificações totais ou parciais obtidas em cursos a distância poderão ser aceitas em cursos presenciais”[vi]. Apesar de breve, o decreto toca em várias questões importantes, e certifica que os diplomas conferidos por entidades credenciadas em oferecer cursos á distância terão validade nacional, que a avaliação do rendimento do aluno para fins de promoção, certificação ou diplomação, realizar-se-á no processo por meio de exames presenciais. Finalmente é citado que “para exame dos conhecimentos práticos a que refere o parágrafo anterior, as Instituições credenciadas poderão estabelecer parcerias, convênios ou consórcios com Instituições especializadas no preparo profissional, escolas técnicas, empresas e outras adequadamente aparelhadas” [vii].
O Sistema Personalizado de Ensino é uma metodologia de ensino fundamentada nos conceitos da Análise do Comportamento e criada por Fred S. Keller. A Análise do Comportamento é uma ciência natural que estuda o comportamento de organismo vivos e íntegros. [viii] Comportamento é a interação entre um organismo, fisiologicamente constituído como um equipamento anatomo-fisiológico, e o seu mundo, histórico e imediato[ix]. Definimos comportamento como a relação entre estímulo e resposta[x]. Estímulo é uma parte ou mudança em uma parte do ambiente; resposta é uma mudança no organismo.[xi] A Análise do Comportamento se divide em três partes: o seu braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado como Análise Experimental do Comportamento. O braço ligado à criação e administração de recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do Comportamento[xii].
O PSI se baseia nos seguintes princípios:
"1. O ritmo individualizado do curso, que permite ao aluno prosseguir com velocidade adequada à sua habilidade e à sua disponibilidade de tempo;
2. O requisito de perfeição em cada unidade, para poder prosseguir, de forma que o aluno só tem permissão para avançar quando já demonstrou domínio completo do capítulo precedente;
3. O uso de palestras e demonstrações como veículo de motivação, ao invés de fonte de informação crítica;
4. A ênfase dada à palavra escrita nas comunicações entre professores e alunos e, finalmente,
5. O uso de monitores, permitindo repetição de testes, avaliação imediata, tutela inevitável, e acentuada ênfase no aspecto sociopessoal do processo educacional."[xiii]
Os Analistas Aplicados do Comportamento que utilizam ou desenvolvem o PSI e outras metodologias baseadas em Análise do Comportamento acreditam que “o estudo da aprendizagem tem-se especializado cada vez mais, aponto de cada abordagem desenvolver sua própria terminologia e metodologia de pesquisa”[xiv].Foi justamente devido ao desenvolvimento da Análise Experimental do Comportamento que o PSI se tornou possível. Ele deriva inteiramente de pesquisas básicas e aplicadas.
Dentre as possíveis vantagens trazidas pelo EAD podemos citar claramente:
1 .Apresentação seqüencial do conteúdo,
2. Baixo custo de manutenção,
3. Estímulo à auto-apendizagem,
4. Ênfase na palavra escrita,
5. Utilização de múltiplos canais de ensino-aprendizagem como Internet, TV, DVD…;
6. Flexibilidade do programa de ensino, possibilitando que o estudante aprenda no seu próprio ritmo;
7. Conforto, que o estudo adequado á realidade do estudante traz e;
8. A diminuição da possibilidade do estudante ser exposto a punições desnecessárias emitidas pelo professor e/ou colegas em sala de aula.
A análise do Decreto Nº 2.494, e consequentemente e de algumas características do EAD, demonstram claramente a possibilidade de relacioná-los no contexto educacional brasileiro e produzir nos resultados com isso.
O EaD e PSI possuem em semelhança:
1. O estímulo à auto-aprendizagem e auto-gerenciamento do estudo,
2. A condução dos estudos em ritmo próprio do aluno,
3. Valorização da linguagem escrita,
4. Planejamento prévio do material didático e
5. Sistematização do conteúdo e a flexibilidade de horários e de duração dos cursos
Existem também diferenças claras entre EAD e PSI. Listemos algumas:
1. O PSI é um método que tem mais evidências empíricas de efetividade do que a EaD devido á diferença do número de pesquisas já realizadas,
2. O PSI geralmente é utilizado presencialmente,
3. O EaD utiliza mais recursos tecnológicos para a sua consecução como PCs, Internet, DVDs, e outras mídias
O PSI pode ser utilizado como metodologia de ensino por que apesar da diferenças entre ensino tradicional e EaD este ainda é influenciado pelo paradigma da “passagem” do conhecimento, não se preocupa também em dividir o conteúdo em pequenas unidades para que o aluno possa dominar cada tópico estudado (100% desempenho), afinal o domínio completo de todos os tópicos abordados em um curso seriam importantes para a formação do aprendiz. Com a adaptação do PSI ao EAD o aluno só avançaria de uma unidade para outra após demonstrar domínio da unidade anterior, o EaD também é um sistema que não utiliza usualmente o tutoriamento de pessoas ou grupos deixando o estudante sem reforçadores imediatos para estimular seu estudo e o PSI poderia contribuir também com essa evolução caso.
A possibilidade das pessoas serem mais sensíveis ao contato presencial poderia servir como Operação Motivadora dentro de um curso á distância pautado no PSI. A utilização de encontros presenciais após o estudante terminar um módulo poderia aumentar o valor dos reforços dos comportamentos que caracterizam o “estudar” afinal além da possibilidade avançar uma unidade o estudante poderia ter o direito de entrar em contato com os colegas de turma para debater, aplicar o conhecimento em aulas práticas e de campo e realizar experimentações.
[i] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
[ii] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
[iii] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
[iv] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
[v] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
[vi] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.[vii] Lei Nº. 9.394 de 20 de dezembro de 1996.
[viii] BAUM, Willian M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura. Porto Alegre: Editora Artes Médicas Sul, 1999.
[ix] CARVALHO NETO, Marcos Bentes. Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em psicologia, 2002.
[x] SÉRIO, Teresa Maria de Azevedo Pires; MICHELETTO, Nilza; ANDERY, Maria Amália Pie Abib. O comportamento como objeto de estudo. Ciência: comportamento e cognição. 2007.
[xi] MOREIRA, Márcio Borges; MEDEIROS, Carlos Augusto de. Princípios básicos de Análise do Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007.
[xii] CARVALHO NETO, Marcos Bentes. Análise do comportamento: behaviorismo radical, análise experimental do comportamento e análise aplicada do comportamento. Interação em psicologia, 2002.
[xiii] KELLER, Fred. S. Adeus, mestre! Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Número 1, Volume 1, 1999.
[xiv] CATANIA, A. C. Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição. Tradução de D. G. Souza. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.