RedePsi - Psicologia

Artigos

A angústia entre desejar e adoecer: Reflexões sobre os fenômenos psicossomáticos a partir de Freud e Winnicott

O trabalho desenvolvido no ambiente hospitalar nos coloca diante de diversas questões entre as quais recortamos uma: como podemos entender, a partir do referencial teórico da psicanálise, os fenômenos psicossomáticos tão comuns de serem encontrados nos hospitais? Para tal, decidimos percorrer as considerações de Freud e Winnicott em relação à constituição da subjetividade e dos processos que mediam as relações psique/soma a partir das primeiras experiências de satisfação que deixam, como resíduo, o afeto de angústia, motivo pelo qual tal conceito foi privilegiado. Iniciamos através das considerações freudianas sobre o tema concentrando-nos na distinção efetuada pelo autor entre neuroses atuais e psico-neuroses.

A seguir, ingressamos nas considerações teóricas referentes aos artigos da metapsicologia, nos quais a angústia é definida como um sucedâneo do processo de recalcamento. Posteriormente, as últimas considerações freudianas sobre o conceito de angústia são apresentadas e relacionadas ao estado de desamparo físico e psíquico do bebê em suas primeiras experiências de satisfação. Nesse sentido, destacamos o conceito de angústia automática que produz, como uma de suas resposta, a emergência da subjetividade. Tais argumentações são tomadas como ponte de transição para Winnicott e sua paradoxal percepção sobre o desenvolvimento emocional enfatizando o conceito cunhado pelo autor por “angústia impensável”. Conceito sobre o qual podemos conceber os fenômenos psicossomáticos como uma resposta possível à angústia impensável naquilo em que há algo, nesse movimento, de não simbolizável e que se expressa, assim, através do corpo.Ponto sobre o qual uma nova questão é apresentada: como relacionar esse movimento com o silencioso trabalho da Pulsão de Morte sobre o corpo?

É importante ter sempre em mente o seguinte ponto sobre os problemas psicossomáticos : o elemento físico Da doença empurra a doença psicológica de volta para o corpo. Isto é particularmente importante por constituir uma defesa contra a fuga para o puramente intelectual, que levaria o indivíduo a perder uma parte do vínculo entre a psique e o soma. (WINNICOTT, 1988 / 1990,p.185).

Introdução

Partindo de uma experiência com a clínica psicanalítica transcorrida no âmbito ambulatorial de um hospital geral, na cidade do Rio de Janeiro, pudemos perceber que o trabalho diário aí desenvolvido suscita inúmeros questionamentos e desafios. Tais dificuldades perpassam a falta de privacidade, a precariedade das instalações, as intromissões médicas e institucionais e, principalmente, a impossibilidade de correspondência entre as perspectivas médica e psicanalítica sobre a constituição das doenças. Enquanto o saber médico organiza a causalidade das doenças a partir do campo fisiológico, a psicanálise propõe entendê-la como fazendo parte da constituição subjetiva do paciente, sendo, portanto, uma forma através da qual, algo do sujeito, se expressa. (PINHEIRO, 2003, 2006; PINHEIRO & VILHENA, 2005).

É interessante observar, que nos hospitais, geralmente, a seção de psicologia é convocada a intervir justamente nos momentos em que o saber médico falha em oferecer uma explicação para determinada doença, a partir da qual um diagnóstico possa ser efetuado e um tratamento levado a termo. Nos hospitais é bastante comum recebermos pacientes que nos são encaminhados pelas outras clínicas hospitalares apresentando uma gama enorme de doenças que, embora orgânicas, permanecem resistentes à cura proposta pela medicina. Acreditamos que tal resistência à cura se dê, sobretudo, porque tais fenômenos se inscrevem em um ponto limítrofe entre os campos psíquico e somático, sendo, portanto, pertencentes a uma área sobre a qual tanto a linguagem médica quanto a psicanalítica não recobrem como um todo. Permanece, nesses fenômenos, um resto de não compreensão que diz respeito a esses dois registros, sem, poder, contudo, ser reduzido a nenhum deles. É exatamente, sobre esses fenômenos que se expressam através do corpo, mas que, contudo, não permitem uma leitura exclusiva a partir da lógica médica e organicista que propomos uma reflexão. A essas manifestações estamos denominando de fenômenos psicossomáticos. Nossa proposta, no entanto, não será a de recorrermos aos autores que reconhecidamente trabalham com o campo descrito como Psicossomática, tais como a escolas de Boston com Alexander (1989), ou a escola francesa representada por P. Marty e M´Uzam (1963) ou ainda a perspectiva aberta pela psicanálise estruturalista através de Dejour (1988). Tais escolas demonstram a diversidade de perspectivas teóricas possíveis para a compreensão dos fenômenos psicossomáticos assim como a dificuldade de lidarmos com um campo, denominado pelo próprio Freud, de limítrofe. Nossa escolha será a de recorrer às perspectivas freudiana e winnicottiana naquilo que elas nos informam sobre a constituição subjetiva e as formas encontradas por cada um de nós para lidarmos com a impossível tarefa que o viver nos impõe de habitarmos um corpo que se organiza a partir do confronto entre lógicas distintas: orgânica e/ou simbólica, corporal e/ou psíquica.

Nesse caminho privilegiaremos o entendimento do conceito de angústia, pois, tanto na obra freudiana quanto na winnicottiana, a angústia pode ser entendida como ponto fundamental e originário da constituição subjetiva, na medida em que seu surgimento permite a emergência de respostas possíveis às exigências corporais efetuadas em um momento de desenvolvimento no qual não há, ainda, recursos psíquicos que permitam uma possibilidade de elaboração. A essa impossibilidade de elaboração, uma resposta subjetiva poderá advir, deixando, contudo, um resíduo não transformável psiquicamente, que, na nossa opinião, se inscreve, no corpo, como fenômeno, na medida em que podemos considerar que “os distúrbios do psicossoma são alterações do corpo ou do funcionamento corporal associados a estados da psique” (WINNICOTT, 1888/1990, p. 26).
Angústia e desamparo: a proposta Freudiana

A preocupação freudiana em determinar e conceituar de forma precisa a origem da angústia data de muito cedo em sua obra. Em seus primeiros escritos, o conceito de angústia aparece correlacionado às questões da sexualidade e suas múltiplas formas de resolução. Inicialmente, o estudo sobre a origem da angústia se relaciona com a tentativa do autor em proceder uma diferenciação entre as psico-neuroses e as neuroses atuais. Em sua concepção, o que diferenciaria esses dois grupos de neuroses seria a participação ou não de um componente psíquico em sua etiologia. Assim, na constituição das psico-neuroses haveria um elemento psíquico ativo, ao passo que a origem das neuroses atuais seria absolutamente somática. Dessa forma, a neurose de angústia (uma entre as neuroses atuais ao lado da neurastenia e da hipocondria) se funda a partir de uma impossibilidade em se encontrar uma forma adequada de escoamento para a energia sexual a qual, eclipsada e sem passar por uma inscrição psíquica, se faz presente como sintoma: a angústia. Já, na histeria de angústia (uma entre as psico-neurose) é a própria excitação psíquica que ruma inadequadamente, não à conversão corporal, mas é liberada em forma de angústia. Havendo, portanto, uma mediação psíquica entre a energia sexual e a manifestação do sintoma. (FREUD, 1894/1980a)A relação entre sexualidade e angústia se mostra igualmente presente nos textos metapsicológicos. Segundo o autor, a função primordial do aparelho psíquico é a de encontrar formas adequadas de receber, organizar e distribuir a energia psíquica que o movimenta.

Nesse sentido, a angústia aparece como o resultado final de um dos mecanismos de defesa mais poderosos: o recalcamento. Assim, para lidar com a exigência de satisfação imprimida pelas moções pulsionais, a qual uma vez atingida traria desprazer à consciência (quer por questões morais, éticas ou religiosas), o ego ativa o mecanismo de recalcamento através do qual o grupo de representações libidinalmente investido é separado de seu afeto, se tornando inconsciente. Por seu turno, o afeto, então liberado pode receber, segundo Freud (1915/1980b), três destinos diversos: ou é suprimido e dele não se tem mais notícias; ou é transformado em outro afeto qualquer; ou é sentido como angústia. Assim, em relação aos textos da primeira tópica, a angústia aparece como um sucedâneo do mecanismo de recalcamento, relacionando-se intimamente ao caráter econômico do aparelho psíquico em sua eterna tarefa de dar conta das exigências de satisfação propostas pelas moções pulsionais. Tal concepção, contudo, é transformada a partir dos textos da segunda tópica, os quais irão inaugurar o que se conhece como a segunda teoria freudiana sobre o conceito de angústia. Nesse novo contexto, a angústia deixa de ser entendida como resultado do processo de recalcamento para se inscrever como um de seus elementos disparadores.Nessa sua nova tentativa de conceituação da angústia, Freud (1926/1980c) toma como paradigmático para sua manifestação o total estado de desamparo do bebê ao nascer. É esse total desamparo que coloca a necessidade de existência de um Outro que dele trate e satisfaça suas necessidades biológicas as quais vão, gradualmente, o inserindo no diferencial prazer/desprazer decorrente das primeiras experiências de satisfação. Nesse momento, o bebê totalmente sem recursos psíquicos, posto que seu aparelho psíquico ainda está em vias de constituição, só encontra, no espaço somático, formas de expressão das experiências de satisfação e de frustração que vão se sucedendo ininterruptamente.

Tais experiências deixam traços mnêmicos de uma angústia paradigmática que se reproduz ao longo do desenvolvimento da criança em determinados momentos de situações traumáticas, como, por exemplo, desmame, castração ou separação, deixando como resíduo a sensação de angústia a qual Freud designou de angústia automática. Essas mesmas experiências vão proporcionando estofo para que o ego em seu processo de amadurecimento possa lidar com essas situações através de elaborações psíquicas mais adequadas as quais permitem que a angústia automática seja transformada em angústia como sinal. Sinal de um perigo diante do qual o ego, mais maduro, dispara o mecanismo de recalcamento evitando um desprazer que estaria por advir. Aqui, longe de se constituir como o resultado de um mecanismo psíquico de defesa, a angústia passa a ser um elemento a partir do qual o recalque é efetuado. (FREUD, 1926/1980c)A angústia, nesse nível da elaboração teórica freudiana, se relaciona, não apenas com o desamparo biológico, mas também psíquico, já que se refere a um momento no qual o bebê, sem recursos elaborativos possíveis, se confronta com a presença do desejo do Outro. Desejo que de um exterior íntimo se insinua, deixando como resíduo a experiência primordial de angústia, angústia traumática, na medida em que exige uma resposta impossível de ser formulada. É nesse contexto que inserimos nosso questionamento: não poderíamos entender que nesse processo se concentra a construção de uma doença orgânica, na medida em que através de sua repetição paradigmática, o sujeito pode ser re-enviado a um estado de desamparo avassalador diante do qual produz, como resposta, um mecanismo corporal?

Angústia impensável, resposta subjetiva e corpo: o contorno Winnicottiano

Na tentativa de melhor compreendermos esse mecanismo, as contribuições winnicottianas se apresentam como bastante pertinentes, na medida em que para o autor, há uma angústia impensável, fundante da subjetividade. Segundo Winnicott (1979/1983), a constituição subjetiva se correlaciona implicitamente com o processo de personalização, que para o autor, significa, a integração entre a psique e o soma. Inicialmente, tal integração não existe, o que existe são necessidades vitais que devem ser satisfeitas pela mãe de uma forma acolhedora e protetora a qual fornece um escudo, ao bebê, das invasões do ambiente, já que o bebê não possui, ainda, recursos psíquicos para fazê-lo. É nesse sentido que, para o autor, nesse momento de constituição subjetiva, as falhas maternas no cuidado às necessidades vitais de seu bebê, podem ser sentidas, por este, como invasões ambientais sobre seu corpo contra as quais não há defesa psíquica possível, já que o que ocorre ainda não pode ser simbolizado pelo bebê e somente sentido e catalogado nesse nível. Esses movimentos são denominados pelo autor de angústias impensáveis diante das quais só há um tipo de reação possível: as manifestações corporais. Winnicott(1994 a) conceitua esse não entendimento da intrusão ocorrida antes do tempo no qual o bebê possa entendê-lo como colapso uma “palavra utilizada para descrever o impensável estado de coisas subjacentes à organização defensiva” (p. 71). Igualmente ele nos enfatiza que “o medo clinico do colapso é o medo de um colapso que já foi experienciado. Ele é um medo da agonia original que provocou a organização de defesa que o paciente apresenta como síndrome de doença” (p. 72).

Ao se referir a esse movimento de falhas maiores do que aquelas permitidas à vivência e à experiência da díade mãe-bebê, Winnicott sugere que inicialmente, a mãe ao oferecer o leite, fornece ao bebê, a oportunidade de fazê-lo sentir, ilusoriamente, que o seio é parte dele mesmo e que está, portanto, sobre o seu controle onipotente. No momento em que o ambiente falha, entendendo aqui falhas benignas e não falhas que geram agonias impensáveis, cria-se a possibilidade, a brecha para que o bebê vá, progressivamente, manipulando os elementos que lhe são apresentados e caminhar transformando-os em objetos subjetivamente concebidos, e paulatinamente, em objetos objetivamente percebidos.Segundo o autor para que esse processo se efetue, interpõem-se, entre a mãe e o bebê, uma área intermediária, área de ilusão, de fantasia e criação manipulatória, no interior da qual, os objetos internos e externos vão sendo consecutivamente, constituídos. Sendo nessa área, nesse espaço potencial, onde sujeito e externalidade se conectam e se separam, que o eu pode transitar entre os mundos da interioridade e da externalidade, sem correr o risco de perder-se de si mesmo. Para tal é necessário que a mãe/ambiente forneça condições de ilusão/desilusão respeitando o tempo da criança em suportar suas idas e vindas. No espaço potencial, encontra-se a possibilidade de lidar com a ausência e a perda tolerando o vazio através da capacidade imaginativa e ilusória, que constituiu a fantasia-pura-realidade. Espaço do paradoxo, aqui se encontra unido/separado o eu/outro, o dentro/fora, o interno/externo. (Winnicott, 1979/1983) Como nos explica Winnicott (1994 a) este tipo de vazio é um pré-requisito para o desejo de receber algo dentro de si mesmo, ou seja, O vazio primário significa simplesmente: antes de começar a se encher (…)

A base de toda aprendizagem (assim como do comer) é o vazio. Mas se o vazio não é experienciado como tal , desde o começo, ele aparece então como um estado que é temido, mas contudo, compulsivamente buscado (pp. 75-76) Movimento criativo, sustentado pela presença/ausência da mãe, que permite ao bebê a sensação de continuar-a-ser, fornecendo o estofo necessário à contínua tarefa de construção da realidade compartilha e da subjetividade. Nesse processo, ao bebê deve ser oferecida a possibilidade de destruição do objeto real para torná-lo subjetivo e dele poder fazer uso na fantasia. À mãe caberia a tarefa de não provocar retaliações e de suportar ser destruída e recriada na fantasia de seu bebê, permanecendo viva toda vez que ele a busca. Movimento incessante de busca/destruição/encontro/perda…. seguindo o eterno trabalho do brincar elaborativo.

(WINNICOTT, 1971/1975)Nesse espaço, o gesto criativo, tem lugar. Aqui se aprende a transformar e a usar os objetos do mundo, a partir do encontro de satisfações e frustrações. Por meio do brincar, alcança-se a possibilidade de manipular e dar significado aos fenômenos do mundo externo. É o brincar que também permite dominar a angústia, escoar a agressividade e o ódio através do uso dos objetos externos que vão sendo transfigurados pela fantasia. Perfazendo o elo entre aquilo que é subjetivamente concebido (realidade interna) e o que é objetivamente percebido (realidade externa).Quando o ambiente falha em permitir esse jogo criativo, o ego se torna incapaz de suportar a frustração, em um primeiro momento fica sem resposta; em um segundo momento busca no meio antes facilitador de seu desenvolvimento alguma resposta; caso esta resposta não advenha ele inicia um processo incessante de busca, podendo efetuar uma cisão entre o que sente e cala e o gesto que faz e constrange ou se constrange, no sentido de em seu corpo estar marcado esse embate do desamparo vivido. (Maia, 2007) Assim sendo o bebê pode se tornar escravo do ódio e da destruição. Nesses momentos, Thânatos marca sua presença, cindindo o eu que se vê, assim, objeto de destruição, posto ter sido ele objeto do abandono não previsto e jamais vivenciado.Segundo Winnicott (1971/1975) há uma cisão fundamental em cada ser humano que só poderá ser suportada se o ambiente prover condições favoráveis à permanência da confiança na ilusão de que podemos continuamente criar o mundo, ainda que, de tempos em tempos, a desilusão, necessariamente, seja apresentada. Se, o ambiente falhar em prover meios de manter a ilusão básica, a cisão se exacerba e o sujeito perde a possibilidade de experienciar o mundo externo, de se comunicar com os outros, de viver em comunidade. A angústia, emergente nesse contexto, será a de tentar contornar a cisão e impedir a invasão do mundo sobre si, remetendo o sujeito a um momento de constituição subjetiva no qual, por falta de recursos psíquicos, se defrontara com a pura angústia impensável e a ela respondendo, ora através de expressões corporais, ora subjetivamente.

Interessante aqui colocarmos o que diz Winnicott (1994b) sobre a questão da doença psicossomática e os padrões que podem gerar o aparecimento da mesma: No padrão bom de desenvolvimento uma criança brinca só na presença de alguém e esse alguém , mesmo fazendo outra coisa, atenta a ela está e parará o que faz para se voltar para a criança na hora em que ela a solicitar. No padrão mau que se encontra na raiz da enfermidade psicossomática, a criança chorou e a mãe não apareceu. (…) O grito que ela esta buscando é o último grito que se dá antes de a esperança ser abandonada. Desde então o gritar não tem mais uso, por falhar em seu propósito. A relevância disso (…) que tem a ver com a interação psicossomática , é que o não acontecimento do não gritar é , em si próprio, uma negação ou expulsão de uma das coisas muito importantes que ligam a psique e o soma, quais sejam, chorar, gritar, berrar, protestar iradamente. (…) “ a esse não grito que se acha no caminho, isto é, o temor de não ser ouvida ou a desesperança a respeito de o gritar produzir um efeito”(p.92-93) O colapso já vivido foi o grito não acolhido, não ouvido, ignorado, ecoado no vazio sem o preencher o outro, ficando o bebê no abismo no qual aquele que ele confiava e despendia em seu desamparo saiu e o deixou ali, sozinho… e ele não sabe como lidar com isso, ele não consegue sequer registrar o que vive… congela esse momento, congela-se… até que algo apareça a denunciar a esperança de ser re-ouvido em seu choro desamparado… grita o corpo sem voz mas jamais calado, buscando sempre alguma coisa para dar sentido ao não sentido do vivido…


Considerações e novas questões: e as pulsões?

Bem, até aqui, então, nossas investigações nos trouxeram até o ponto em que pudemos vislumbrar a intensidade dos movimentos privemos de constituição subjetiva os quais nos trazem possibilidades de entrelaçarmos a angústia, o desejo e o adoecimento.Considerações que nos foram permitidas posto que nesse movimento, o desamparado e prematuro aparelho psíquico em seu processo de constituir-se, se defronta, com a satisfação e a frustração de suas necessidades vitais sem ter recursos para elaborá-las. Movimento que, produzindo como efeito o afeto de angústia, impele e demanda por soluções: algumas se expressarão através da construção do campo subjetivo do sujeito desejante; e outras através da pura expressividade corporal. Movimento de construção e desconstrução, ligação e desligamento que nos impele a pensar, então, no que isso tem a ver com o domínio limítrofe das pulsões e a possibilidade de pensarmos as relações do adoecer com o silencioso trabalho da pulsão de Morte sobre o corpo, já que ela é aquela que silente marca que algo restou, algo não pode ser simbolizado, e volta, volta , volta até que , quem sabe, seja em algum momento colocada na cadeia de significantes desse ser que busca, esperançosamente, uma resposta ao grito desumano que ficou em sua garganta ecoando e não achando um interlocutor.


Referências

ALEXANDER, F. (1989). Medicina Psicossomática. Porto Alegre: Artes Médicas.DEJOUR, C. (1988). O corpo entre a biologia e a psicanálise. Porto Alegre: Artes Médicas.

FREUD, S. (1980a). As neuro-psicoses de defesa. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 3). Rio de Janeiro:Imago. (Originalmente publicado em 1894).

FREUD, S. (1980b). Pulsões e seus Destinos. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol. 12). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1915).

FREUD, S. (1980c). Inibições, Sintomas e Angústia. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, Vol.20). Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1926).

MARTY, P. & M’UZAM, M. (1963). El pensamiento operatório. Revista de Psicanalisis, Buenos Aires: Associacion psicanalítica, n4.

PINHEIRO, N. (2003). Uma casa com Paredes de Cristal: a clínica Psicanalítica no Ambulatório hospitalar. Tese de Doutorado. Instituto de Psicologia. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

PINHEIRO, N. (2006). Transparente, transitória e complexa: sobre a clínica psicanalítica no ambulatório hospitalar. In: Anais do I Congresso Sul-brasileiro de Saúde Mental & IV Encontro Catarinense de Saúde Mental. Universidade Federal de Santa Catarina, 22 a 24 de julho.

PINHEIRO, N. & VILHENA, J. (2005). Nem público nem privado, muito pelo contrário: sobre a clínica psicanalítica no ambulatório hospitalar. In: Anais do Simpósio Nacional de Psicanálise e Psicoterapia no campo da saúde mental.Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

MAIA, M.V.M (2007) “ Rios sem discurso”: reflexões sobre a agressividade da infância na contemporaneidade. São Paulo: Vetor.

WINNICOTT,D.W.(1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1971).

WINNICOTT,D.W.(1983).O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas. (Originalmente publicado em 1979).

WINNICOTT,D.W. (1990). Natureza Humana. Rio de Janeiro: Imago.(Originalmente publicado em 1988).WINNICOTT,D.W. (1994a). O medo do colapso (breakdown) In: WINNICOTT, Clare (org) Explorações psicanalíticas D.W.Winnicott. Porto Alegre: Artes Médicas (Originalmente publicado em 1963)WINNICOTT,D.W. (1994b). Transtorno [disorder] psicossomático In: WINNICOTT, Clare (org) Explorações psicanalíticas D.W.Winnicott. Porto Alegre: Artes Médicas (Originalmente publicado em 1964)

Autoras

NADJA NARA BARBOSA PINHEIRO. Psicóloga, Psicanalista, Mestre em Psicologia (UFRJ), Doutora em Psicologia (Puc-Rio), Professora Adjunto do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, Pesquisadora do Núcleo de Estudos sobre o Desenvolvimento Humano (NEDHU-UFPR) e do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS/PUC-RJ).

MARIA VITÓRIA MAMEDE MAIA. Doutora em Psicologia Clínica(PUC-Rio), Mestre em Literatura Brasileira (PUC-Rio), Psicóloga clínica, Psicopedagoga clínica CEPERJ, Professora da Pós-Graduação do ensino a distância da PUC-Rio – CCEAD, Professora do curso de especialização em Psicopedagogia – CEPRJ, Pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisa e Intervenção Social (LIPIS/PUC-RJ).

Acesso à Plataforma

Assine a nossa newsletter