A venda de tranquilizantes da classe dos benzoadiazepínicos (como Rivotril, Valium e Lexotan) aumenta a cada ano no Brasil, na contramão do que acontece em países europeus, como Inglaterra e Alemanha, onde o comércio caiu cerca de 30% na última década, segundo estudos.
Entre 2009 a 2013, o número de caixinhas vendidas desses psicotrópicos saltou de 12 milhões para 17 milhões, um aumento de 42%, segundo levantamento da consultoria IMS Health.
Esses remédios causam dependência e efeitos colaterais sérios, como falhas de memória e sonolência. Na Inglaterra, clínicos gerais estão sendo treinados para “desmamar” pacientes dependentes, diminuindo gradualmente as doses até os livrar do vício.
Os psiquiatras dizem que no Brasil grande parte do uso é feito sem supervisão e em quantidades e prazos muito além dos recomendados.
“O uso deveria ser temporário, por dois ou três meses, mas há pessoas tomando por anos. É uma situação muito mais grave do que se pensa”, diz Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Ele afirma que a associação fará neste ano campanhas públicas nas mídias sociais alertando a população sobre o perigo do uso prolongado dos remédios.
Segundo Silva, a falta de um sistema de controle adequado sobre as vendas de psicotrópicos e a prescrição indiscriminada por médicos de outras áreas são alguns dos fatores que explicariam o aumento do consumo.
“Os psiquiatras prescrevem muito menos do que os outros profissionais. Há também muita automedicação. Qualquer pessoa pode fazer um carimbo e um receituário falsos. Não tem controle.”
Ronaldo Laranjeira, psiquiatra e professor da Unifesp, aponta que nos países desenvolvidos existe uma preocupação dos médicos de prescrever cada vez menos esses tranquilizantes porque não há evidência de que sejam benéficos a longo prazo.
“A indicação é sempre a mínima possível, por um curto período de tempo. Exatamente o contrário do que acontece no Brasil.”
Muito do uso indevido no país ocorre entre pessoas que têm dificuldades para dormir, segundo Laranjeira.
De acordo a diretora artística V.M., 35, o consumo de Rivotril em sua área de atuação, por exemplo, é comum.
“É uma maneira de lidar com o estresse. Às vezes, eu fico tão agitada que não consigo dormir. Aí, comecei a tomar remédio. É uma maneira de desligar rapidamente. Já cheguei a tomar no meio do dia, quando tinha uma crise. Hoje o consumo é mais controlado”, afirma.
Fonte: Jornal Cidade