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O Fim dos Computadores e outras Profecias de um Cyberguru

Sobre a Futurologia Tecnológica

Há quem possa achar que futurologia é exclusividade de astrólogos e de outros praticantes das práticas não aprovadas pelo Conselho Federal de Psicologia. Mas quem diria: tecnólogos e cyberpensadores em geral são famosos pela prática dessa arte arcana!

Quando se tem um conhecimento enciclopédico do que as tecnologias podem fazer bem como uma excelente percepção de tendências atuais em curso a futurologia tecnológica deixa de ser um tiro no escuro e ganha ares respeitáveis. Claro que há mega-abobrinhas como aquela famosa declaração de algum não-imaginativo diretor da IBM: "No futuro só haverá quatro computadores no mundo". Mas ouvir as prognosticações dos cybergurus hoje pode ser muito salutar para o amanhã, especialmente para quem está atento aos efeitos da tecnologia no ser humano.


O Cyberguru Brasileiro

Sim, temos um cyberguru. Seu nome é Jean-Paul Jacob (veja os links no final do artigo). Dentre outras previsões acertadas (e que outra forma para medir a grandeza de um futurólogo?) está o advento do walkman, o fim do VHS e a transformação do celular em uma supermáquina. Ou seja, ele é mesmo bom! Apesar disso ainda há quem torça o nariz para suas aparentemente extravagantes declarações. Vejamos o porquê…


Três Profecias de Jacob Comentadas

1. "Os computadores vão todos desaparecer"

Pode soar estranho um tecnólogo dizer que os computadores vão sumir, uma vez que todos sabemos que a inclusão digital apenas aumenta a cada dia. O que o cyberguru quis dizer não é que vamos nos encher de tecnologias e voltar a morar em cavernas, mas sim que os computadores ficarão invisíveis porque serão absorvidos por outros objetos. Ao invés das pessoas terem um aparelho específico chamado "Computador Pessoal" ocupando um espaço fixo em um móvel da casa elas terão diversos aparelhinhos por toda parte (nos seus bolsos, nas paredes e móveis da casa, no carro, no corpo, etc.) todos capazes de realizar funções digitais. Refiro-me a geladeiras, canetas, pagelas, óculos, toalhas de mesa (sim, toalhas de mesa), membros artificiais e qualquer outro objeto cotidiano serem capazes, por exemplo, de acessar a internet. Já experimentamos um pouco disso hoje com a telefonia móvel e os notebooks, como este que uso agora para digitar esse texto enquanto tomo café no Shopping antes do cinema começar. Trata-se da tal da Computação Ubíqüa, isto é, computadores por toda parte (por isso mesmo invisíveis!).

1. "A inteligência artificial nunca ganhará consciência, porque não será capaz de reproduzir nossos sentimentos subjetivos"

"Nunca" é muito tempo, não? Jacob não tem base científica para afirmar isso. Antes, acredito que sua declaração denota uma postura filosófica de sua parte. Há diferentes correntes de pensamento sobre a relação homem-computador (ver links no final do artigo). Dentre essas correntes, há a dos transhumanistas, que defendem que o ser humano será incrementado com próteses digitais em seu corpo e "mente" ao ponto de se tornar algo além-do-Homem. Ao afirmar que a inteligência artificial nunca alcançará o status de ser consciente e portador de um self, Jacob está dando um recado aos transhumanistas e todos que pensam em tornar o Homem obsoleto através dos computadores. Contudo não podemos afirmar com convicção absoluta que uma inteligência artificial jamais terá consciência como nós. Até porque há os filósofos que defendem que nós não temos consciência de fato…

1. "Os livros e outras mídias serão substituídos por correlatos digitais"

Aqui temo discordar inteiramente do nosso admirável cyberguru. Afinal a História tem demonstrado que uma mídia jamais substitui outra. A medida que os meios de comunicação vão sendo inventados a relação entre eles é de sobreposição, miscigenação, agregação, e não de exclusão. Foi assim com a TV que não aniquilou o rádio e com o cinema que não fez sumir o teatro. A internet, por sua vez, reinventou a TV. Mas essa continuará existindo, apenas de outra forma (vem aí a TV Digital!). Seguindo essa linha de raciocínio não há como os livros serem esquecidos. E não estou dizendo isso apenas porque sou um bibliófilo. O livro é uma mídia que tem muito mais história que o rádio, que para alguns era algo frágil que sucumbiria com a TV. Além de que há experiências do ato de ler livros que não podem ser substituídas com êxito por correlatos digitais, tais como, ato de pegar um livro e carregá-lo por aí, manusear suas páginas, lançá-lo sobre a cama, sentir o cheiro de uma edição nova ou de um livro velho, manchar uma página com a xícara de café e com isso ter um exemplar absolutamente único no planeta de "Grande Sertão: Veredas" etc.


Conclusões

A futurologia tecnológica é tão somente um exercício intelectual instigante que toma por base dados do presente para nos ajudar a nos preparar para o futuro. Trata-se de deduções lógicas baseadas substancialmente em tendências factuais. Contudo não podemos negar que esses dados do presente que ela usa como matéria-prima não estejam isentos de opiniões pessoais e posições filosóficas dos tech-futurólogos. O fato é que o futuro, apesar de projetável, é imprevisível. Ninguém sabe ao certo como viveremos em 30 anos. Mas uma coisa é certa: isso vai depender de como vivemos hoje.


Links sobre…

…Jean-Paul Jacob

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean_Paul_Jacob

http://www.faap.br/destaques/galeria.htm

…Transhumanismo

http://www.youtube.com/watch?v=POA3WF3kF-U

http://en.wikipedia.org/wiki/Transhumanism

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