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Psicossomática – Evolução e conceito atual

Muitas pessoas ainda não sabem o que é “Psicossomática” e entendem que, a somatização é uma relação direta entre uma postura emocional e um problema físico. Isso acontece, devido a uma leitura errônea de alguns livros de auto-ajuda que têm a intenção de levar os leitores a uma tomada de consciência e uma responsabilização por suas vidas, suas experiências e realidades. É inegável que, a auto-estima, a auto-aceitação, uma postura otimista em relação à vida, a alegria e o amor, entre outros fatores, têm uma influência muito grande sobre nossa saúde mental e física, mas não é só isso. Seria temerário generalizar e afirmar, por exemplo, que a tensão e o medo de não dar certo o que fazemos irá provocar Câimbra ou que, os portadores de Fibromialgia sofrem desse mal pelo arrependimento pela omissão ou pela dedicação excessiva aos outros.  Se assim fosse, seria muito fácil a evitação e cura de doenças físicas. O processo é muito mais complexo do que se imagina.
A palavra psicossomática é formada pelas palavras gregas: psique (alma) + soma (corpo), tendo sido usada por Anaxágoras, filósofo grego pré-socrático que defendia a concepção dualista do ser humano (500-428 AC). Na Grécia antiga escolas médicas, disputavam entre si, a primazia de atender melhor o paciente. Como deveriam atuar? Tratar o doente ou a doença? Essa preocupação demonstrava claramente que já estabeleciam uma ligação íntima entre corpo e mente. A expressão psicossomática foi cunhada pelo médico psiquiatra alemão  em 1818 e somatopsíquica em 1828 e ele defendia a teoria unicista de que: “corpo e psique não seriam senão, respectivamente, a parte exterior e interior de uma e a mesma coisa”.Depois dele, ao longo dos anos, surgem novas pesquisas e em ordem cronológica, citamos alguns nomes: • Groddeck (1917) -Estabelece bases psicanalíticas para a investigação de doenças orgânicas.• Franz Alexander (1925) – funda Escola de Psicossomática de Chicago

•  Helen Flanders Dunbar (Columbia University, 1930) – “Emotions and Bodily Changes”.• (1939) Lançada a Revista:  Psychosomatic Medicine Experimental and Clinical Studies.

• Cannon (1929) – desenvolve o conceito de Homeostase (equilíbrio orgânico)• Selye (1936) – respostas ao " stress“ • Cannon (1953) publica: " Bodily changes in pain, hunger, fear and rage"• McDougall – "matriz somatopsíquica" .  Para Joyce McDougall, "a  somatização como resposta à dor mental é uma das respostas psíquicas mais comuns de que o ser humano é capaz.” No entanto, durante os estudos sobre a somatização das emoções, ficou claro que existem alguns diferencias nesse processo. No mal congênito, outros fatores não terão influência e se tiverem, é só na maneira do indivíduo de aceitar ou lidar com a doença, nada tendo a ver com sua gênese. Nascer com uma doença é diferente de nascer com uma predisposição hereditária para uma dada doença e nesse caso a doença só ocorrerá se outros fatores estiverem presentes, no todo ou em parte.Existe maior possibilidade de adoecer quando existem más condições ambientais, níveis precários de higiene, alimentação e moradia e, situações de miséria comprometem o psiquismo do indivíduo e suas condições de amar a si mesmo e à vida.Há, pois, em todas as doenças, uma conjunção de causas externas e internas.Cada ser psicossomático vive uma história de interações, encontros e acontecimentos em que as doenças (orgânicas ou mentais) são resultado dos desequilíbrios existenciais e de soluções inadequadas de vida. “Não existem doenças, existem doentes”. A psicossomática e a psicanálise estão unidas desde Sigmund Freud que fundou muitos dos modelos psicossomáticos. (Estudios sobre la Histeria (1893-1895), p. 43) Muitos psicanalistas depois dele se ocuparam da unidade psique-soma como alguns aqui citados:

•Jung (1875-1961) – União mente-corpo – principal acontecimento sincronístico.

• Adler (1870 – 1937) – primeiro a perceber que o “pânico” era uma intensificação da depressão ou medo.

•Friederich Perls (1893-1970) – Gestalt Terapia – visão do homem como um todo.

•Alexander Lowen (1910- ) – Análise Bioenergética -psicoterapia somática – não existe separação fundamental entre mente e corpo.

• Winnicott (1982) – "A enfermidade psicossomática é o negativo de um positivo", sendo este positivo "a unidade da psique e do soma". • THOMÄ (1992) – o homem é uma "totalidade psicossomática” Enfermidade física provocada por processos inconscientes e sua significação.“O sintoma psicossomático pode ser visto como um processo em que uma questão subjetiva segue um caminho adverso: ao invés de conseguir aceder à mente, como processo mental, ou seja, representação, esta situação se traduz corporalmente, ou seja, se apresenta como expressão do corpo. Proponho que se tome o sintoma psicossomático como um capítulo da história do sujeito que não pôde ser escrito psiquicamente, e que tomou a forma de um hieróglifo inscrito no corpo. O processo somático ocupa o lugar do processo psíquico: no sintoma psicossomático uma questão subjetiva se apresenta, ao invés de se representar.” ÁVILA, L.A – Doenças do Corpo e Doenças da Alma, 3ª. Ed. São Paulo: Ed. Escuta, 2002.

Para ter certeza de que uma doença tem origem psicológica, deve-se, primeiro, descartar todas as causas orgânicas. Por isso, recomenda-se uma série de exames antes de fechar o diagnóstico. É importante esclarecer que, apesar de a enfermidade ser emocional, o paciente precisará de tratamento médico. ‘‘Os sintomas que ela apresenta não são imaginários e, portanto, exigem cuidados especiais’’Na atualidade, a Psicossomática, refere-se ao estudo da pessoa como ser histórico: bio-psico-social.Sobre o movimento psicossomático, explica Maria Rosa Spinelli – ex -Presidente da ABMP – Associação Brasileira de Medicina Psicossomática – SP: … “ Hoje o pensamento principal deste movimento defende a integração entre profissionais, onde cada um tem a sua academia restrita a uma única forma de estudar o individuo, mas se reunindo com outros profissionais para discutir o caso de um paciente, compartilhando outras formas de atuação, para auxiliar o tratamento, na mais ética de todas as formas de estudar. Todos aprendem, todos os profissionais ouvem, se respeitam, pouco importando sua linha teórica de atuação. Não existe líder nestas reuniões e sim coordenadores de momento, quando estão explicando o fato ou o fenômeno em questão.

A Psicossomática não se trata de uma especialidade, (seria irônico se o fosse), pois procura-se a contribuição de cada profissional, para somar conhecimentos e saberes, formando assim um grande rio de compreensão, com afluentes que nele deságuam. As universidades nos preparam para sermos onipotentes, mas buscamos nortear nosso trabalho na busca de uma linguagem única para entender a do paciente, que não se expressa de maneira intelectualizada, mas através de sua dor e de seu sofrimento seja ele físico ou psíquico. Em São Paulo, o movimento Psicossomático é representado pela Associação Brasileira de Medicina Psicossomática- regional São Paulo, a qual mantém cursos de formação onde se aprende esta forma de atuação na teoria e na prática, demonstrando assim a importância da paciência e da perseverança, mostrando outra linguagem da saúde, onde se mostra o que realmente podemos fazer pelo paciente e aquilo que temos que fazer por nós mesmos como profissionais. Especializações levam à compreensão unilateral de cada fato ou fenômeno; formação ensina a prática, a vida e o contato humano.” No setting analítico, tanto individual como em grupo, é possível haver uma re-significação dos sintomas.       

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