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“Aquele poço não tem fundo, é um mundo e dentro é um mundo”: potencialidades do trabalho com arte-educação em crianças com conduta anti-social e dificuldades de aprendizagem.

O presente trabalho está articulado com a pesquisa em andamento “Jogos e espaço lúdico em crianças com conduta anti-social e dificuldade de aprendizagem” desenvolvida pela Professora Doutora Maria Vitória Maia (2009).

Esta pesquisa é um estudo sobre como podem atividades lúdicas, neste caso 4 jogos (Pet-square, Quarto, Sudoku enigma e Equilíbrio), serem propiciadoras de um resgate do prazer de aprender em crianças que apresentam, concomitantemente, comportamentos anti-sociais e dificuldades graves na aprendizagem. Para tanto, será feito um trabalho de grupo, e uma leitura psicopedagógica, com as crianças que apresentam graves comprometimentos na aprendizagem e concomitante comportamento anti-social.

Essas crianças trazem consigo travamentos no processo de ensino-aprendizagem devido ao fato de terem uma diminuição do espaço lúdico, espaço vital para que o brincar e o aprender possam surgir. Acreditamos que a Arte, em sua essência, constitua uma potencial forma de intervenção e invenção em Educação. Utilizando-nos da arte podemos estabelecer um espaço de livre criação, onde podemos trazer à cena desse poço que não tem fundo, já que o aprender é um mundo dentro de um mundo, o vivenciar das experiências relacionadas ao fracasso escolar e aos rótulos adquiridos por essas crianças ao longo da vida escolar. Dessa forma, podemos intervir de forma eficaz no processo de resignificação da aprendizagem das mesmas, objetivo principal do trabalho proposto por nossa pesquisa.

Queremos com esse trabalho marcar e defender a Arte e o lúdico como ferramentas importantes para a Educação, principalmente com crianças com dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Nesse espaço cabe o poço sem fundo, cabe a cultura e igualmente a Arte. Nesse espaço podemos inventar, sonhar, transformar para transformarmo-nos. Podemos criar e (re)criar o mundo através de cores, riscos e rabiscos e, com isso, estimular respostas criativas não mais pertencentes ao espaço dessas crianças. Como nos afirma Fischer (2002) “a arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente”. (p.20)

A grande aposta deste trabalho é  na intervenção com a Arte, que como o lúdico, suscita a capacidade humana de perceber e transformar as relações de ser consigo, com o outro e com mundo, tornando possível o que, por vezes, parece-nos impossível: a construção ou re-instauração do espaço potencial visto por Winnicott (1975) como fundamental para a constituição do aprender e, a partir daí, a ampliação e reconfiguração do conhecimento por parte dessas crianças.

 

PALAVRAS-CHAVE: arte, processo de ensino-aprendizagem, espaço potencial

Este trabalho considera e corrobora a Arte e o lúdico como instrumentos importantes para a Educação, principalmente com crianças com dificuldades no processo de ensino-aprendizagem. Nesse espaço cabe o poço sem fundo, cabe a cultura e igualmente a Arte. Nesse espaço podemos inventar, sonhar, transformar para transformarmo-nos. Podemos criar e (re)criar o mundo através de cores, riscos e rabiscos e, com isso, estimular respostas criativas não mais pertencentes ao espaço dessas crianças. Como nos afirma Fischer (2002) “a arte é necessária para que o homem se torne capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da magia que lhe é inerente”. (p.20)

A grande aposta deste trabalho é  na intervenção com a Arte, que como o lúdico, suscita a capacidade humana de perceber e transformar as relações de ser consigo, com o outro e com mundo, tornando possível o que, por vezes, parece-nos impossível: a construção ou re-instauração do espaço potencial visto por Winnicott (1975) como fundamental para a constituição do aprender e, a partir daí, a ampliação e reconfiguração do conhecimento por parte dessas crianças.

Essas crianças trazem consigo travamentos no processo de ensino-aprendizagem devido ao fato de terem uma diminuição do espaço lúdico, espaço vital para que o brincar e o aprender possam surgir. Acreditamos que a Arte, em sua essência, constitua uma potencial forma de intervenção e invenção em Educação. Utilizando-nos da arte podemos estabelecer um espaço de livre criação, onde podemos trazer à cena desse poço que não tem fundo, já que o aprender é um mundo dentro de um mundo, o vivenciar das experiências relacionadas ao fracasso escolar e aos rótulos adquiridos por essas crianças ao longo da vida escolar. Dessa forma, podemos intervir de forma eficaz no processo de resignificação da aprendizagem das mesmas, objetivo principal do trabalho proposto por nossa pesquisa.

 A importância da Arte na Educação

 O que significa “arte”? Por certo, a arte não é apenas colorir desenhos prontos, uma casa, um saci, o índio, um coelho na Páscoa ou qualquer outra figura que seja apresentada pela escola.

A arte é uma representação codificada de um determinado espaço real ou imaginário. Podemos até chamá-la de um modelo de comunicação que se vale de um sistema semiótico complexo. A informação é transmitida por meio de uma linguagem que se utiliza de elementos básicos: musical, visual, corporal e cênico.

A arte na escola, portanto, significa a apreciação desse sistema semiótico, essa linguagem artística. E preparar o aluno para essa leitura ou para expressar-se através dessa língua deve passar por concepções pedagógicas e metodológicas tão sérias quanto a de ensinar a ler e escrever, contar e fazer cálculos matemáticos. Vai-se à escola para aprender a ler, escrever e contar, e – por que não? – também desenvolver a arte.

Ela é um modelo de comunicação utilizada cotidianamente por todos, em viagens, consultas históricas, investigações arqueológicas, explica os contextos sociais de uma determinada época, proporciona prazer, também resgata diferentes culturas, principalmente de forma específica em alguns espetáculos. Como nos afirma Jorge Coli (1991) “A arte é portadora de sinais, de marcas deixadas pelo não-racional, coletivo, social, histórico”. (p.109) A arte era utilizada pelos povos para expressar seus sentimentos e registrar as informações culturais de uma determinada tribo ou comunidade com o objetivo de melhorar a sobrevivência. Esta era sem preocupação de projeção e de sistema de signos ordenados, mas os desenhos, pinturas ou até pequenos riscos eram de comunicação direta, sem legenda, pois era a própria linguagem.

E porque não utilizarmos a arte como uma forma de linguagem para as nossas crianças que tiveram seu espaço potencial diminuído devido a uma falha no ambiente, e ao expressar-se o que não vai deixar de ser uma forma de sobrevivência? Nós, futuros professores, devemos pensar o conhecimento artístico como uma expressão dos sentimentos humanos em que a fala foi transformada em desenho, em pintura, em risco, em um ”rap”, a expressão corporal da sexualidade na forma de dançar dos adolescentes que é um mundo dentro de um mundo formador de identidades.

A arte é uma ciência que se preocupa com a manifestação da expressão, emoção e comunicação humana. Possuidora de um valor sócio-cultural e linguagem de apreciação, prazer e reflexão diante do mundo. A literatura de ficção científica, por sua vez, é compreendida por vários intelectuais como uma antecipação, nas e pelas artes de futuras atuações da ciência. Temos como um dos exemplos nas artes a metralhadora desenhada pelo pintor Leonardo Da Vinci em 1480. Pensa-se que terá sido uma primeira antecipação da sua imaginação para máquinas de guerra. O primeiro maquinário próximo a metralhadora desenhada pelo cientista surgiu no século XIX antes da primeira guerra. A arte não somente conta como antecipa a história.

Os alunos  ao utilizar a Arte para falar de si coloca em jogo igualmente sua expressão corporal, portadora de sinais que deve ser levado em conta quando pensamos em crianças com problemas de aprendizagem e com questões emocionais que as fazem paralisar sua aprendizagem e muitas vezes a sua vida.  Ao lidar com o lúdico, essas crianças podem apresentar características da sua realidade, de algo que já lhe ocorreu ou algo que ela antecipa que irá acontecer após ouvir a fala do adulto : tudo isso acontece lá em seu pequeno mundo. A arte, portanto, é de suma importância na educação para o desenvolvimento de habilidades, para a construção de identidades, no conhecimento da história, sociologia, da geografia e outros. Ressaltamos que a Arte é principalmente  um suporte que, de mãos dadas com o lúdico, auxilia no resgate do prazer de aprender em crianças que apresentam, concomitantemente, condutas anti-sociais e dificuldades graves na aprendizagem.

 O Lúdico como opção  de intervenção na escola.

 Este trabalho sustenta a possibilidade de a criança brincar na instituição de ensino no início de sua escolarização, e afirma que uma criança que não brinca tampouco aprende, já que a matriz do aprender advém do brincar ou do espaço do brincar.

A educação no Brasil passa por transformações, talvez não tantas quanto o mundo atual exigisse, mas sem dúvida por mudanças significativas e o brincar torna-se uma opção fundamental nessa trajetória. Nesse contexto pensar o papel do brincar na educação básica torna-se importante,principalmente quando lidamos com crianças que possuem comportamentos anti-sociais. Crianças com esse tipo de comportamento, quais sejam, quebrar coisas, furtar coisas, bater no coleguinha, não respeitar os limites e a autoriadade do professor, não respeitar o corpo do outro amigo, pedem a nós atenção para além do incomodo que causam. Essas crianças possuem uma característica em comum, o estreitamento do espaço que Winnicott (1975) denomina de espaço transicional. Como nos afirma MAIA (2007) “Entre o brincar e o não brincar há um espaço que vai se estreitando, que é a área transicional, que é o espaço que habitamos quando podemos “esquecer” a realidade da vida”. (p.30)

Consideramos que o brincar é essencial para que todos nós, que vivemos nesse mundo, possamos exercitar nossas habilidades. Queremos marcar que o brincar e principalmente o jogo traz em seu bojo a possibilidade humana de perceber e transformar as relações de ser consigo, com o outro e com mundo, tornando possível o que, por vezes, parece-nos impossível: a construção ou re-instauração do espaço potencial, além de se reaprender o que seja brincar dentro de um mundo. Para tanto, buscamos refletir sobre a função do brincar na escola, como fundamental para a constituição do aprender e, a partir daí, a ampliação e reconfiguração do conhecimento por parte dessas crianças.

Uma forma de pensarmos o brincar é por meio do espaço transicional visto por Winnicott (1975), o qual traz em si todas as marcas da vida dos homens. Desse modo, o lúdico vai muito além de um movimento de tapa buracos, tempo livre, tempo vago nas escolas, cujas manifestações refletem as realidades das crianças, por vezes distorcidas por conta da importância dada aos grandes conteúdos. A ludicidade não é brincar apenas pelo brincar, embora seja também muito importante. Brincar é o mundo dentro da vida ou mundo da vida, edificado cotidianamente e que exterioriza tanto as nossas utopias, como a moral que nos são postos, sejam eles da esfera da natureza, sejam da esfera da sociedade ( culturais, políticos, econômicos).

Presente em todo o processo de formação e em toda a vida, mais do que qualquer conteúdo com que se trabalha, o espaço do brincar é essencial.Brincar com o mundo da vida, brincar no espaço e compreender que os devaneios que as crianças podem ver são conseqüências da vida em um mundo dentro de um mundo dos homens e compreendermos que é uma permanente busca da sua sobrevivência e da satisfação da suas necessidades. Em linhas gerais, essa é a função do brincar. Refletir sobre as possibilidades que manifesta no processo de formação do indivíduo, o brincar, passa a ser importante para quem quer pensar, entender e propor atividades lúdicas como um componente curricular significativo.

Tendo em vista que as reordenações da educação presumiram configurações significativas de várias ciências, trasladado em componentes curriculares absorvidos na escola de forma mais integrada, na busca de um objetivo que é o primeiro – aprender a ler e a escrever; considerando também o que positivamente incidi nas escolas, realidade que se conhece por mediação de várias publicações, pesquisas e inclusive da observação direta, particularmente por conta de uma pesquisa em andamento “Como pode um peixe vivo viver fora da água fria? Jogos e espaço lúdico em crianças com conduta anti-social e dificuldade de aprendizagem” (2009), sob a orientação da Professora Doutora Maria Vitória Campos Mamede Maia, UFRJ.

 Esta pesquisa sustenta o que nesse trabalho estamos expondo. Nesta pesquisa se estuda como podem atividades lúdicas ser propiciadoras de um resgate do prazer de aprender em crianças que apresentam, concomitantemente, comportamentos anti-sociais e dificuldades graves na aprendizagem. Para tanto foram criados dois grupos , com crianças de terceiro e quinto anos, de uma escola municipal do Rio de Janeiro, para , utilizando jogos, tentar propiciar a elas um espaço sem regras escolares mas com regras propostas dentro do que ate agora defendemos como sendo um espaço de ludicidade. Acreditamos que com essa pesquisa poderemos estabelecer um protocolo e um método de como atuar em situações de problemas graves na aprendizagem, facilitando o retorno à capacidade de aprender e ensinar dessas crianças que já trazem consigo travamentos nessa estrutura devido ao fato de terem, nos comportamentos anti-sociais explícitos (agressividade, mais especificamente, e hiperatividade, de modo mais geral), uma diminuição do espaço lúdico, ou espaço potencial, espaço este vital para que o brincar e o aprender possam surgir na vida de qualquer ser humano. Buscamos, portanto, mostrar o que é possível fazer com o lúdico nas instituições de ensino,  buscamos mostrar e pesquisar como a arte e o lúdico , e no caso da pesquisa da qual fazemos parte, os jogos, e dessa forma tentar fazer com que o poço sem fundo que muitas vezes pensamos ser essas crianças que não aprendem e ainda mais desarticulam o espaço da aula e da escola seja transformado em um mundo dentro de um mundo dentro de um mundo… O desafio deste trabalho é exatamente saber perceber que sempre há ar dentro de um copo que pensamos estar vazio , ou que num rosto sombrio sempre devemos lembrar que ele está cheio de dor… mas isso é somente a metade da verdade. Se assim pensamos, assim atuaremos com essas crianças, e as dificuldades das mesmas passarão a ser somente metade da verdade, a outra é que o resgate é possível e nesse momento o lúdico entra como uma opção de trabalho e de reflexão.

Referências bibliográficas

COLI, J (1991). O que é arte. São Paulo: Brasiliense

FISCHER, E. (2002) Necessidade da arte. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

MAIA, M.V.C.M. (2007) “Rios sem discurso”: reflexões sobre a agressividade da infância na contemporaneidade. São Paulo: Vetor.

WINNICOTT, D. W. (1975) O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, RJ: Imago.

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Este trabalho foi apresentado na Semana de Pedagogia UFRJ e tem também como autores três participantes da pesquisa coordenada pela Prof. Maria Vitoria C.M.Maia (UFRJ): Simone Ribeiro (UFRJ), Camilla E. Silva(UFRJ)  e Shelle Cristine Goldemberg de Araújo (UFRJ)

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