"….inspire e imagine que você está levando para dentro de seu corpo saúde, tranqüilidade e paz. Expire e imagine que você elimina tensão, doenças e tensões".
Foi pensando nessa frase freqüentemente usada em processos de relaxamento é que me ocorreu escrever sobre a asma. A asma é uma das doenças que sempre serviu de exemplo claro para as correlações psicossomáticas ainda que só 4% dos médicos acreditem na influência dos fatores emocionais no processo inflamatório. O que é a asma?Um ataque de falta de ar com uma expiração sibilante. Existe um estreitamento dos pequenos brônquios e bronquíolos que através de uma contração da musculatura lisa pode causar o prurido inflamatório das vias aéreas. O ataque de asma é sentido pelo paciente como um sufocamento que coloca em risco sua vida. Então ele luta deseperadamente pelo ar.
É muito comum você ouvir as mães dizerem que diante de uma situação de tensão seus filhos tiveram uma crise asmática. Os médicos pediatras devem ter inúmeras histórias para contar sobre esse assunto. Calcula-se que o componente emocional é o principal responsável pelo insucesso dos médicos que tratam de pacientes asmáticos. Talvez por isso é que tenhamos tantos asmáticos crônicos e sem tratamento psicológico que tem nas alterações emocionais os desencadeantes das crises. Entretanto sabe-se que a medicina tradicional define a asma como um evento físico onde não se reconhecem componentes não orgânicos (não seriam as emoções, mediações químicas puras, orgânicas?). E sendo assim, muitos médicos não acreditam que os fatores emocionais e psicológicos influam na doença. Mas as mamães sabem que seus filhos ficam com crises de asma sempre após um episódio desagradável ou tenso em família ou com amiguinhos.
Vamos ver antes de continuar o que Rudiger Dahlke e Thorwald Dethelefsen tem a dizer sobre a respiração:
" _ A respiração é um processo de troca pois implica em dar e receber. A respiração nos mantém em contato obrigatório com o mundo, traz uma parte do mundo até nós e nos impossibilita do total isolamento. Quando nascemos, logo após termos abandonado o útero materno, encerramos esse período simbiótico com a respiração: é o primeiro passo em direção à individuação, é nosso primeiro exercício solitário. É basicamente pela respiração que estamos ligados a tudo que existe à nossa volta."
No primeiro número da REDEPSI, falamos da PELE. Pois é, tal como as doenças da pele, a respiração está ligada aos mesmos problemas de personalidade: contato, toque e relacionamento. Por trás do espasmo da expiração, que é o que acontece com a pessoa asmática, pode-se antever a dificuldade de estabelecer contatos mais próximos. Alguns autores de psicossomática atribuem as dificuldades respiratórias ao medo de dar os primeiros passos rumo à liberdade e à independência, ao medo de dar e receber. Algumas teorias dão conta de que a asma e a ausência emocional materna tem estreita correlação. Para as pessoas asmáticas, a liberdade traz uma angústia relacionada ao desconhecido que eles tanto temem.
Dos asmáticos que conheci e tratei, observei que eram pessoas que tinham um profundo desejo de ficar isoladas. Viviam enclausuradas e encapsuladas, mesmo quando se relacionavam com alguém. Alguns encerravam sua vida sexual ainda muito jovens sob alegação de que "não tinham mais idade para sexo". Tinham dificuldade de dizer as coisas às claras e sempre tinham inclinações para liderar as conversas e dar opiniões. Quando tais opiniões são rejeitadas, esses pacientes ficam ressentidos. Mas negam que tenham qualquer desejo de poder. O asmático é predominantemente um intelectual e cria uma representação fictícia da vida que será sempre mais satisfatória do que a realidade objetiva. Entretanto quando a realidade se mostra, o asmático sofre duramente a perda do sonho. Tem uma preocupação exagerada com as formas, com a ética e com a moral. Coexistindo num mesmo movimento estão o desejo de poder e o sentimento de inferioridade, impotência e desamparo. Era muito comum que pacientes asmáticos ficassem procurando nos comentários alheios coisas que os desvalorizassem ou diminuíssem. A cada revés da vida tinham uma boa frase para ajudá-los a ter a sensação de que não haviam sofrido tanto e nem tinham sido pegos de surpresa.
Outra característica que é atribuída aos asmáticos é sua dificuldade em lidar com o lado sombrio da vida. Isso revela-se no fato de exigirem tudo limpo, claro. Gostam de ar puro, limpeza rigorosa e não gostam de animais ou pessoas fumando à sua volta. São controladores incorrigíveis e difíceis de lidar. Muitas vezes são tiranos que controlam e chantageiam todos à sua volta com sua doença.
Talvez a forma mais eficiente de tratamento para pessoas asmáticas seja começar a mostrar-lhes o seu grande anseio por amor, pois é pelo fato de desejarem ser amadas com tanta força que inspiram tanto ar. Precisam então aprender a amar para poderem aprender a expirar, dar de volta. É preciso direcionar a psicoterapia sempre no sentido de ajudá-los a perceber de forma honesta suas limitações e dificuldades, sua angústia, sua ganância pelo poder e sua inferioridade. Quando tais pacientes começam a se dar conta de seus próprios medos e a lidar com eles, podem começar a explorar o mundo de forma diferente e surpreendente. Cessarão de evitar as áreas que assustam e com alguma ajuda poderão enfrentá-las até que se tornem desprovidas de dúvidas e mistérios. É necessário que consigam ter uma relação completa com a vida, ou seja, aceitar o que é bom e ruim, o que é feio e o que é bonito, o ódio e o amor, para poder integrar de forma eficiente a sua personalidade.