No entanto, para a Psicanálise a obesidade só se classifica como um sintoma, a partir do momento que incomoda ao próprio sujeito, do contrário, não. “Comer somente o necessário” está na contramão da programação genética humana, quando pensamos que descendemos de uma civilização primitiva, em que a regra máxima era comer, armazenar energia, para garantir a sobrevivência até a próxima oportunidade de refeição. É muito importante explicar que traçar o vínculo acima não deve servir para legitimar a compulsão pela comida, mas sim para reforçar que a luta contra a compulsão deve ser intensificada porque estamos enfrentando, inclusive nossa própria natureza, obsoleta para nossa realidade, já que hoje o alimento está disponível em maior escala que na pré-história dos antepassados. A grande questão para quem sofre deste tipo de compulsão, ou seja, para quem sente a necessidade “desnecessária” de comer, é perguntar-se: por que estou comendo, o que estou tentando saciar, já que a fome não é? Parece uma disposição óbvia e por isto ineficaz, e admito que para uma grande maioria, de fato é.
Mas questionar-se é o mais importante e o primeiro passo para a compreensão deste “sintoma psicológico”. Dentre as respostas sob a ótica Psicanalítica podem estar (alguns exemplos hipotéticos): – um mecanismo de defesa, criado a partir de um evento traumático, quando há a necessidade de se pôr a margem desta sociedade, a negação em fazer parte dela;- autopunição, usar o próprio corpo como forma de castigar-se inconscientemente por algo;- tentativa de saciar uma fome não orgânica, mas emocional. Comer para tentar preencher um “espaço vazio”;- comer como forma de prazer, porque outras formas são ineficazes ou inexistentes;- conflito inconsciente, arraigado a partir da infância, já que quando se é bebê ou até poucos anos de idade, ser “gordinho” é bonito e “sinal de saúde”, de repente, deixa de ser, e vêm os regimes. Isto, além de ilógico, é cruel. Um exemplo prático, dos exemplos acima é: quando se faz uma cirurgia para redução de estômago, é imprescindível o acompanhamento psicológico, não só para ajudar na elaboração (idéia de si mesmo) da nova forma física, mas para impedir que outros transtornos tenham início.
Se, comer constitui a principal fonte de prazer e ela é inibida, isto pode resultar numa inexplicável depressão. Bem, as abordagens acima, são apenas para ilustrar como os fatores psicoemocionais podem influenciar, quando o excesso de peso é indesejado pelo sujeito. Diferentemente dos preceitos sociais, a Psicanálise não classifica padrões e nem julga modelos, ela busca fazer com que o sujeito tome contato, identifique-se e harmonize-se com seus próprios desejos, neste caso, sejam eles: “gordo ou magro”.
Lindalva Moraes
Psicanalista/ Psicoterapeuta