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Dicionário

MONIZ, Egas (1874-1955)

Antônio Caetano de Abreu Freire nasceu a 29 de novembro de 1874 em Avanca (Portugal). Foi durante sua vida de estudante que esco­lheu o nome que se tornaria célebre no mun­do médico. Militante antimonarquista, publi­cou panfletos políticos sob o pseudônimo de Egas Moniz, patriota português, preceptor do rei Afonso Henriques I, que em 1147 libertou Lisboa da ocupação moura. Diplomado pela Faculdade de Medicina de Coimbra em 1902, foi aperfeiçoar-se em neurologia com Pitres em Bordeaux, e depois em Paris com Babins­ki, Pierre Marie e Déjerine, e em 1911 foi nomeado para a cátedra criada em Lisboa para essa disciplina. Mas a monarquia acaba­va de ser derrubada. A jovem república por­tuguesa se lembrou do seu ex-militante. Egas Moniz, eleito deputado, seria ministro dos Negócios Estrangeiros, embaixador em Ma­dri e representaria o seu país quando da Con­ferência de Paz em 1918. Mas não esqueceu a medicina. Publicou em 1915 um artigo sobre "As bases da psicanálise", em 1917 uma obra sobre A neurologia de guerra e em 1925 um estudo sobre O padre Faria, uma história do hipnotismo.

Em 1926, a república portuguesa deu lu­gar à ditadura. A vida política de Egas Moniz terminou, mas a neurologia lhe interessava muito, então, pelas técnicas de investigação radiológica do sistema nervoso. Em 1918, o americano W. Dandy imaginou a ventriculo­grafia gasosa, em 1923 o francês J. Sicard elaborou a exploração da medula espinhal por contraste iodado. Egas Moniz se consa­graria à visualização dos vasos cerebrais e em 1927 publicou na Revista Neurológica, "A encefalografia arterial, sua importância na localização dos tumores cerebrais". Quatro anos depois, aplicou seu método ao estudo dos vasos pulmonares.

Mas o que o distingue na história da psi­quiatria foi – excetuando-se as tentativas do suíço Burkchardt no século XIX – a pater­nidade do que se tomaria a psicocirurgia.

Em 1935, o Congresso Internacional de Neurologia de Londres dedicou um impor­tante relatório à fisiopatologia dos lobos frontais e às suas relações com os processos emocionais. Egas Moniz, impressionado com o fato de que em alguns doentes mentais a atividade psíquica era reduzida a preocupa­ções que dominavam todas as outras, come­çou a pensar que um certo número de desor­dens psiquiátricas estaria relacionado à cons­tituição de ligações interneuronais patologi­camente estáveis, que ele chamou de agru­pamentos estabelecidos. Era preciso, pois tentar romper essas conexões anormais. Pen­sou primeiramente em uma injeção de álcool absoluto nos lobos pré-frontais, depois na seção cirúrgica das fibras nervosas que ligam esses lobos às estruturas encefálicas centrais. A idéia da leucotomia frontal nascera. A pri­meira intervenção desse tipo foi realizada em 1935, por iniciativa de Egas Moniz, pelo neurocirurgião P. Almeida Lima, e, durante a sessão do dia 5 de março de 1936 da Socie­dade de Neurologia de Paris, os dois autores expuseram os seus primeiros resultados, que retomaram no mesmo ano em uma volumosa obra publicada em francês por Masson, Ten­tativas operatórias no tratamento de certas psicoses. Durante cerca de vinte anos, a psi­cocirurgia, com muitas variantes técnicas, te­ria bastante voga. Em 1949, essa descoberta, acrescentando-se à da angiografia cerebral, valeria o prêmio Nobel de fisiologia e de medi­cina a Antônio Caetano de Egas Moniz, que, espírito sempre curioso e eclético, publicou em 1942 uma História das cartas de jogar. Morreu em Lisboa a 13 de dezembro de 1955.

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